Médicos devem avaliar crianças com 12 anos ou mais para identificar sinais de depressão, defendem pediatras

Um em cada cinco adolescentes sofre de depressão em algum momento, mas muitos nem chegam a ser diagnosticados.

Todos as crianças e adolescentes com 12 anos ou mais devem ser avaliados anualmente para identificar sinais de depressão, de acordo com as novas diretrizes emitidas pela Academia Americana de Pediatria (AAP).

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Os médicos podem seguir as novas recomendações, que são uma atualização das diretrizes de 2007, para diagnosticar e tratar a depressão nos adolescentes.

Uma das maiores mudanças nas diretrizes foi um apelo para que todas as crianças sejam avaliadas anualmente para identificar a depressão. "Recomenda-se que todas as crianças, a partir dos 12 anos, passem por uma avaliação anual para identificar a existência ou não de depressão sempre que vierem a sua consulta de rotina", disse Nerissa Bauer ao BuzzFeed News. Bauer é professora titular de pediatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana e tem vínculo com a AAP.

Nem sempre é óbvio quando um adolescente sofre de depressão, e os clínicos gerais podem não enxergar certos sintomas se não estiverem procurando ativamente por eles.

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"Você não pode só olhar para uma criança e dizer que ela está deprimida, é por isso que precisamos de avaliações constantes", diz Bauer. A depressão não tratada pode levar a problemas em casa ou na escola e aumentar o risco de suicídio.

No processo de avaliação, o adolescente e os pais recebem, cada um e separadamente, uma lista de perguntas sobre os sintomas. Os questionários podem ser fornecidos em papel ou em formato eletrônico, para que as pessoas possam responder confidencialmente. "Então o pediatra pode usar as respostas para conduzir um diálogo com a criança sobre os sintomas relacionados à depressão de forma mais direcionada", diz Bauer.

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Pelo menos 2 entre 3 adolescentes com depressão não são identificados pelos clínicos gerais, e apenas 50% dos adolescentes com depressão são diagnosticados antes de atingirem a idade adulta.

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O estigma e as barreiras para conseguir atendimento, além da falta de treinamento e conscientização entre os clínicos gerais, contribuem para essas estatísticas.

"Em geral, a saúde mental é mais difícil de lidar para alguns pediatras — eles podem não ter recebido o treinamento correto ou não tiveram contato suficiente com doenças mentais. Além disso, podem não saber exatamente o que fazer com um resultado positivo da avaliação de identificação da depressão", diz Bauer. As diretrizes também fornecem orientação para os clínicos gerais e os ajudam a diagnosticar melhor a depressão nos adolescentes, a determinar a gravidade da depressão e a trabalhar com os familiares e/ou escolas para criar um plano de segurança.

"Os problemas de saúde mental são complexos e, às vezes, levam tempo para serem diagnosticados, mas essas diretrizes buscam aumentar a conscientização e ajudar os clínicos gerais a se sentirem confiantes nas suas capacidades de identificar e controlar uma avaliação positiva", diz Bauer.

A depressão entre os adolescentes é um problema crescente nos EUA.

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De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH - National Institute of Mental Health, nos EUA), estima-se que 3,1 milhões de adolescentes entre 12 e 17 anos nos EUA tiveram pelo menos um episódio depressivo grave em 2016, e 60% não receberam nenhum tratamento.

"A depressão e os sintomas depressivos podem ser resultado de coisas acontecendo ao nosso redor; e atualmente, há muita incerteza e violência no mundo, o que pode ser assustador", diz Bauer. Embora as mídias sociais possam ser uma ótima maneira para os adolescentes se conectarem, elas também podem levar crianças que não praticariam bully pessoalmente a praticá-lo on-line, diz Bauer. "Há muitas situações estressantes que os adolescentes têm que passar no mundo de hoje que os coloca em um maior risco de depressão", diz Bauer.

Essas novas diretrizes estão em desenvolvimento há muito tempo, e as avaliações para identificar a depressão em crianças não são novas. A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF - US Preventive Services Task Force) já recomendou avaliações para transtornos depressivos graves em adolescentes com idade entre 12 e 18 anos. No entanto, as novas diretrizes da AAP chegam num momento em que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde mental dos adolescentes.

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"Pais: se estiverem preocupados com o humor de um de seus filhos, não espere — leve-o ao médico para que ele seja examinado e monitorado", diz Bauer.

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Às vezes, é normal que os adolescentes se sintam tristes ou mal-humorados, especialmente com a montanha-russa hormonal que é a adolescência — mas tristeza rotineira não é a mesma coisa que depressão e é importante saber a diferença. "O que procuramos para identificar a depressão é a presença de sintomas que duram pelo menos duas semanas", diz Bauer.

De acordo com o NIMH, os sintomas da depressão podem incluir sentimentos de tristeza, vazio, incompetência ou raiva, mas também podem incluir um ou mais dos seguintes itens:

* Não se preocupar com coisas ou atividades que gostava antes

* Perder peso sem fazer dieta ou ganhar peso por comer em excesso

* Ter problemas para dormir ou manter o sono, ou dormir mais do que o normal

* Problemas de concentração ou problemas de memória

* Ficar sempre com um sentimento de culpa ou se sentir inútil

* Pensar sobre ou tentar se suicidar

Como os adolescentes podem não conseguir identificar ou comunicar seus sintomas de depressão, as novas diretrizes ajudam os clínicos gerais a procurar por outros sinais. Estes incluem conflitos em casa, baixo desempenho escolar e distanciamento de amigos e familiares. "Precisamos assumir que não conseguimos detectar uma criança deprimida apenas olhando para ela e, como pediatras, temos que avaliar a saúde mental e emocional dessa criança", diz Bauer.

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17 passos para reconhecer e responder aos sinais de alerta do suicídio

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Este post foi traduzido do inglês.

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