"O algoritmo do Spotify se fode na minha mão": China fala sobre "Caça Joia", programa que revela novos artistas brasileiros

A atração estreia no Canal Futura e no Globoplay.

"Eu acho que esse avanço tecnológico atrapalhou muito quem gosta de procurar novas bandas", crava China. Não o país, claro, mas Flávio Augusto Câmara: o China.

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O cara ganhou o cenário musical da virada do século pra cá quando se consagrou justamente como um excelente entendedor de novos talentos da música brasileira. Logo, meia inteligência artificial bastava: "Os algoritmos estão tomando conta, então você não tinha mais aquela coisa de de procurar som né? O foda é que tudo é guiado pela quantidade de seguidores, ou número de plays. Isso me incomodou bastante".

A resposta a este movimento vem na forma de vídeo. "Caça Joia", que estreou na última sexta (5), é o novo programa televisivo que China apresenta. Depois de passagens pela MTV e Multishow, ele comanda a novidade tanto no canal Futura quanto no Globoplay.

A proposta é trazer uma luz para novos artistas - independente da quantidade de likes.

Caçando estrelas.

Em tempos de streaming, o trampo para escolher os nomes foi praticamente arqueológico: recorreu ao jurássico boca-boca.

China ativou os contatinhos musicais e pediu recomendações. Pra fugir da bolha, foi às redes e, fugindo também dos números, pediu para todos seus mais de 60 mil seguidores mandarem sugestões de gente boa e desconhecida. Foram mais de 1.500 indicações de bandas, ouvidas uma a uma. Trampo demais? Nada, tava no lucro! "Bicho eu sou do tempo que a gente levava fita cassete pra casa do amigo e ficava esperando a hora de copiar o disco. Entendeu? Gravar o rádio e ficar lá e ficar puto quando o cara falava 'Rádio Cidade' no meio das coisas", conta, rindo.

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Os escolhidos.

Como resultado das indicações, 13 nomes selecionados a dedo. Mais difícil do que qualquer faculdade do país, os escolhidos não precisavam manjar de física ou química - mas precisavam de uma boa história na ponta da língua.

"O programa não era simplesmente pra a artistas que estavam ali fazendo uma música legal, precisávamos de uma galera que também tem algo foda pra dizer", diz.

A seleção mostra isso logo de cara. Entre os nomes escolhidos estão Raidol (artista LGBTQIA+ paraense com uma voz DESTRUIDORA), Kaê Guajajara (indígena carioca que faz um trap foda) e Tavin (que frequenta batalhas de rap desde os 10 anos de idade).

"Quando eu era moleque, fui impactado por Chico Science. Eu descobri que Recife era a quarta pior cidade do mundo por causa do Nação Zumbi. Eu venho de um tempo que a música te deixava inteligente, então esses artistas são escolhidos por um discurso tão potente quanto o som", crava China.

A rede fora das redes.

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A principal premiação desta galera, no entanto, não é aparecer na TV; são os contatos que a atração trouxe.

A cada capítulo, China pedia para grandes nomes dos bastidores musicais que fizessem perguntas para os novos artistas. Um quebra-gelo com ares de correio elegante profissional. "Cara, eu vi uns namoros muito bons acontecendo", conta rindo.

"Por exemplo, a Luana Flores é uma artista paraibana incrível, bicho, é uma mina que faz um som foda e eu claramente já vi ela no palco Sunset do Rock in Rio. Então liguei pra Zé Ricardo, que é o curador do palco, e disse 'bicho, é o seguinte: faz uma pergunta pra ela' mandei o material, e ele escutou o som dela", continuou.

A parada é poupar tempo dessa galera. Quanto mais rápido eles entraram em contato com os gigantes, melhor pros dois lados: mais diversidade na indústria - e mais grana pra quem luta pra viver de música.

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Grandes artistas, letras miúdas.

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Por fim, parte do trampo do programa consiste em ajudar essa galera nas burocracias do mundo artístico. As letras fininhas no fim do contrato que muitas vezes sequer foi impresso ainda.

Todos eles foram ensinados, por exemplo, a cadastrar as músicas nas agências arrecadadoras para conseguirem lucrar com elas. "Ninguém de TV nunca sentou comigo e falou: 'olha, querido, você precisa inscrever seu clipe na ANCINE, se não não passa na TV e fica só no YouTube", conta. "Mas a gente percebeu que isso era um era um déficit mesmo, e criamos mentorias. A gente está está tentando ajudar de todos os lados que pode."

Caçando as joias.

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A expectativa, então, é que o programa ajude a quebrar nossa dependência das recomendações de streamings para conhecermos novas coisas. "O algoritmo do Spotify se fode na minha mão, bicho. Eu não ouço absolutamente nada do que eles me recomendam, e tento sempre furar minha própria bolha: da banda coreana, ao artista pequeno do interior da paraíba", conta China.

Estes 13 nomes, aliás, se unem à outros que apresentador ajudou a descobrir na MTV. Por lá foi dado destaques a nomes como Criolo, Tiê e Tulipa Ruiz. "A gente tem que lembrar que todo mundo começa pequeno. Caetano Veloso já se fodeu pra pagar boleto também!", encerra.

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"Caça Joias" estreia novos episódios toda sexta às 21h15 no Futura e, logo em seguida, tem seus capítulos disponibilizados no Globoplay.

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