Confira 6 momentos tensos da entrevista dada por Bolsonaro ao "Jornal Nacional" em 2018

Candidato à reeleição volta hoje ao programa.

Quase quatro anos depois, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) volta a ser entrevistado por William Bonner e Renata Vasconcellos na edição desta segunda-feira (22) do Jornal Nacional.

Divulgação/TV Globo

O atual presidente do Brasil abre a série de entrevistas do JN com os presidenciáveis.

Foram convidados para a sabatina os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa Datafolha de 28 de julho: Lula, Bolsonaro, Ciro, Tebet e André Janones (Avante), que retirou a candidatura. A agenda das próximos entrevistas: Ciro Gomes (PDT) participará na terça (23); Lula na quinta (25); e Simone Tebet na sexta (26).

Para relembrar a entrevista dada por Bolsonaro na bancado do "JN" em 2018, separamos 6 momentos tensos daquela noite.

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1. "Plataforma de tiro de artilharia".

Reprodução/ TV Globo

Antes do início da entrevista, após Bonner pedir para o então candidato ocupar seu lugar na bancada, Bolsonaro disse que o ambiente esteva parecendo "plataforma de tiro de artilharia". Confira o diálogo:

Bonner: "Boa noite. Bem-vindo, candidato. Muito obrigado pela sua presença. Eu peço ao senhor que ocupe a sua cadeira. Com aquele cuidado, só porque a mesa é giratória."

Bolsonaro: "Isso aqui tá parecendo uma plataforma de tiro de artilharia. Então, estou confortável aqui."

Bonner: "Esteja certo de que não é. Vamos lá, Renata?"

2. Divórcio de Bonner e Fátima Bernardes.

Reprodução/TV Globo

Quando questionado por Bonner sobre seu "casamento" com o economista Paulo Guedes, que já vinha sendo anunciado como seu futuro ministro da Economia em caso de vitória, e se não haveria risco dele, como presidente, ficar refém do "Posto Ipiranga", o então candidato do PSL fez referência ao divórcio de Bonner e Fátima Bernardes, ocorrido dois anos antes.

Bolsonaro: "Bonner, é quase que um casamento. Eu estou namorando o Paulo Guedes há algum tempo e ele a mim também. Nós, Bonner, somos separados. Até o momento da nossa separação, nós não pensamos numa mulher reserva para isso. Se isso vier a acontecer, por vontade dele ou por uma vontade minha, paciência..."

Bonner: "O senhor está então, agora, admitindo que existe essa possibilidade de Paulo Guedes, em algum momento, se descasar do senhor, para usar uma comparação que o senhor está usando."

Bolsonaro: "Jair Bolsonaro: Paulo Guedes, Bonner, quando nós nos casamos, eu com a minha esposa, você com a sua, nós juramos fidelidade eterna. E aconteceu um problema no meio do caminho, que não cabe a ninguém discutir esse assunto."

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3. Bate-boca com Renata Vasconsellos sobre disparidade salarial entre homens e mulheres.

Reprodução/TV Globo

Em outro momento, a âncora do "JN" citou uma entrevista de Bolsonaro ao "Superpop" (RedeTV!), em que afirmou que não empregaria mulheres com o mesmo salário dos homens. Renata, então, quis saber se ele "se solidariza com empregadores que compartilham da desigualdade salarial" e perguntou como ele explicaria isso às mulheres. Foi assim que o bate-boca começou:

Bolsonaro: "É muito fácil. Renata, você leu isso, ouviu ou viu essa afirmação tua a meu respeito?"

Renata: "Acho que eu ouvi e li."

Bolsonaro: "Não. Você não..."

Renata: "Ouvi na televisão…"

"Bolsonaro: 'Não, me desculpe a senhora não ouviu. Eu nunca..."

Bonner: "Candidato, nós ouvimos. Se o senhor quiser..."

Bolsonaro: 'Foi no programa da Luciana Gimenez?"

Bonner: "É..."

Bolsonaro: "Mas já existia esse fato em jogo, ela perguntou para mim, eu falei ‘É competência’. Daí ela falou: ‘Ó, as mulheres todas são competentes’. Então, a questão de salário é questão de competência... Na CLT já se garante isso. O salário compatível, desde que não haja mais de dois anos em tempo de serviço a mais entre uma e outro. Olha, isso veio..."

Renata Vasconcellos: "O senhor como candidato à Presidência da República não vai fazer nada para… Ou melhor, como presidente da República, o senhor não fará nada para evitar desigualdades assim?"

Bolsonaro: "Olha, mas é lógico que a gente faria, mas estou falando que o Ministério Público do Trabalho pode ser questionado. Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais…"

Renata: "Candidato, desculpe até, eu vou interromper vocês dois. Sim, eu poderia até como cidadã, e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questionamentos sobre os seus proventos, porque o senhor é um funcionário público, deputado há 27 anos, e eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém. E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu. Mas agora eu vou devolver a palavra ao senhor, para o senhor continuar o seu raciocínio."

4. Livro do "kit gay".

Reprodução/TV Globo

Um dos momentos mais marcantes da entrevista foi quando Bolsonaro mentiu ao falar e mostrar o livro "Aparelho sexual e Cia." na ocasião, ele disse que a publicação fazia parte do chamado "kit gay", que ele disse estar disponível nas escolas.

Mas, na verdade, o livro nunca foi comprado pelo MEC. "Ao contrário do que afirmou erroneamente o candidato à presidência em entrevista ao Jornal Nacional na noite de 28 de agosto, ele [o livro] nunca foi comprado pelo MEC, como tampouco fez parte de nenhum suposto kit gay", disse a Companhia das Letras, em nota.

