Reunimos as várias versões do senador Marcos do Val sobre o plano golpista envolvendo Bolsonaro e Daniel Silveira
Entre tantas narrativas, qual seria a verdadeira?
Ao longo da última quinta-feira (2), não foi uma, nem duas, nem três vezes que o senador Marcos Do Val (Podemos-ES) mudou a versão da história de que em dezembro de 2022 ele teria ouvido um plano mirabolante do então presidente Jair Bolsonaro (PL), e do ex-deputado Daniel Silveira, com o objetivo de gravar e incriminar o ministro Alexandre de Moraes, anular as eleições, impedir a posse de Lula e, assim, continuar na Presidência. Ufa!


Marcos Oliveira/Agência Senado
Abaixo, vamos apresentar cada um das VÁRIAS versões apresentadas por Do Val nas últimas 24 horas.
A Veja: Em entrevista à revista, o senador deu mais detalhes sobre a história. O parlamentar disse que Bolsonaro o recebeu no Palácio do Alvorada em 9 de dezembro de 2022 e propôs que Do Val gravasse o ministro do Supremo e presidente do TSE, Alexandre de Moraes.


Reprodução/Veja
"A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi", contou. A história é a capa da edição desta semana da revista Veja.
A intenção da gravação clandestina seria captar algo comprometedor que servisse como argumento para prender Moraes. Com o caos institucional que o país cairia, o plano previa a anulação do resultado das eleições, impedir a posse de Lula, e fazer Bolsonaro permanecer no poder.
Segundo Do Val, após a proposta, ele teria procurado o ministro do STF para relatar o plano bolsonarista.
Entrevista coletiva: Posteriormente, em entrevista em seu gabinete, o senador do Podemos mudou novamente a versão, dizendo que Bolsonaro ficou em silêncio, apenas ouvindo a proposta. "O presidente estava numa posição semelhante à minha, ouvindo uma ideia esdrúxula do Daniel (Silveira). Quando a imprensa diz que ele me coagiu, isso não confere." Na avaliação do senador, Silveira buscava uma forma de não ser preso novamente.


Reprodução/Youtube
Vale destacar que o próprio Marcos do Val disse em live que Bolsonaro tentou coagi-lo.
Na coletiva, o senador disse não saber onde foi a reunião com Bolsonaro e Silveira. Segundo ele, o encontro pode ter ocorrido no Palácio do Jaburu (residência da Vice-Presidência), no Palácio do Alvorada (residência da Presidência) ou na Granja do Torto (segunda residência oficial do presidente). Mais uma versão, já que inicialmente ele teria dito que o encontro foi no Alvorada.
Depoimento à PF: Na noite de quinta, Marcos do Val prestou depoimento de quase duas horas à Polícia Federal. Segundo o senador, Bolsonaro não "mostrou contrariedade" ao plano golpista proposto por Silveira, mas a sensação do senador foi de que o ex-presidente "não sabia do assunto".


Divulgação/PF
"Durante toda a conversa, o ex-presidente manteve-se calado; que a sensação que teve era que o ex-presidente não sabia do assunto, e que Daniel Silveira buscava obter o consentimento tanto do depoente como do presidente; que em nenhum momento o ex-presidente negou o plano ou mostrou contrariedade ao plano, mantendo-se em silêncio", disse no relato à PF.
Outra contradição de Marcos ao longo do dia foi dizer, em publicação no Instagram, que renunciaria ao mandato no Senado. À tarde, ele já havia desistido da decisão.


Reprodução/Instagram
De acordo com o político, a publicação sobre uma eventual renúncia se deu "em um momento de muita raiva", após ter sido chamado de "traidor" por internautas.
Na entrevista coletiva, o senador disse que desistiu de renunciar ao mandato.
O BuzzFeed Brasil também apurou que na data em que Marcos do Val diz ter sido realizada a reunião - 9 de dezembro - Daniel Silveira não estava em Brasília.


MAURO PIMENTEL/AFP via Getty Images
Portanto, caro leitor, é possível que, enquanto você lê esse texto, novas versões já tenham sido divulgadas pelo senador, que ainda não deixou claro quais são seus interesses...
Como dissemos na nota acima, após a publicação desse texto, em entrevista à CNN, Do Val deu uma nova versão.
Nela, o parlamentar afirmou, nesta sexta-feira (3), que o autor da reportagem da Veja, Leonardo Caldas, que trabalhou como "auxiliar parlamentar intermediário" no gabinete do senador, "o influenciou" a dar o depoimento.
"A gravação [da entrevista] foi feita de forma ilegal, sem minha autorização, pelo meu ex-assessor de comunicação Leonardo, que incentivou a denúncia", disse Do Val. À CNN, o repórter disse que "a resposta ao senador é sua própria reportagem publicada na Veja".