12 pacientes contam o que gostariam que você soubesse sobre cirurgia bariátrica

"Eu fico muito triste de pensar que eu não precisaria ter passado por uma cirurgia se não houvesse tanta gordofobia na própria medicina."

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Perguntamos para pacientes bariátricos o que eles gostariam de compartilhar com as pessoas sobre sua cirurgia. Aqui estão os melhores relatos.

O texto pode ter sido editado para concisão e clareza.

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1. "Eu senti que retomei as rédeas da minha vida, no sentido de que pude novamente contar com meu corpo para fazer qualquer coisa que desejasse."

"Eu esperava que iria emagrecer rápido (e realmente aconteceu), mas não esperava ter reganho parcial de peso (o que também aconteceu, infelizmente). Eu sabia que poderia ficar anêmica e que teria que repor as vitaminas para sempre. Acho que não tive muitas surpresas porque passei por um tratamento psicológico específico para a cirurgia e também fui a várias palestras e conheci a experiência de gente que já havia feito.

A bariátrica foi decisiva na minha vida. Eu não tinha mais mobilidade e por 10 anos havia tentado de tudo possível e imaginável para perder peso. Eu senti que retomei as rédeas da minha vida, no sentido de que pude novamente contar com meu corpo para fazer qualquer coisa que desejasse sem dores ou outros problemas." - Milena Castro, 34 anos

2. "A bariátrica é só um dos fatores, quem manda é a cabeça."

"Eu fiz a cirugia em agosto de 2011. Não havia nenhuma doença associada como diabetes ou pressão alta, mas eu tinha uma hérnia e uma úlcera, além de gordura no fígado e cansaço extremo. Eu esperava conseguir eliminar 65 kg e com isso ser mais feliz. Eu imaginava que conseguiria ir para a academia, que seria mais saudável e que compraria várias roupas como resultado da cirurgia. Mas a verdade é que minha depressão aumentou por causa da falta de nutrientes, eu continuo odiando academia, emagreci 40 kg e já engordei 20 deles. Resultado: a bariátrica é só um dos fatores, quem manda é a cabeça. Eu não me arrependo de ter feito, mas recomendo a todos que esgotem os esforços antes de fazer. Façam terapia, ressignifiquem a comida, busquem a origem do problema. A bariátrica simplesmente não faz milagre." - Manuella Tavares, 28 anos

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3. "Eu fico muito triste de pensar que eu não precisaria ter passado por uma cirurgia se não houvesse tanta gordofobia na própria medicina."

"É preciso avaliar muito bem quais os motivos reais para a sua cirurgia. Eu fui convencida de que era pela minha saúde, mas hoje eu tenho consciência de que a pressão que sofri de pessoas do meu círculo social e de médicos diziam respeito ao meu tamanho, não ao meu colesterol alto.

As coisas que eu esperava que acontecessem de fato aconteceram: parei de sofrer gordofobia - o tratamento que eu recebia antes da cirurgia era MUITO diferente do depois de emagrecer, mas isso não me tornou uma pessoa mais feliz. Eu perdi 50% dos fios de cabelo e tive síndrome de dumping. Porém a possibilidade que nunca foi nem mencionada foi exatamente a pior consequência para mim: perdi três dentes por causa da baixa absorção de cálcio, que foi o único suplemento que não me receitaram. Como tive perda óssea, o dentista está encontrando dificuldades para realizar implantes, não é somente uma questão estética.

Por essas e outras, a vida mudou completamente depois da cirurgia. Eu me transformei totalmente, me abri a uma nova relação comigo mesma. Mas eu fico muito triste de pensar que eu não precisaria ter passado por uma cirurgia se não houvesse tanta gordofobia na própria medicina. Se eu não tivesse também passado toda a minha vida desde a adolescência sendo constantemente atacada pelo meu corpo, talvez eu tivesse buscado outras soluções. Eu queria ter naquela época o entendimento da situação que tenho hoje, decerto não teria operado. Ao mesmo tempo, eu só adquiri essa consciência por causa de toda a imersão em mim mesma que fiz após a cirurgia. Infelizmente não há como saber, a cirurgia faz parte da minha história." - Erica Marques, 37 anos

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4. "Vi como o mundo é injusto e como as pessoas são preconceituosas com quem tem o corpo gordo."

