Cineasta brasileira Sabrina Fidalgo aborda a supremacia branca em seu novo filme e mete o dedo na ferida

"A pergunta que esse documentário faz é: como decolonizar o mundo e o sistema?"

Djamila Ribeiro, Grada Kilomba e Viola Davis. Essas três mulheres gigantes são algumas das entrevistadas no novo filme da cineasta brasileira Sabrina Fidalgo.

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O documentário "Time to Change" ou "Tempo de Mudança", em português, é um projeto da carioca juntamente com o fotógrafo suíço Yvan Rodic, também conhecido como FaceHunter.

Yvan, Sabrina e parte da equipe do documentário "Time to Change". Foto: divulgação

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O filme aborda os impactos negativos da supremacia branca no mundo e parte de dois pontos de vista diferentes: o dela e o de Yvan.

"E são duas visões bem distintas. Ele é um homem branco europeu e eu sou uma mulher negra brasileira", ela conta.

Autora de obras sensíveis e densas, como os premiados curtas "Rainha" (2016) e "Alfazema" (2019), Sabrina aponta que o novo projeto tem como base uma pergunta: "Como decolonizar o mundo e o sistema?"

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Decolonização é um termo usado para a desconstrução dos padrões impostos pelo eurocentrismo. "Se chegamos a esse nível de loucura nesse país, não foi à toa. Isso também é parte desse processo colonial", ela fala.

DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/Getty Images

"O Brasil foi uma colônia de exploração. O projeto era acabar com tudo, roubar tudo, sugar todos os bens, todas as coisas incríveis e maravilhosas até não sobrar mais nada", pontua a diretora.

Para ela e Yvan, é preciso revisitar o passado para mudar o futuro. Também por isso, a ideia é fazer o filme chegar longe, não só no público que já está acostumado às pautas antirracistas. "As pessoas não têm consciência, inclusive as que tiveram acesso à escola, porque isso não é ensinado devidamente. A escola sempre passa uma ideia de glorificação de todo esse passado colonial como se fosse uma coisa incrível... De que as caravelas chegaram e os índios não queriam trabalhar, então tiveram de importar africanos que foram escravizados e que depois se rebelaram".

Sabrina entende que o que vivemos hoje é uma consequência do que aconteceu no passado e também uma perpetuação, já que as informações do Brasil colônia seguem sendo deturpadas e romantizadas.

"Isso tudo é um grande caô que foi contado pra gente na escola. Eu aprendi assim, todo mundo aprendeu assim."

Como prova dessa perpetuação, ela cita monumentos racistas pelo país, como o Borba Gato em São Paulo. "Aqui no Rio temos a estátua da Princesa Isabel, como se ela fosse a grande heroína de um processo que, na verdade, começou desde o primeiro africano que botou o pé aqui nesse país, porque aí se originaram as rebeliões. Só que a gente não aprende dessa maneira", dispara.

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"Acho que esse filme é uma forma de reeducarmos as pessoas pra que elas tenham consciência. Se a gente não entender o nosso passado, vamos continuar repetindo essa história toda, esse projeto colonial de destruição."

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"Time to Change" é uma produção da Gulanne Entretenimento e ainda está em fase de captação de recursos.

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"Já filmamos uma parte", adianta Sabrina. "Vamos fazer algumas filmagens agora em outubro na Europa e, tudo dando certo, é um filme que vai estar pronto no ano que vem."

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Num momento de desmonte da cultura brasileira durante a era bolsonarista em que vivemos, é admirável a coragem de Sabrina e Yvan.

E o que mais precisamos, como diz o nome do filme, é de mudança. "São quase 600 anos de um ideal de supremacia branca", lamenta a cineasta.

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