Institutos de pesquisa erraram ou eleitores mudaram de voto, eis a questão
Fato é que nada justifica uma caça às bruxas bolsonarista contra Datafolha e Ipec.
No último sábado (1), um dia antes do 1º turno das eleições, Datafolha e Ipec (ex-Ibope) apontavam a liderança com larga vantagem de Lula (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) na disputa pela Presidência da República. Eram 14 pontos percentuais de diferença em ambas as pesquisas.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
O Datafolha apontava 50% a 36% e o Ipec projetava 51% a 37% dos votos válidos a favor de Lula.
Boa parte do eleitorado petista chegou a acreditar numa vitória já no 1º turno.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Da mesma maneira, boa parte do eleitorado convictamente antipetista, mas que no 1º turno votaria em Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB), pressentiu que a vitória de Lula poderia ocorrer no dia seguinte e decidiu mudar de voto na última hora e apoiar Bolsonaro.
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E essa é uma das explicações para a diferença entre o que apontavam as pesquisas e os resultados obtidos por Lula e Bolsonaro – e também por alguns governadores – nas urnas.
Esse movimento de mudança de voto, portanto, não foi capturado pelas pesquisas de véspera, realizadas entre 29 de setembro e 1º de outubro.
Na avaliação das diretoras Luciana Chong (Datafolha) e Márcia Cavallari (Ipec) é esse voto útil a favor de Bolsonaro que explica a diferença do resultado das urnas em comparação com as pesquisas de véspera.
Com 100% das urnas apuradas, Lula teve 48,43%, ante 43,20% de Bolsonaro. Na terceira posição, Tebet teve 4,16% e Ciro, 3,04%.
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"O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, teve seis pontos a mais do que a pesquisa apontava, e analisando os resultados nós vemos que houve uma migração dos 3% de indecisos que ainda tínhamos na pesquisa na véspera da eleição e o índice do Ciro e da Simone, que ficaram menores. Então, talvez com essa informação os eleitores tomaram uma ação estratégica de antecipar um possível voto no segundo turno neste primeiro para impedir que a eleição acabasse no primeiro turno”, disse Cavallari ao "Jornal Nacional".
"A pesquisa de véspera foi finalizada no sábado, por volta da hora do almoço, e dali até o domingo, o dia da eleição, a gente viu um movimento de eleitores que votavam no Ciro, Tebet, branco e nulo indo para o presidente Jair Bolsonaro. Então o voto útil que não aconteceu a favor de Lula, aconteceu a favor de Bolsonaro nessa reta final”, avaliou Chong ao JN.
Importante destacar que o papel dos institutos de pesquisa é mostrar a intenção do eleitorado no dia em que o levantamento é feito, não acertar o resultado da eleição.
Dito isso, é preciso ainda olhar para as pesquisas do último sábado com atenção à margem de erro.
Ipec:
Lula tinha 51% dos votos válidos. Pela margem de erro, teria entre 49% e 53%.
Bolsonaro tinha 37% dos votos válidos. Pela margem de erro, ele teria de 35% a 39%.
Ciro tinha 5% dos votos válidos. Pela margem de erro, de 3% a 7%.
Tebet tinha 5% dos votos válidos. Pela margem de erro, de 3% a 7%.
Datafolha:
Lula tinha 50% dos votos válidos. Pela margem de erro, tinha de 48% a 52%.
Bolsonaro tinha 36% dos votos válidos. Pela margem de erro, poderia ter de 34% a 38%.
Ciro tinha 5% dos votos válidos. Pela margem, ele teria de 3% a 7%.
Tebet tinha 6% dos votos válidos. Pela margem de erro, tinha de 4% a 8%.
Ou seja, o resultado de Bolsonaro (tanto no Ipec quanto Datafolha) e Lula, na pesquisa Ipec, ficaram foram da margem de erro. A votação nas urnas de Lula, segundo o Datafolha, Ciro e Tebet ficou dentro do previsto pelos institutos.
A diferença, então, entre o que foi aferido pelos institutos e o que votaram os eleitores deve servir internamente para revisão de metodologia de pesquisa, por exemplo, mas não para tentar destruir dois dos principais órgãos de pesquisa eleitoral do País.