"A recomendação para a minha cirurgia em 2011 foi por saúde mesmo, pois eu era obesa mórbida. Eu esperava que não pudesse comer em grandes quantidades nunca mais, mas hoje em dia eu como de tudo e em quantidades moderadas (muito para quem fez uma bariátrica e pouco para quem não tem a cirurgia). O estômago acaba se adaptando e até crescendo de volta, por isso o risco de engordar tudo de novo.

Eu emagreci 65 kg e estive dos dois lados da moeda: o magro e o gordo. Vi como o mundo é injusto e como as pessoas são preconceituosas com quem tem o corpo gordo. Hoje consigo comprar roupas em lojas no shopping e a autoestima melhorou demais. Passei a cuidar mais de mim e a me preocupar com a minha alimentação. Em todos esses anos engordei 22 kg e tive que voltar a emagrecer como uma pessoa sem bariátrica, com exercícios físicos e dieta.

Emagrecer é ótimo por diversas razões, mas seus problemas não irão se resolver com números a menos na balança. Você tem que se aceitar e se amar independente disso." - Giovanna, 29 anos

5. "Para mim o impacto da bariátrica foi o melhor possível, com a volta da autoestima, controle maior ao me alimentar e disposição para fazer exercícios."

"Eu fiz a cirurgia em 2015 em busca de uma mudança de metabolismo e para reduzir as chances de diabetes por ter casos na família e já ter pré-diabetes controlada por remédios de uso contínuo. De fato, eu perdi peso e meu açúcar está controlado, mas o que me incomoda é o fato de ter os famosos dumps e dificuldade de digestão de certos alimentos, inclusive lactose.

Para mim o impacto da bariátrica foi o melhor possível, com a volta da autoestima, controle maior ao me alimentar e disposição para fazer exercícios. Mas para alguém que está pensando em fazer a cirurgia eu perguntaria: tem certeza que quer mudar seus hábitos alimentares e fazer exercício? Você irá emagrecer rapidamente, mas manter seu corpo e rotina só depende de você." - Juliana, 30 anos

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6. "Achei que a cirurgia mudaria meus hábitos por completo e que não engordaria mais, que seria fácil manter uma rotina saudável."

"Sempre fui obesa, comecei a engordar com 5 anos e tenho histórico de obesidade na família. Minha infância e adolescência inteira foi indo em médicos e nutricionistas tentando emagrecer e nunca consegui. Fazer a bariátrica foi uma decisão minha, depois de muitas frustrações.

Achei que iria emagrecer rápido e que ficaria super magra. De fato minha qualidade de vida melhorou muito, tenho mais disposição e não tenho nenhum problema de saúde. Porém meu emagrecimento foi lento. Emagreci 48 kg com muito esforço, seguindo a dieta à risca e praticando muita atividade física, mas não atingi minha meta que era chegar nos 62 kg (meu mínimo foi 66). Achei que a cirurgia mudaria meus hábitos por completo e que não engordaria mais, que seria fácil manter uma rotina saudável, mas a verdade é que a cabeça de uma pessoa obesa é traiçoeira, nós sempre tentamos nos sabotar. A obesidade é uma doença que não tem cura, precisamos nos vigiar o tempo inteiro.

A bariátrica foi a melhor escolha que eu fiz na minha vida. Nunca me arrependi.

Ela me ajudou a sair de um casulo, me tornei muito mais comunicativa e descobri que gostava de várias coisas que antes eu deixava de fazer por vergonha e medo do julgamento de outras pessoas. Hoje sou muito mais segura e alegre e não me limito por mais nada por conta do meu corpo, que por sinal está longe de ser perfeito." - Anônima, 25 anos

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7. "A cirurgia só funciona para quem muda de vida mesmo."