Com isso, além de mentir em rede nacional, Bolsonaro ainda desrespeitou a regra do "JN" que previa que os candidatos não exibissem qualquer tipo de documento.

Bolsonaro: "Olha só, isso começou a acontecer em novembro de 2010 comigo, até aquele momento era uma pessoa normal, como você é normal por aí no tocante a isso. E eu passando nos corredores da Câmara, vi algo acontecendo de forma esquisita, um grupo que... Não é normal, você ir na praia e encontrar gente de paletó e gravata, ou num fórum, gente de short de banho. E estava um pessoal vestido a caráter, e perguntei, sim, para um segurança: 'Vai haver alguma parada de orgulho gay na Câmara?'. E tomei conhecimento do que estava acontecendo lá. Eles tinham acabado o 9º Seminário LGBT Infantil. Repito, 9º Seminário LGBT Infantil. Estavam discutindo ali, comemorando o lançamento de um material para combater a homofobia, que passou a ser conhecido como “kit gay”. Entre esse material, Bonner, estava esse livro lá, Bonner. Então, o pai que tenha filho na sala agora, retira o filho da sala, para ele não ver isso aqui. Se bem que na biblioteca das escolas públicas tem."

Renata: "Candidato, vou pedir para o senhor não mostrar se as crianças não podem ver."

Bolsonaro: "Não, mas é um livro escolar. É para criança, é um livro para a criança, os pais não sabem que isso está na biblioteca."

Bonner: "Nós temos uma regra, candidato, que eu estou relembrando, com os seus assessores, os candidatos não mostram documentos, eles não mostram papéis..."

Bolsonaro: "Não, mas está aqui no livro, uma prova, isso daqui..."

Bonner: "Eu pediria ao senhor…"

Bolsonaro: "Isso daqui, isso daqui não veio... Tudo bem, vou tirar o livro aqui."

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5. "Se matar 10, 15 ou 20 com dez ou trinta tiros cada um, ele tem que ser condecorado."

Reprodução/TV Globo

Questionado por Bonner sobre falas em que defendeu que a violência fosse combatida "com mais violência ainda", Bolsonaro defendeu o excludente ilicitude e disse que policiais que matam "10, 15 ou 20 com dez ou trinta tiros cada um" merecem ser "condecorados e não processados".

Bolsonaro: "Nós do Exército Brasileiro acabamos de perder três garotos, três jovens garotos, para o crime agora. Nós temos que fazer o quê? Em local que você possa deixar livre da linha de tiro as pessoas de bem da comunidade, ir com tudo para cima deles e dar para o policial, e dar para os agentes da segurança pública o excludente ilicitude. Ele entra, resolve o problema, se matar 10, 15 ou 20 com dez ou trinta tiros cada um, ele tem que ser condecorado e não processado."

Renata: "Mas candidato, como evitar. Desculpe, mas como evitar então uma tragédia maior quando o senhor defende mais violência do que essa que nós já temos. Com tantas balas perdidas…"

Bolsonaro: "Mas a…"

Renata: "Que acometem as pessoas não só dentro e fora das favelas? Ou para o senhor não há alternativa? Só com mais violência?"

Bolsonaro: "A violência é contra quem está com arma na mão. Nós das Forças, do Exército Brasileiro, em especial…"

Renata: "A bala perdida também atinge inocentes."

Bolsonaro: "Então, não vão botar o policial para invadir, como invadiram as comunidades tomadas pelo tráfico. Nós, no Haiti, militares do Exército Brasileiro, sem o preparo que tem o policial militar aqui, resolveu, pacificou o Haiti. Por quê? Nós tínhamos uma forma de engajamento. Qualquer elemento com arma de guerra, os militares atiravam 10, 15, 20, 50 tiros e depois ia ver o que aconteceu. Resolveu o problema rapidamente. Você vê bonde aqui no Rio de Janeiro na Praça Seca, com 20 homens de fuzil. Como é que você tem que tratar essas pessoas? Pedindo para levantar as mãos?"

Renata: "Na sua opinião, com mais violência..."

Bolsonaro: "Dar uma florzinha para eles? Ou atirar? Você tem que atirar, se não atirar, não vai resolver nunca. Enquanto isso continuar acontecendo, infelizmente vão continuar existindo mortes de policiais e integrantes das Forças Armadas em todo o Brasil."

6. Menção a editorial de 1984 em que Roberto Marinho defendia o regime militar.

Reprodução/TV Globo

Pouco antes do fim da entrevista, Bonner citou uma declaração do então candidato a vice, Hamilton Mourão, sobre um possível golpe militar no Brasil. Bolsonaro, então, defendeu a atuação dos militares em 1964 e ainda citou um editorial de 1984 em que Roberto Marinho, um dos donos da Globo, defendia o regime militar.

Bonner: "Os historiadores sérios se referem a 1964, candidato, como um golpe militar. É assim que se trata nos livros, é assim que a história mostra que os fatos se deram. O que eu lhe pergunto, é para o momento que estamos vivendo, eu já dei um salto aqui de três anos. Nós estamos em 2018. Em 2018, o seu vice dar uma declaração como essa, dizer que os militares vão impor uma solução, como fica a Constituição numa situação como essa?"

Bolsonaro: "Olha, no meu entender, foi uma alerta que ele deu e, no mais, deixa os historiadores para lá. Eu fico com Roberto Marinho, o que ele declarou no dia 7 de outubro de 1984, vou repetir aqui."

Bonner: "O senhor vai repetir isso?"

Bolsonaro: "Eu vou repetir aqui: 'Participamos da revolução democrática de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada'. Repito a pergunta aqui: Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata? É a história, nós aqui, tenho certeza, eu não falo..."

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