Faloplastia: a cirurgia que promete aumentar o pênis ainda divide médicos

O sertanejo Tiago fez e a galera ficou interessada. Mas qual é a desta operação?

Dainis Graveris / Unsplash

"Aumente seu pênis". Nos últimos dias, a promessa saiu diretamente da caixa de spam do seu e-mail para as manchetes de portais Brasil afora. Isso porque o sertanejo Tiago (da dupla com Hugo, formada no saudoso reality "Fama") diz que aumentou o dele. A solução teria sido por meio de uma operação chamada "faloplastia". Show! Mas... que parada é essa?

Como é feita a cirurgia.

Wikimedia Commons

De acordo com o cirurgião plástico Cláudio Eduardo Pereira de Souza, que operou o cantor, o procedimento consiste na "secção do ligamento suspensor do pênis". 

Em português claro, a cirurgia corta esse tecido que prende a base do pênis a uma articulação na pélvis. Sem essa ligação, o membro pode descer mais alguns centímetros e isso dá a impressão de que ele ficou maior (apenas quando está flácido). 

Não só, o médico ainda teria aspirado a gordura da região pubiana e a injetado no pênis. É um procedimento que os médicos chamam de "enxerto", e o cirurgião afirma que isso faz com que o membro também ganhe uma aparência mais grossa.

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"E a cirurgia é segura?", você se pergunta. Bom, é aí que as opiniões divergem.

Jordan Lye / Getty Images

Souza diz que, com a realização de exames pré-operatórios que verifiquem se há alguma contraindicação, não existem problemas com a cirurgia. "Eu não veria nenhuma desvantagem. Claro, é uma cirurgia como outra qualquer, o paciente pode sentir dor no pós operatório, tem que ficar 30 dias sem atividades sexuais ou academia", afirmou o cirurgião ao Buzzfeed Brasil. "Mas, malefícios, eu não vejo nenhum", completou. 

Porém, esta não é uma afirmação unânime. 

"O ligamento suspensor do pênis é importante para manter o membro no lugar quando está ereto", contou Ubirajara Barroso, Diretor da Sociedade Brasileira de Urologia, ao BuzzFeed Brasil. 

"Cortando o tecido, a ereção pode passar a ser horizontal, ou virada para baixo. Não temos uma alteração na qualidade dela - mas a posição talvez seja prejudicada", continua. 

Para o urologista, aliás, o enxerto também apresenta perigos ao paciente. "Não é o caso da gordura, mas existem substâncias que, se aplicadas com essa finalidade, podem causar a necrose da pele no pênis. E, mesmo em outros casos, os elementos podem ser absorvidos em até um ano, voltando para a largura original", afirma. 

"Além disso, diferentemente do rosto (onde vemos aplicações de preenchimento com certa regularidade), a pele do pênis é mais frouxa. Isso pode fazer com que a distribuição do material seja desigual, deformando o órgão", completa.

O cirurgião plástico se defende. "Com todo respeito, os urologistas não estão aptos a realizar essa cirurgia.", afirma Souza. "Eles não são treinados para cirurgias estéticas, como é essa. Urologistas não indicam essa operação, mas isso não significa que ninguém deve fazer. A medicina é muito maior do que uma só especialidade. Essa é minha análise", completa.

Barroso nega a dificuldade do procedimento. "É extremamente simples para qualquer urologista realizar um procedimento do gênero. Eu, pessoalmente, não faço por uma questão de ética minha".

A Academia tende a ficar do lado dos urologistas.

Print Collector/Getty Images

Há décadas, médicos e pesquisadores se debruçam sobre os efeitos de cirurgias que alongam pintos mundo afora. Pesquisas e análises são feitas por cientistas pelo menos desde 1979, mas os resultados tendem a ser desfavoráveis. 

Um estudo de 2006 publicado pelo Instituto de Urologia do Reino Unido, por exemplo, chegou à conclusão de que o método pode trazer instabilidade pro pênis na hora da penetração, além de disfunção erétil. 