"Eu esperava que eu ia emagrecer e nunca mais me preocupar, nem com as doenças, nem com o ganho de peso. Não é bem assim. Eu aprendi que sou obesa - e sempre serei se eu descuidar da minha alimentação. Depois que eu parei de emagrecer, engordei um pouco. Isso me mostrou que engordar é mais do que possível depois da bariátrica, o que me fez mudar DE VERDADE minha mente. Entendi que eu precisava mudar minha alimentação e a forma de comer (mudar muito, no meu caso).

Só que a gente tem que admitir que com a cirurgia mudar a alimentação fica bem mais fácil. Isso porque a gente tem o estômago menor e realmente não cabe tanta comida. Você passa mal, vomita e se sente muito desconfortável. Isso ajuda (não parece, mas ajuda) porque você não quer se sentir mal, então, depois de algumas vezes, você começa a parar. Eu já tive que interromper jantares com amigos porque passei mal. Parece que vou morrer tamanho é o mal-estar. Eu simplesmente não quero me sentir assim nunca mais. Com isso, quem faz bariátrica passa a ter limites. Antes, eu não tinha limite algum porque cabia tudo. Agora, eu sei quando estou chegando num ponto crítico. Com relação às doenças, de fato tudo melhorou. Meus exames são impecáveis. Tomo vitaminas todos os dias e venho me mantendo extremamente saudável. Não sou magérrima, sou saudável. E assim quero ficar.

Eu ainda tenho medo das consequências da cirurgia quando eu envelhecer, mas, até o momento, me sinto ótima e muito mais saudável. Aprendi a comer direito, valorizo a comida de verdade. Tive problemas com meus cabelos (eles caem demais por conta da cirurgia e não voltaram totalmente ao normal) e com meus dentes (quebraram muito...consegui consertá-los, mas tenho medo de quebrar novamente então prefiro ficar longe de alimentos muito duros). Mas no geral, tenho mais disposição, pratico exercícios físicos regularmente, gosto de sair (odiava ir pra praia e agora quero ir sempre), gosto de comprar roupas novamente, não ligo para as imperfeições do meu corpo (elas ainda existem, obviamente) e minha saúde está fantástica. Faria tudo novamente se fosse preciso (espero nunca mais precisar, claro)." - Anônima, 39 anos

8. "Hoje, quase quatro anos depois, eu recuperei dez quilos, mas eu não faço disso um tormento."

"Conheci algumas pessoas que correram atrás de atestado só porque queriam fazer bariátrica por estética. Uma coisa é deixar de comer chocolate no final de semana porque está de dieta. Outra COMPLETAMENTE DIFERENTE é aprender a viver só com copinho de café. Você tem que estar muito preparado pra não pirar, porque seu cérebro é programado pra bater um PF. A primeira fase do pós-operatório é uma verdadeira vitória a cada dia que passa. E você vai enjoar de isotônico e água de côco. No mais, todo cuidado do mundo pra não desenvolver uma anorexia ou ortorexia.

É normal ganhar de volta alguns quilos depois porque você perde muito de uma vez por causa do susto no corpo. Depois que ele se acostuma, seu organismo pode relaxar um pouco, mas nada que alimentação balanceada e atividade física não resolvam. Hoje, quase quatro anos depois da minha dieta, eu recuperei dez quilos. Mas eu não faço disso um tormento porque ainda acho que estou muito melhor do que antes, e muito mais saudável." - Paula Foit, 28 anos

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9. "Eu recuperei a vontade de conquistar coisas, de conhecer gente e lugares novos, de viver de maneira geral."

"Eu tinha várias doenças ligadas à obesidade: gordura no fígado, apneia do sono, refluxo gastroesofágico, predisposição à diabetes, ansiedade, depressão e manchas escuras no corpo. O fato de não dormir bem me impedia de ter energia para malhar e pela ansiedade de estar engordando, eu comia desesperadamente, o que me levava ao refluxo. Ou seja, era um ciclo que depredava minha saúde. A única saída foi a bariátrica.

