Conheça o novo favorito da corrida presidencial na França

O ex-primeiro-ministro François Fillon dominou a primeira rodada das primárias de centro-direita no último domingo (20), à frente do prefeito de Bordeaux, Alain Juppe, e do ex-presidente Nicolas Sarkozy.

Thomas Samson / Reuters

O primeiro turno das primárias do Les Républicains, partido de centro-direita da França, terminou com um resultado que já virou costume: algo que ninguém esperava. O candidato melhor conhecido pela comunidade internacional, Nicolas Sarkozy, sofreu uma derrota esmagadora, que provavelmente dará fim à sua carreira política.

Agora, disputarão a candidatura do Les Républicains, no próximo domingo, o ex-primeiro-ministro François Fillon e o prefeito de Bordeaux, Alain Juppe. O vencedor deverá ser o candidato de oposição favorito na corrida pela sucessão do presidente socialista François Hollande.

Durante meses, Fillon foi um distante terceiro lugar nas pesquisas. No entanto, na última semana de campanha, ele conseguiu uma onda de apoio que lhe garantiu 44% dos votos no primeiro turno das primárias. Seu desempenho foi dominante em todo o país.

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Até 24 horas atrás, Juppe era o favorito para ganhar as primárias e a Presidência da França. Embora alguns dos eleitores que diziam que votariam em "qualquer um menos Sarkozy" possam pender para o prefeito Bordeaux, Fillon, que serviu como primeiro-ministro sob Nicolas Sarkozy de 2007 a 2012, é visto como o candidato com maior probabilidade de ganhar a nomeação.

Em termos de eleição presidencial, que será disputada em 2017, ambos os candidatos detêm uma vantagem confortável sobre Marine Le Pen, candidata da extrema direita. No entanto, a vantagem de Fillon é vista como menos dominante.

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Tanto Fillon quanto Juppe são vistos como candidatos da elite política. No entanto, eles têm visões muito diferentes sobre uma série de questões cruciais.

Economicamente, Fillon é um Thatcherite, uma posição ousada na França. Ele promete diminuir o tamanho do Estado, cortando 500 mil empregos no setor público e cortando gastos sociais. Se Fillon vencer a nomeação do Les Républicains, suas promessas de reforma da aposentadoria e do mercado de trabalho serão impopulares entre muitos eleitores da esquerda, alguns dos quais podem estar mais em sintonia com a proposta econômica de Le Pen do que com a do candidato de centro-direita.

Enquanto isso, muitos progressistas franceses estão preocupados com o conservadorismo de Fillon. O ex-primeiro-ministro é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a reprodução assistida para casais de lésbicas e mulheres solteiras. Ele se opõe a adoções por casais LGBT, e, se eleito, prometeu consagrar em lei o princípio de que uma "criança é sempre fruto de um pai e uma mãe". Em 1982, ele votou contra a descriminalização da homossexualidade. Na votação de domingo, o ex-primeiro-ministro recebeu forte apoio de várias redes e movimentos católicos da França.

A posição de Fillon sobre essas questões deve atrair parte da extrema direita francesa. Embora Fillon não tenha adotado a retórica divisiva de Sarkozy, ele é visto como sendo mais extremista do que Juppe. Durante a campanha, ele publicou um livro sobre "derrotar o totalitarismo islâmico" e disse que "não há problema religioso na França. Há um problema com o Islã".

Como Sarkozy, Fillon pediu uma reaproximação do país com a Rússia. Há a hipótese de que a posição francesa sobre as sanções contra o governo de Moscou mudará se Fillon conquistar a Presidência e que ele mudaria a política do país dentro da União Europeia.

Em matéria de política externa, Fillon, em muitos aspectos, se enquadra na visão tradicional da direita francesa. Antes da votação de domingo, Alex Clarkson, conferencista em Estudos Alemães e Europeus e Estudos Internacionais na Faculdade King, de Londres, disse ao BuzzFeed News que "dentro da direita francesa, desde de Gaulle, sempre houve um apego sentimental à noção de que os russos podem ser 'civilizados' e transformados em um parceiro europeu".

"Mas isso não significa que, se os russos ameaçarem os interesses franceses, os gaullistas ou Le Pen não voltarão atrás impiedosamente para afirmar seus interesses. ... O sentimento vai apenas até certo ponto", acrescentou.

O ex-primeiro-ministro também sugeriu que a França deveria cooperar com o ditador da Síria, Bashar al-Assad, na luta contra a facção terrorista Estado Islâmico. Na luta contra o terrorismo e em áreas de interesse geopolítico para a França, ele verá tanto Moscou quanto Damasco como parceiros, não adversários.

Na década de 1990, Fillon fez campanha contra o Tratado de Maastricht. No entanto, recentemente, se envolveu em uma agenda pró-UE. Em relação ao Brexit, um governo de centro-direita não deve ser muito diferente da atual administração socialista: a França deverá continuar tendo uma das posições mais duras entre os 27 Estados com os quais o Reino Unido estará negociando.

Este post foi traduzido do inglês.

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