Eunuco tá voltando a ser moda (segundo fragmento inédito da série sobre BDSM)

Fantasia é a chave, sacou? E nada a ver roupa, coisa que costumam confundir muito. Cê pode tá de pijama, pelada ou naquele figurino de látex coladérrimo, boca-de-se-fuder, corpo todinho coberto, a mulher-gato em pessoa, mas pra dominação real, rá!, o que importa é se cê vai trazer ele no cabresto, rédea curta, ou se ele ali de coleira, algema e mais sei nem o quê, ainda assim a cena quem vai conduzir é ele. Mona, pres'tenção: dominatrix dominatrix mesmo, tem apenas dois jeitos de você ser. Uma é a que faz por gosto, nada de aqüé envolvido ou, no máximo, ela exigindo uns tributinhos, mimos, pra mostrar que pode. Dinheiro é poder, é o que dizem, não? Então. Mas, quando ele vira o foco, o povo aquele mais quadradão, litúrgico que chama, aí eles torcem o nariz. Domme desse jeito, você é que se adequa a ela. Cê busca o perfil dela num saite tipo o Fetlife, um Facebook só de fetiche, conhece? O que dá pra encontrar ali, socorro... é um grupo pior que o outro. Os nomes, só pelos nomes cê já vê, vê e já se desespera. É lixo que quer cortar o pau fora, cortar, sim, cortar, shak! Se existe? Ô, se existe. E eu já num vi um assim? Vi até ele sem o bilau gozar! Ele apertando as bolinhas (isso ele não cortou, cortou foi só o bilau), enquanto eu xingava ele, humilhava, dizia as coisas mais absurdas (eles amam!), juro que foi só isso e o leite jorrava ali do buraquinho. Se arrependeu nada não, ele adorava se exibir assim. Eunuco tá voltando a ser moda, mulher, e nenhum deles é trans, nada a ver, só não querem mais balangando ali embaixo o piupiu. Tem os que querem tirar só o saco (dizem que vem uma paz depois, não tem mais aquele tesão, as coisas malucas que eles têm vontade — tipo esse bloqueador que cê toma, só que, aí, ai, aí, é um pouquinho mais permanente) ou, então, querem se livrar é logo dos dois, ficar sem nadinha, neca de pitibiriba. Pencas sonham com isso, mas coragem que é bom, poucos. Ainda bem, né? Até porque é difícil de realizar, imagina achar um médico doido o suficiente ou um ser que, aí, pelo menos não te deixe morto! Como não tem como, apelam pra imaginação. A fantasia que eu te falei, lembra? Vai ter aquela conversa prévia entre vocês dois, se possível por escrito, pra ficar anotadinho tudo o que ele te disser. A imaginação do coiso ali é pra você sondar, ver aonde é que ela chega. E joga sempre um verde. Se ele te disser "a", manda um "a ao quadrado" só pra ver a reação, porque eles não conseguem dizer de cara o que querem, nananão, e o sonho deles é irem dando umas pistas e verem você pegar a deixa e completar sozinha a fantasia deles. Quando isso acontece, eles ficam loucos e, depois de um tempo, é ele começar a falar e você já cata na hora aonde é que essa conversa acaba. Mas isso é o tipo dois de dominatrix, o meu, aquela que até gosta da coisa, opa, mas nunca a ponto de fazer barato ou, pior, de graça. Eu, o dia que tiver a vida resolvida, quem sabe não brinco só assim, sem cobrar. Até lá, limpar a conta desses miseráveis é o que mais me excita. É fetiche também, oras! E cada vez vem mais lixo me dizer que gosta. Mas a maioria, infelizmente, é papo. O cara quer ser moneislêive, mas pergunta quanto que ele tem na conta? Conta, que conta? Dai-me paciência, Senhor.

(continua...)

Coisas inesperadas que ela testemunhou, como lidar com submissos e aprender a ler as entrelinhas do que eles estão dizendo, orientações sobre a condução de uma sessão, erros que não se podem cometer, prazeres e tragédias que essas práticas lhe proporcionaram, eis alguns dos temas que a nova série irá abordar. E, pra quem perdeu os fragmentos da série anterior, seguem os links:

- Primeiro fragmento: "Travesti tomando tê"

- Segundo fragmento: "Golden shower"

- Terceiro fragmento: "Travesti Radioativa"

- Quarto fragmento: "Meu lado submissa falando"

- Quinto fragmento: "Vou te tirar dessa vida"