Agnes Nunes fala sobre amadurecimento: "Aprendi a ter paciência comigo mesma e saber que não sou um robô"

Artista desponta como sucesso de sua geração

Agnes Nunes só tem 19 anos e é parte da uma geração que vai levar a MPB a diferentes patamares. Sua carreira começou com covers publicados nas redes sociais. O material, sempre bastante elogiado, não demorou a entrar no mainstream e rapidamente conquistou seu espaço. Em entrevista exclusiva para o BuzzFeed Brasil, ela falou sobre suas conquistas, futuro, responsabilidades e parcerias.

Foto: Lucas Nogueira

Seu primeiro álbum, "Menina Mulher", foi lançado no início de 2022. O processo criativo levou quatro anos, além de dois anos em produção. Ou seja, Agnes vem trabalhando neste material desde os 15 anos e várias fases de sua vida foram retratadas ali.

"Eu pensei em esse CD ser todo autoral e solo principalmente porque a maioria das pessoas me conheciam pelas interpretações e covers que eu fazia. E aí eu falei: 'nossa, é meu primeiro álbum, o álbum de lançamento, eu quero que as pessoas conheçam mais de mim', até porque as pessoas tinham essa curiosidade de ouvir mais sobre mim, de ouvir mais sobre os meus pensamentos, sobre o que eu sentia, e aí eu senti essa necessidade de fazer esse álbum todo autoral, né? A única música aqui não autoral é 'Papel Crepom', mas mesmo assim, de um jeito ou de outro, eu meio que peguei ela pra mim e acabou virando uma das mais importantes. Eu acho que não tem nada mais bonito do que o trabalho do produtor que consegue traduzir os sentimentos do artista. Então eu fiz questão de participar de todos os processos, principalmente por ser o meu primeiro álbum, por ser o meu primeiro filho. E, na verdade, eu sou assim em todos os meus trabalhos, eu gosto muito de fazer parte de tudo que me envolve, né? Além de estar ali por dentro e de aprender coisas novas, de conhecer instrumentos novos e novas referências."


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Com a produção do disco, veio um amadurecimento misturado com autoconhecimento.

"Eu chegava no estúdio às vezes e o instrumental estava pronto, o Neo [Neo Beats, produtor] tinha feito um instrumental pensando em mim e eu cantava. Mas também tiveram vezes que eu chegava no estúdio e não fazia nada, não conseguia compor nada, voltava pro quarto e não conseguia compor nada. Inclusive isso me ajudou a ter paciência comigo mesma e saber que eu não sou um robô, né? Eu sou literalmente um ser humano, um ser humano e tenho sentimentos, tenho emoções e às vezes eu escrevo muito bem, às vezes eu escrevo um cocô, e aí foi assim…"

Seu sucesso pode ser retratado por números. No Spotify ela possui quase 1,5 milhão de ouvintes mensais, algo surpreendente para uma iniciante.

"Nossa, é muita gente, né? É muita gente e eu fico muito feliz com o resultado que a música tem me dado, com a vida que a música tem me proporcionado e é muito bom você poder viver dos seus sonhos e ter pessoas que acreditam nele. Sabe? Que toda vez que eu paro pra pensar nisso eu fico confesso que eu fiquei até emocionada. Eu não imaginava isso. Eu morava numa cidade pequena e as expectativas disso acontecer eram muito pequenas. Inclusive eu comecei a acreditar muito mais em mim depois que tudo começou realmente acontecer, sabe? Acreditar que é possível e fazer as pessoas acreditarem também que é possível pra ela. Eu fico feliz demais, né? Das pessoas acreditarem nelas mesmas. Saberem que é possível repetir isso sempre, as pessoas têm que acreditar mesmo assim sabe? Não se duvidar tanto e meter a cara a tapa mesmo e se você quer isso vai estudar, vai se aprofundar, se você quer ser cantora vai estudar o campo, vai saber a história da música, sabe? Eu sempre falo, estudo, estudo, estudo até não querer mais. Eu estudo todos os dias, eu aprendo dias, eu leio todos os dias. Eu sou uma pessoa que sou extremamente apaixonada pelo que eu faço. Sou muito feliz fazendo o que eu faço. Cada entrevista que eu dou é por causa da minha música. Cada cada música que sai, cada show que é contratado. Cada publicidade que eu faço foi a música que me deu e eu sou extremamente feliz. Sendo que eu sou e fazendo o que eu faço."

