Nunca tivemos tanta preguiça em nos relacionar com outras pessoas

Não é só você que está sem forças até pra responder mensagens no Zap.

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Estamos exaustos. Isso não é novidade. E, além de todos os outros problemas, estamos precisando também driblar o tédio social. Porque, depois de quase um ano e meio de pandemia, trancafiados em casa e saindo na rua só para fazer coisas básicas, perdemos até mesmo a vontade de interagir nas redes sociais ou de responder aquele "feliz aniversário" que enviaram no Zap. É como se a nossa preguiça fosse maior do que o amor ou a saudade que sentimos. As pessoas ficaram desinteressantes ou nós que estamos chatos demais?

Esse ranço tem motivo. De repente, passamos a fazer tudo online: de compra de mercado até reunião de trabalho. Ninguém aguenta mais olhar para telas e isso, inclusive, já ganhou até nome, "Fadiga de Zoom".

"Tudo isso vai gerando um desgaste no nosso psicológico e a última coisa que queremos é interagir nas redes sociais no final de um longo dia trabalhando na frente do computador", explica Alexander Bez, psicólogo especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM) e especialista em ansiedade e síndrome do pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA).

"O distanciamento social continua nos afetando no lado emocional porque somos seres fundamentalmente sociáveis, ou seja, é uma condição da nossa existência estar frequentemente em contato com outras pessoas."

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O duro é que a maior parte das nossas relações afetivas só podem acontecer online. Não tem mais churrasco, festa de aniversário, não tem abraço, beijo, pegação, DR de amigo com olho no olho. Nada. Fomos privados de tudo. E isso certamente afeta os nossos poucos contatos físicos.

O desenvolvedor de software Thiago Mansur, 27, conta que sempre foi um cara sociável, de puxar papo e fazer amizade fácil. "Mas há um ano e meio vendo só as pessoas da minha família me deixou limitado", fala. Dia desses ele foi interagir com o vizinho e bateu uma tela azul. "Gaguejei pra formular algumas frases, coisa que nunca aconteceu antes. Acho que a falta de prática afetou outras aptidões mentais."

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Pra quem é mais novo a situação é ainda pior. Além de não poder curtir a vida fora de casa, tem também a necessidade de estar online o tempo todo. O psicólogo Alexander enfatiza o FOMO (fear of missing out), sentimento de estar de fora, perdendo algo. "Já era muito comum entre os jovens, especialmente por conta das redes sociais, que mostram tudo 24 horas por dia. Com a pandemia, esse sentimento ganhou mais força ainda", diz.

E a pergunta que fica é: o que devemos fazer? Estamos exaustos da vida online, mas, por enquanto, ela é a única maneira capaz de manter nossos laços afetivos com muitas pessoas importantes. "Se reinventar e usar a criatividade é sempre um ótimo jeito de driblar esse 'ranço' de interagir com outras pessoas", propõe o psicólogo, que sugere uma ligação normal em vez de fazer uma chamada por vídeo, por exemplo. "É importante sempre pensar em outras estratégias para deixar as interações virtuais menos parecidas com as reuniões que fazemos no trabalho."

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