Eu pensava que jamais conseguiria comer decentemente de novo, que ia vomitar todas as vezes que comesse algo gorduroso, ou que não teria mais tolerância ao álcool e que eu ia viver de sopa. O que aconteceu foi o oposto. Eu evito comer coisas gordurosas pro meu próprio bem e foco em alimentos orgânicos. Mas eu tenho boa tolerância ao álcool, consigo comer comida gordurosa se eu quiser e nada de ruim me acontece. Ou seja, o equilíbrio é a palavra chave para um bariátrico.

Como resultado, TODOS os aspectos da minha vida mudaram: autoconfiança, aparência, saúde (todas as doenças citadas estão curadas - e a ansiedade eu controlo com terapia) e vontade de viver. Eu recuperei a vontade de conquistar coisas, de conhecer gente e lugares novos, de viver de maneira geral." - Leonardo Lopes Olivares, 29 anos

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10. "Depois de muita terapia, percebi que não tenho que perseguir um padrão, mas me alimentar e me exercitar para que o meu corpo alcance o ideal pra mim."

"Todo mundo conhece o amigo do amigo que morreu ou que vive doente, mas casos assim são raríssimos. Dá medo de operar, então pesquise o máximo que puder, participe de grupos de bariátricos e não pule as fases do pré-operatório. Acompanhamento psicológico antes e depois são superimportantes e não se deixe influenciar pelos outros.

A bariátrica mudou completamente minha rotina. A alimentação passou a ser um tópico importante pra mim, assim como atividade física. Hoje eu vejo a vida que a obesidade me roubava, as coisas que eu não conseguia fazer e as experiências de que eu me privava por ser obeso.

Eu levo uma vida normal, como pouco, mas levo uma dieta balanceada e consigo comer de tudo. Depois de muita terapia, percebi que não tenho que perseguir um padrão, mas me alimentar e me exercitar para que o meu corpo alcance o ideal pra mim. Hoje eu não sou sarado, sou magro mesmo, mas tudo bem. Sou saudável e me sinto bem e é isso o que importa." - Gustavo Dias - 30 anos

11. "Eu tinha a cirurgia bariátrica como um escolha de 'preguiçoso'. Até que por recomendação de um médico eu passei a pesquisar sobre o procedimento."

"Com 23 anos eu tive dois inícios de AVC. Sempre tive receio da cirurgia e achava que não era pra mim. Eu tinha a cirurgia bariátrica como um escolha de 'preguiçoso'. Até que por recomendação de um médico eu passei a pesquisar sobre o procedimento, marquei uma consulta com um cirurgião na minha cidade e, um ano depois (demorei um tempo para me decidir), fiz a cirurgia.

Eu esperava emagrecer sim, mas não tão rápido como foi. A previsão era de eliminar 60 kg em dois anos. Com um ano de cirurgia eu já tinha perdido tudo isso, sendo que operei com 140 kg.

Sem dúvida alguma, a bariátrica transformou a minha vida. Depois da cirurgia a minha vontade de viver aumentou e hoje em dia quero aproveitar as oportunidades que esse mundo nos oferece. Após o procedimento eu passei a ter mais ânimo, disposição e força de vontade para correr atrás dos meus objetivos." - João Guilherme Xavier, 26 anos

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12. "Às vezes a gente acha que o problema é o nosso corpo, sendo que, na verdade, ele está na nossa cabeça - e ela não pode ser operada."

"Eu esperava que seria difícil, mas não tanto quanto realmente foi. Comer é um hábito enraizado e a gente não imagina o tanto que faz falta, mesmo sem poder comer. Enquanto todo mundo come, você está tomando líquido. Mesmo que seja algo que você não goste, dá vontade de comer. Após um mês de dieta líquida, meu primeiro banquete foi uma colher de purê de batata e uma colher de frango triturado. Dos deuses! Agradeci cada garfada daquela papa e esse processo me ajudou muito a valorizar o alimento.

Às vezes a gente acha que o problema é o nosso corpo, sendo que, na verdade, ele está na nossa cabeça - e ela não pode ser operada. Por isso é importante estar cercado de bons profissionais e lembrar que é só uma fase e que não vale a pena botar tudo a perder por causa de uma vontade momentânea." - Camila Castro, 26 anos

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