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Neste final de semana, Agnes começou uma série de shows pelo Brasil, e em breve ela estará na Europa, se apresentando em lugares bastante conceituados.

"Eu estou muito ansiosa. Os shows deram sold out (esgotado) e a gente está tendo que abrir sessões extras. Estou muito feliz e ansiosa. Esses são os dois sentimentos que estão prevalecendo, minha ansiedade e felicidade. Estou louca pra conhecer meu público, de Portugal, da Inglaterra, eu estou incrédula, juro!"


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Paralelo ao seu álbum, Agnes tem sido agraciada com grandes parcerias musicais. Ela já dividiu o microfone com medalhões da música nacional como Xamâ, Ivete, Chico César e até Elza Soares.

"Todas as parcerias que eu fiz até agora agregaram muito e sãom pessoas que eu sei que vão me enriquecer não só musicalmente, mas intelectualmente também, sabe? Por exemplo, minha parceria com Xamã, a gente criou uma amizade, uma irmandade muito, muito, muito forte. Hoje a gente conta muito um com o outro para várias coisas. Eu aprendo muito a escrever com ele, e ele está aprendendo a tocar teclado. O Chico César me ensinou muito também. São pessoas que viraram meus amigos e que a gente conseguiu criar uma relação muito legal para além da música. A Ivete é perfeita, foi incrível ter conhecido ela e fiquei muito feliz que ela me escolheu para participar do projeto (Onda Boa) e fiquei muito feliz por ela ter me acolhido da forma que ela me acolheu, foi uma das experiências mais incríveis da minha vida."

A infância de Agnes foi cercada por episódios de bullying e racismo, com comentários sobre seus cabelos e cor da sua pele. Ela guardava para si as mágoas e somente agora, na vida adulta, se sentiu confortável para falar. Hoje, usa sua música para ajudar as pessoas a passarem por isso.

"É uma responsabilidade muito grande, sabe? Mas eu tenho que transformar isso em música e passar para as pessoas da forma mais leve e mais receptiva possível, para que elas entendam em bom tom tudo o que eu passei. Foram situações que venho pensando muito, e já entendo que se eu não tivesse passado por tudo isso, eu não teria força para falar com as meninas e meninos que sofrem essas mesmas coisas. 

Eu acho que as pessoas se identificam, porque os meninos e meninas que são negros e que vivenciam esses episódios de racismo, eu acho que tudo que eles querem é alguém pra conversar. Eu não conversava com ninguém, nem para a minha mãe eu contava. Ela ficava muito preocupada porque eu me trancava no quarto, ficava tocando e cantando e era a única forma que eu achava de aliviar. Eu não compartilhava com ninguém. Mas ao mesmo tempo eu não queria compartilhar, sabe? Por mais que eu soubesse que ela ia me entender, ela não passou pela mesma coisa que eu passava. Quando eu contava para ela, ela me dava muita força, mas eu tive que aprender a me ajudar sozinha mesmo. Você aprende a lidar quando tem outras pessoas com quem você possa conversar, que passaram ou estejam passando pelo mesmo que você".

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Sobre seu futuro, Agnes é cautelosa. Ela está curtindo o momento e deixando as coisas acontecerem.

"Tem muitos trabalhos vindo pela frente. Mas 'Menina Mulher' está aí, né? Um passo de cada vez. Estou muito feliz com cada coisa que tem acontecido, são coisas muito especiais que tem me deixado muito feliz e realizada."

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