Algumas coisas importantes que aprendi sobre ter depressão

Nenhuma experiência é exatamente igual a outra, mas fiz este post porque saber que alguém está passando por algo parecido pode ser acolhedor.

Eva Uviedo

Este post é um relato pessoal de como *eu* estou lidando com o transtorno depressivo (com o acompanhamento de uma psiquiatra e uma terapeuta). Ele não tem, portanto, rigor científico, mas espero que possa ajudar você que está ou que conhece alguém que esteja com a doença, e que ele possa ajudar um pouquinho a trazer luz a esta questão tão nebulosa.

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1. Em geral, as pessoas ainda sabem muito pouco sobre depressão e, mesmo que você tenha transtorno depressivo, talvez perceba que também é uma delas.

“Por que você não tenta fazer um esporte?” é uma das perguntas típicas de pessoas que não compreendem direito o quadro clínico da depressão. O problema é que a pergunta tem um quê de “onde está a sua força de vontade”... E depressão não tem a ver com força de vontade. Mas ninguém é obrigado a saber. Inclusive até você talvez se surpreenda com o que não sabia ou entendia sobre a doença. Existe muito estigma a respeito de doenças mentais e falar delas é importante para que isso mude, mas...

2. Dividir sua experiência sobre depressão com os outros provavelmente vai ser diferente do que você imaginava.

Por exemplo: mesmo se você escreve posts sobre saúde mental para o BuzzFeed, como eu. Você pode sentir vergonha, pode preferir se reservar por um tempo ou só dividir o diagnóstico com pouquíssimas pessoas até se sentir confortável com ele. Ter um problema de saúde mental NÃO É diferente de ter um problema de saúde física, mas você só realmente sabe como vai reagir caso aconteça com você.

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3. E a reação das pessoas também pode ser diferente do que você esperava.

Acontece. Mesmo pessoas que tiveram a doença podem reagir mal, por exemplo. Você pode usar isso como um filtro para se distanciar de quem não te faz bem, e também tentar reconstruir suas relações com quem te faz. Mas isso quando você estiver se sentindo nutrido o suficiente para isso. Sem pressa, com o tempo tudo se ajeita.

Eva Uviedo

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4. A depressão pode ser uma doença silenciosa, especialmente se você já é uma pessoa introvertida.

Pessoas depressivas e pessoas saudáveis podem chorar muito quando acontecem coisas tristes ou felizes, pessoas depressivas e pessoas saudáveis podem ser mais ou menos quietas, pessoas depressivas e pessoas saudáveis podem ter mais ou menos sono vez ou outra. A depressão tem sintomas clássicos, mas nem todo mundo vai ter todos estes sintomas e/ou nem todos eles vão parecer sinais gritantes, especialmente se você já tem uma personalidade introvertida ou retraída antes de ter a doença.

5. Você PRECISA pedir ajuda, mas isso requer muita força, especialmente se sua cabeça parece estar querendo o oposto disso.

Dependendo do que você estiver sentindo, talvez você nem queira realmente pedir ajuda. Mas peça ajuda. Por favor. Fale com um amigo, com um terapeuta, fale com o Centro de Valorização da Vida. O que você está sentindo são sintomas de uma doença, isso não é realmente quem você é. Existe um tratamento para o que você está sentindo. Sim, assim como tantas outras doenças podem ser, existem depressões crônicas, mas mesmo estas têm tratamentos paliativos que vão te ajudar a se sentir melhor. Pedir ajuda requer uma força interna muito grande, inclusive quando você não quer se ajudar, mas use esta força e, por favor, peça ajuda. Você faria isso se estivesse com uma gripe forte ou se tivesse quebrado um osso. Não é diferente com problemas de saúde mental.

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6. Talvez demore para que você e seu médico encontrem o tratamento ideal para você, mas você vai saber quando o tratamento começar a funcionar. Ah, vai.

Existem diversos tipos de tratamentos e mais de uma dezena de antidepressivos recomendados. Se seu psiquiatra recomendar um para você, existe a chance de que você se adapte logo de cara, mas também existe a chance de que você demore algumas tentativas para encontrar o ideal para você. Um amigo me disse como na hora que ele começou os medicamentos tudo mudou como num clique. Não foi assim de primeira comigo, nem de segunda e nem de terceira, inclusive, mas quando o clique aconteceu, foi praticamente instantâneo. Você vai perceber a melhora – e não tenha medo, ela vai vir.

Eva Uviedo

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7. Assim como pessoas saudáveis, pessoas em tratamento para depressão também podem ter dias muito legais e outros muito ruins.

A primeira mudança é que você vai voltar a ter muito mais dias felizes e animados – o que antes do tratamento, provavelmente, nem aconteciam –, mas também que ainda vai ter dias tristes, nebulosos ou cinzas, mesmo se está indo tudo bem com seu tratamento. O importante é sempre manter uma boa comunicação com os profissionais que te auxiliam, para que eles te ajudem a entender quando e o quanto estes altos e baixos são normais. Mas aproveitar os dias legais é muito gostoso.

8. Independentemente de tratamentos médicos, você precisa fazer terapia. E você provavelmente vai aprender a expressar o que está sentindo como nunca imaginou.

Tá que eu escrevo para pagar as contas, então bem ou mal de alguma forma sempre exercitei isso no dia a dia, mas tudo muda completamente quando você precisa começar a contar as coisas mais abstratas que está sentindo e pensando, e você precisa colocar isso para fora – por isso a psicoterapia é fundamental junto com os tratamentos médicos. Você vai perceber uma capacidade que você nem imaginava para conseguir fazer isso, seja falando, escrevendo, desenhando. Caso precise de alguma ajuda, recomendo muito ler o livro “A Redoma de Vidro” de Sylvia Plath, que de forma altamente biográfica narra a história de uma mulher passando pela depressão. Este livro colocou em palavras muito do que eu estava sentindo.

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9. É possível que você tenha esquecido como você realmente é por conta da doença.

Depois que o tratamento começou efetivamente a fazer efeito, ouvi de quatro pessoas muito queridas que voltei a ser a pessoa que elas tinham conhecidos. Todos falaram com jeitinho, claro, e todos, talvez sem saber, me emocionaram. A depressão, para mim, é como uma névoa que obscurecia não só os meus dias, mas minhas memórias. Hoje estou redescobrindo quem sou, porque é como se eu tivesse me esquecido disso quase por completo. O que eu gostava de ler? Que músicas eu ouvia? O que me fazia rir? Tudo isso é um pouco novo, o que é muito maluco – e rende muita, muita conversa com minha terapeuta e com minha psiquiatra. Ah, vale dizer que também estou entendendo quem eu quero ser.

Eva Uviedo

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10. Cada pessoa é uma pessoa logo cada pessoa com depressão é uma pessoa com depressão, por isso nenhuma experiência é exatamente igual a outra.

Este post fala sobre minha experiência pessoal com a doença. Mesmo assim, ler que alguém pode estar passando por algo parecido com o que você está passando é acolhedor, e é por isso que eu estou escrevendo este texto para você. Procure ajuda que as coisas vão melhorar. E isso não é um talvez: elas vão, eu prometo.

Lembre: você sempre pode pedir ajuda, seja para amigos, para familiares, para especialistas, no posto de saúde, no pronto socorro ou no Centro de Valorização da Vida, ligando gratuitamente a qualquer dia ou hora para o 188.

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Este post foi ilustrado com a série "Sombras" de Eva Uviedo.

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