Você precisa conhecer Itsa Gonçalves, um artista brasileiro no show "Bazzar", do Cirque du Soleil

O espetáculo estreia no Rio de Janeiro nesta quinta (8).

Entre os 33 artistas que sobem ao palco de "Bazzar", espetáculo do Cirque du Soleil que chega ao Rio de Janeiro nesta quinta (8), há um dançarino brasileiro: Itsa Gonçalves, de 23 anos, vindo de Minas Gerais direto para a turnê do espetáculo, que já passou por países como Emirados Árabes e Catar. Em São Paulo, onde ficou mais de um mês em cartaz, o show realizou sua apresentação de número 300. 

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Para chegar ao Cirque, Itsa fez uma audição em São Paulo em 2017. "Juntei dinheiro, pedi uma folga no serviço e fui", diz ele, em entrevista para o BuzzFeed Brasil.

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Foram 5 meses até ser chamado para fazer parte da companhia, e mais três meses até embarcar de fato para Montreal, no Canadá, onde fica a sede - e onde estava sendo desenvolvido "Bazzar". 

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Ele começou a dançar em competições de breaking, e hoje, no Cirque, mostra sua habilidade e domínio da modalidade de dança. 

"Não tem como não ficar ansioso, se apresentar para mais de duas mil pessoas, e carregar um nome tão grande, mas existe um acolhimento, um carinho, todo dia antes de bater o ponto a gente tem que dizer se estamos bem, como está nosso corpo, nossa cabeça. É um protocolo para que eu não esteja despreparado no palco. Nas batalhas de dança sou eu comigo mesmo. Mas a gente não é máquina, né?" 

A mudança de vida foi grande quando Itsa foi aprovado para integrar o elenco do Cirque ainda com 18 anos. "Eu trabalhava em uma escola pública, ia de bike, e do nada fui pro Canadá, trabalhar no maior circo do mundo."

"Foi um choque cultural imenso, mas sou feliz por ter ido para um lugar onde fui bem acolhido. A língua, a comida, o jeito como sou tratado como artista lá no Soleil, que é bem diferente da vida de artista no Brasil, imagina ter um contrato aos 19 anos, era tudo muito novo. E esse choque acontece de novo quando você volta pro lugar onde você nasceu, é um baque. O Soleil é minha faculdade, meu intercâmbio artístico. No Bazar temos 15 nacionalidades, várias vertentes artísticas. E a sede no Canadá é um ninho de artistas, Eu fui com fome dessas coisas, porque pela primeira vez eu tive um trabalho que me permitia isso." 

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"A gente olha pra 15 nacionalidades e acha que vai ser uma bagunça, mas todo mundo se entende, se respeita. Temos nossas diferenças, os russos falam menos, os brasileiros falam mais, mas todo mundo está no mesmo palco. Eu aprendi muito com as diferentes culturas, e com certeza aprenderam comigo."

No meio de tanta gente diferente, e em um ambiente criativo e diverso, Itsa pôde olhar para  si mesmo. 

"Antes de entrar no Soleil eu tinha uma perspectiva de sobrevivência. Eu era um artista que estava desistindo, só aprendi a viver quando fui pro Soleil, aos 19 anos de idade, porque foi lá que eu tive tempo pra pensar no meu gênero, na minha sexualidade, na minha identidade, personalidade. Trabalhando lá eu comecei a desenvolver isso, e meu choque foi não estar em um lugar de violência. Eu posso ser uma pessoa trans aqui. isso é o que mais me emociona, depois de muita terapia eu posso dizer que tenho orgulho de ser uma pessoa trans que trabalha no maior circo do mundo."

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A rotina é intensa no Cirque, que terá mais de 30 apresentações no Rio até o final de dezembro. "O mais difícil é ter disciplina", ele confessa. 

"As pessoas acham que sou uma celebridade, que só viajo, mas eu faço dez shows por semana. Tenho que tratar muito bem do meu corpo. Todo dia fazer maquiagem, cabelo, se apresentar com uma dor no joelho, após lesão, e gente é tão distante da gente mesmo que acha estranho ter que se cuidar tanto. Mas no Soleil ou você dorme bem, se hidrata, se alonga e faz seus exercícios, ou não vai dar conta de fazer o show. Eu vim da quebrada, tenho o corpo mais largado, então esse autocuidado é difícil."

Desde setembro trabalhando no Brasil, ele afirma que o público daqui é o melhor. "O brasileiro participa, entra junto, se deixar, sobe no palco. Tem públicos mais calados, em algumas plateias do Oriente Médio a grande maioria eram homens, mas a casa está sempre cheia em todo lugar", comemora. 

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E quem quiser seguir seus passos e sonha com uma vaga embaixo da lona do Soleil? "Realmente é difícil ter perspectiva", diz ele, reconhecendo a realidade do artista brasileiro. "Tive a sorte de uma professora postar o link da audição no Facebook, mas quando vi os requisitos pensei 'não dou conta', mas me inscrevi mesmo assim, na cara e na coragem. Fui e passei. Você não precisa esperar estar preparado, você precisa ir, e se não for aprovado, isso vai te preparando, então mete a cara."

arquivo pessoal

A pessoa que trabalha o dia inteiro, estuda e ainda vai numa audição, eu bato palma pra ela, porque venceu só de estar ali. Mesmo que você não seja aprovado, está vencendo o sistema, que quer que você fique ralando sem perspectiva de melhora, de ascensão na carreira, na vida pessoal, sem nunca ter autoestima pra fazer nada. Só de estar lá você já venceu tudo isso."

Olha como ele ARRASA:

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