Vamos falar sobre timidez compulsória e a dificuldade de socializar?

Elas sempre estiveram diretamente conectadas à tesoura social que podou minhas atitudes por anos.

Sempre me considerei uma pessoa tímida. Lembro de não me encaixar completamente em rodas de conversa, entrava e saia de cabeça baixa, rezava para que minha presença não fosse notada.

Isso não me impedia de realizar as atividades escolares, na verdade sempre fui um dos melhores alunos da sala. Um caminho quase natural para pessoas que se isolam do restante do mundo por não se sentirem pertencentes a canto nenhum.

O problema estava em apresentar trabalhos na frente da turma, socializar com outros colegas, existir para além do meu escudo protetor. 

Fato é que as pessoas descobriram que eu era homossexual antes mesmo que eu soubesse da existência dessa palavra. 

Desde cedo criticaram o meu jeito natural de andar, falar, dançar, cruzar os braços, cruzar as pernas e qualquer outra reação ou escolha legítima e orgânica que flertasse minimamente com o feminino. 

Nunca foi timidez.

Hoje entendo que minha dificuldade sempre esteve diretamente conectada à tesoura social que podou minhas atitudes por anos.

Nunca tive timidez ao falar. A minha fala fora apontada como algo a ser corrigido vezes o suficiente para que eu deixasse de usá-la. E por aí vai. 

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Esse sentimento impregna e nos persegue por mais tempo do que poderíamos imaginar.

É curioso lembrar desse passado, não tão remoto, afinal de contas, hoje em dia sou uma drag queen. A ideia de passar despercebida definitivamente não me convém mais, muitíssimo pelo contrário; pensem o que quiserem pensar, falem até onde puderem falar, mas pensem e falem a meu respeito. 

Tomei gosto pela provocação. 

Tomei gosto pelas reações que minha presença gera nas pessoas, não importa se estou montada ou desmontada. 

Você não será indiferente a mim. Ainda que seja um olhar de repulsa, será correspondido à altura e o que antes me brecava de ser quem sou, hoje me guia em direção à gloria. 

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