Outro mais recente, feito em 2018 pelo departamento de Urologia da Universidade da Califórnia, aponta que o procedimento pode causar "deformação púbica" ou até mesmo que o pênis encurte.

Ao mesmo tempo, em 2019, a Nature publicou uma pesquisa italiana que mostrava operações do tipo que foram bem-sucedidas. Nada é unânime. 

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Há ainda uma questão psicológica em discussão. 

Deon Black / Unsplash

O tamanho médio do pênis brasileiro gira em torno dos 13 centímetros quando ereto. Às vezes um pouco menos, às vezes um pouco mais. A coisa geralmente anda por aí. E isso é grande? É pequeno? É normal. E a operação de pessoas dentro da normalidade também gera polêmica.

"Se um paciente tem 10,6cm de pênis ereto, por exemplo, ele têm um pênis normal, porém abaixo da média. E, contanto que cumpra alguns requisitos, ele poderá ser operado sem problemas", afirma Souza. 

Para o cirurgião plástico, o paciente é aprovado se: "tiver mais do que 18 anos, gozar de uma boa saúde, ter exames pré-operatórios normais, não ter nenhuma restrição em relação a cirurgia, considerar que seu pênis pode melhorar com o procedimento e não ter nenhum distúrbio psiquiátrico que fará a cirurgia trazer consequências negativas para ele". 

Mais uma vez, Barroso discorda. 

"Quando o pênis tem o tamanho normal, o problema não é do órgão; é psicológico. É uma questão de dismorfia corporal, e a gente encaminha ao psicólogo", afirma.  

"Existe uma mitificação ao falo que não é de hoje - é histórico, de antes da Grécia antiga. O homem muitas vezes sofre com a aparência genital. E cabe ao médico mitigar o sofrimento.", diz. "Mas nem sempre é o urologista que vai resolver - nós podemos captar, e falar "olha, seu pênis é normal, você precisa de outro tipo de ajuda". Não é porque é possível, que é indicado", completa.


Se olharmos para os estudos, mais uma vez, os psicólogos também não são muito favoráveis à operação. 

wakila / Getty Images

Pesquisas feitas na Itália e na Grécia apontaram que 60%, tanto dos pacientes quanto dos parceiros sexuais deles, se decepcionam com o resultado que aumenta o pênis em cerca de 3cm (quando flácido). A resposta seria que, de fato, uma dismorfia corporal não seria sanada mesmo depois do alongamento do órgão.

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Mas urologistas são sempre contra operações de aumentos penianos? Não. 

Aitor Diago / Getty Images

Barroso explica que seu posicionamento, e o da Sociedade, diz respeito a tratamentos puramente estéticos em pênis de tamanho normal.

"Em pacientes com gordura mórbida, por exemplo, mesmo depois de emagrecidos, a área pubiana pode armazenar gorduras que atrapalhem, por exemplo, a penetração. Retirar essa gordura é recomendado em alguns desses casos.", afirma. 

"Há ainda portadores de micropênis, pessoas que têm o saco escrotal em um ângulo que prejudica a penetração, pessoas que tiveram o órgão amputado, ou nasceram com algum problema em sua formação, homens trans que querem fazer a readequação. Nesses casos, urologistas avaliam qual é a melhor forma de tratamento, que pode envolver cirurgias", completa.

Fato é que o interesse pelo assunto vem aumentando.

Reprodução / Google Trends

Ambos os médicos confirmaram uma procura maior sobre o tema durante suas consultas. E, mesmo fora dos consultórios, o crescimento é visível. 

Na internet brasileira, nunca o termo "faloplastia" foi tão googlado. 

Que essas pesquisas tragam, como pedia o ET Bilu, conhecimento. Por que tamanho, aparentemente, nem sempre é documento. Mas informação geralmente é. E, se nem os médicos chegaram a uma conclusão sobre o assunto, talvez seja bom ir com calma e não entrar de cabeça nessa história. 

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