Linchamento, morte, denúncia de tortura e até app: a busca por Lázaro saiu do controle

A procura pelo acusado já tomou rumos desastrosos.

Divulgação: Polícia Militar de Goiás

Nas últimas semanas, Lázaro passou de sinônimo de um dos maiores atores brasileiros, para o nome do criminoso mais procurado do país. Entre homicídios, sequestros e uma tentativa de estupro, Lázaro Barbosa é acusado de cometer 31 crimes

Foragido nos arredores de Brasília, é alvo de uma caçada humana que envolve drones, cães farejadores, câmeras térmicas, mais de 200 policiais e deputada armada em helicóptero.

Mas as proporções titânicas da operação ampliam também a possibilidade de erros. Fica mais fácil as coisas saírem do controle. E, nesse caso, já saíram.

1. O Lázaro de Campo Grande

Reprodução

A prova mais recente de que a situação já está além das forças que comandam a busca aconteceu nesta terça.

Em Campo Grande (MS) - 830 km de Cocalzinho de Goiás, onde Lázaro foi visto pela última vez - um homem foi sequestrado, linchado, e abandonado numa estrada… simplesmente por parecer com Barbosa. 

Confundido com o criminoso, o homem (que não teve a identidade revelada) foi encontrado inconsciente na beira da BR-262. Ele estava sangrando e amarrado. 

Piora: depois de sofrer o sequestro e as agressões, o rapaz foi abandonado e tentou pedir socorro. Em vão. Andando ferido pela BR foi, novamente, confundido com o criminoso. Há vídeos circulando na rede de pessoas passando por ele, mas se negando a ajudar pela semelhança com o procurado. O rapaz, inclusive, só foi encontrado depois que uma denúncia anônima falou sobre um andarilho ferido parecido com Barbosa. Quando os PMs chegaram ele já tinha desmaiado.

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2. Morte no Maranhão

Reprodução

A imagem acima é a reprodução de um post feito por Hamilton Cesar Lima Bandeira, de 23 anos. Horas depois da publicação, ele foi morto por policiais dentro de sua casa.

Hamilton morava ainda mais longe do que no caso anterior: do povoado Calumbi, em Presidente Dutra (MA), ele estava a mais de 1530 km de Lázaro. Ainda assim, é impossível falar sobre sua morte sem citar o procurado.

Depois da postagem, três policiais foram à casa do jovem, onde ele morreu em decorrência de dois disparos. 

A versão da polícia é que Hamilton "não atendeu a ordem policial, tentando atacar os policiais, os quais, diante da situação apresentada, tiveram que efetuar disparos de arma de fogo contra o rapaz”. A família nega. 

De acordo com a versão dos familiares, os policiais teriam invadido a residência e matado Hamilton na frente de seu avô, de 99 anos, sem que o jovem portasse qualquer arma.

“Pai, está doendo demais!” teriam sido algumas das últimas palavras dele ao avô, com quem tinha uma relação paterna.

Hamilton, sua mãe e seu avô. Reprodução

Hamilton tinha transtornos mentais, o que - segundo a família - causaram a postagem. 

Em entrevista à Ponte Jornalismo, Ana Maria, a mãe de Hamilton afirmou que “ele tinha 23 anos, mas tinha mentalidade de um rapaz de 12 anos porque tinha um distúrbio mental. Ele nunca matou, nunca roubou, nunca estuprou, apenas postava essas coisas porque ele tinha problemas mentais, tenho laudos que provam isso”. 

Ainda à Ponte, Ana Maria afirmou que em nenhum momento a tal faca foi apresentada como evidência, e que o corpo de seu filho foi retirado do local de maneira abrupta. Sem cuidado com ele, ou com uma possível perícia que pudesse acontecer. 

“Poderiam ter chegado em casa, com mandado de prisão e levado à delegacia. Por que o meu filho não pode ter a defesa dele? Cadê a arma do crime? Cadê a faca? Qual foi o flagrante? Estar mexendo no celular na cama?”, afirmou. 

A atuação dos policiais está sendo investigada pela Polícia Civil. Eles, no entanto, seguem atuando nas ruas.

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3. Interrogatório

Reprodução

Outro caso de violência paralelo à caçada humana foi reportado pela esposa de Lázaro. O procurado é casado com uma jovem de 19 anos, que diz ter sido torturada por policiais que queriam o paradeiro do mesmo. 

"O policial deu três, quatro tapas no meu rosto. Ele quebrou o rodo da minha tia e ia me bater com o cabo. Eu pensei comigo: 'Senhor, eu não acho justo eu apanhar com esse cabo de vassoura. O Senhor sabe que eu não sei onde ele está", afirmou em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini

"[Um policial teria dito] O negócio agora aqui é com nóis! Então ou você fala, ou a gente vai botar saco na sua cabeça e te afogar na água", completou.

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Fabio Lima

"Mas os responsáveis pela busca não têm relação com o linchamento, ou com a morte no Amapá", você pode até falar. E é verdade! Mas isso talvez seja o pior. 

Lázaro não é um vilão de filme, ainda assim, policiais Brasil afora e parte sensacionalista da mídia estão o tratando dessa forma. A partir disso, não importa o que os coordenadores da operação digam ou façam, eles não conseguem administrar o impacto fora de sua equipe.

Aparentemente nem dentro, se as denúncias de tortura e intolerância religiosa se mostrarem verdadeiras e sem ordens superiores. 

E, no país do BBB, como se controla uma operação policial que virou reality show?

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Estamos de olho!

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