A diferença entre Dominatrix e Dominatruque (sexto fragmento inédito do meu monólogo em pajubá)

Simona introduz nas artes da dominação, dando dicas de como tratar um submisso.

BuzzShe

Ouça aqui:

Foto de minha querida amiga, a Dominatrix babadeira Giulia Sforza

Tá, cê quer saber como foi, então pronto. Mas, ó, se prepara, porque cê tem cara de que fica chocada tropo fácile. Ou eu tou enganada? Ah, é? Rá! Então, lá vai. Tá ouvindo? Mas tá me ouvindo bem? Oquêi, oquêi. Bom, ele sentou assim bem na minha frente, chão, lógico, e já foi descalçando a minha bota. Bota mara que eu tava aquele dia, dessas que cê fica ali meia hora só pra conseguir pôr, mas, quando põe, meu pai, é quase como se estendessem um tapeto rosso pro desfile da deusa. É desfile onde quer que ela esteja. Bico fino, preta, até o joelho ela vai e tem que amarrar todinha cada vez que põe, pensa o trabalhão. E eu tou reclamando? Eu nem ele, até porque o cheirinho que ela deixa no pé, suadinho, o gosto também, mesmo que seja eu só pôr, entrar no uber e ir encontrá o cabrito, tipo, uma horinha mòrorlés, já deixa do jeito que eles gostam (a não ser que sejam os amantes de aromas e sabores mais, digamos assim, fuertes, aí é qüêl'altro o calçado que eu uso — tenho pra todos os gostos, chérie). Antes, era só pedirem uma coisa assim mais estrana e eu já surtava, "fora daqui!", falava sim, ô se falava, e botava pra correr, desligava na cara, dava ainda cada xingo, mas dopo tuto questo tempo di putaria, a única saída era eu entender que o ser humano é essa coisa aí doida varrida mesmo, sem qualquer salvação. E já que eu era puta pra fazer dinheiro, então bora fazer dinheiro. Comprei na Itália essa bota, quer dizer, foi comprada pra mim lá, regalo de um cliente que ficou até meio tantã volendo esposar-me. Não, não é o mesmo que eu tou te contando aqui, é altro. Tá, esse cê num quer saber, mas e se for essa, justo essa a história que eu quiser contar? Ah lá ela achando que eu tô de equê. Bicha, se isso cê já achar que é equê, nem compensa eu te contar o resto, porque a senhora, aí, cai pa trás bexta. Talvez seja até bom cê pensar mesmo assim, a ignorância é uma bênção. Já eu, que conheço fundo a alma do ser humano, eu que já vi, fui testemunha de tudo o que tem de mais podre ali, eu não posso me dar esse luxo. Fico é feliz per te. Deixa, então, pra depois eu te contar a fortuna que isso não custou. Em euro sim, bem o comecinho, a gente ainda com a cabeça em lira, aprendendo, e convertendo hoje pro real, ishe, o total dá uma cefaleia só de imaginar. Inda mais porque a era das vacas gordas foi-se, né? Aí não fosse o apartamento que eu comprei pra minha mãe e uns trocados que investi na bolsa, tava era passando fome. O corpo, ó aqui, continua nos trinques: eu me cuido bem, a boa alimentação, malhar não malho, mas bato perna que é uma beleza, sempre num shopping pra umas comprinhas... exercício, então, é o que não falta. Mas perna, perna é que você queria, né? Tá. De volta pra quina da cama. Eu lá sentada, ele desamarrando a bota, mas nananão, nada de encostar na minha preciosa pele, só onde eu expressamente mandar. Se deixar, eles abusam, saem tocando em você com aquelas mãos imundas, daí querem te lamber, chupar, lambuzar, a baba tóxica daquelas bocas de esgoto te infectando com sei lá quantas mil doenças. Mulher, ôlho! Tem que pôr limite nesses lixos, e é limite o que eles mais gostam. Pensa que eles querem chegar e se esbaldar, fazer o que bem entendem? Pff! Só mostra que cê non ai capito niente, cê e a maioria aí dessas trucosas. Pencas de anúncio delas se dizendo a dominatrix babadeira, mas, na hora, em vez de dominatrix é uma bela de uma dominatruque, isso sim. Primeira coisa é dizer "olha sempre pro chão, esquiavo," e pá!, bate o pezinho de leve na cara dele, pra ele entender que cê não tá brincando. Se ele tentar reclamar, manda logo um "shiu!, só fala se eu te der permissão". Tem que ficar tudo claro. Ele é o inferior ali, quer ser meu esquiavo nas três horas que agendou comigo, certo? Então, cuidado com o que deseja, é tudo o que eu tenho a dizer. E não pra ele se arrepender, sair dali traumatizado depois. Não, pensa isso como um prêmio. Essas coisas de dominação, ou a coisa te dá um puta tesão ou melhor nem descer pro plêi, mona. Eu amo fare la padrona! Bom, bota tirada, agora é mãozinha pra trás e brinca de esfregar o pé na carona inteira dele, "isso, cheira, se delicia, mas sem a língua", língua só onde, e quando, eu mandar. A ideia é deixar o cheiro do seu pé ali impregnado, problema dele depois, se tiver que ir pro trabalho ou voltar pra esposinha amada. E ele pelado, né? Sentadinho no chão, cachorrinho obediente, as mãozinhas pra trás sempre e o joão-bobo ali, duro, duro. Trata ele como lixo, ó lá o joão-bobo duro, duro, mas se fizer a linha namorada, carinho, uma coisa mais amorosa, aí ele murcha na hora. A hora de ter dó é depois só, e ainda assim talvez, porque tem os que nem quando a sessão acaba querem que você saia da personagem. Na verdade, querem acreditar que ali não tem personagem nenhum: a fantasia é que aquilo que você foi seja exatamente você.


(Continua na última coluna do mês que vem.)

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Pra quem perdeu os outros fragmentos:

- Primeiro fragmento: "Travesti tomando tê"

- Segundo fragmento: "Golden shower"

- Terceiro fragmento: "Travesti Radioativa"

- Quarto fragmento: "Meu lado submissa falando"

- Quinto fragmento: "Vou te tirar dessa vida"

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