Caso Evandro: esse grupo do Face discute o crime com os envolvidos

Mais de 9 mil membros debatem sobre o assassinato. Entre eles, as Abagge e outros acusados.

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Na primeira vez tomei um susto. Nem lembrava mais que o aplicativo do Facebook seguia no meu celular, quando veio a notificação: “Beatriz Abagge comentou numa publicação que você está seguindo”. Pera... Que?

O nome não era estranho pra mim, e nem outros milhões que acompanharam O Caso Evandro. Para quem não está familiarizado, trata-se de um crime que inquietou o país em 1992. Nele, Evandro Caetano, de 6 anos, foi morto de maneira brutal na pequena Guaratuba, PR.

Abagge é central nessa história. Ela foi uma das principais acusadas do crime. 

Eu e Beatriz estávamos no mesmo grupo de Facebook. Não por acaso. Com o autoexplicativo nome “Discutindo o Caso Evandro - Projeto Humanos”, a comunidade reúne mais de 9 mil pessoas que debatem sobre o desaparecimento do menino paranaense. Mais do que um fandom genérico, o espaço se tornou uma plataforma para que os acusados pudessem tomar a narrativa para si. E, finalmente, defenderem sua inocência. 


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“O Podcast ainda estava bem no início, quando vi, nos comentários de uma matéria sobre o caso, um comentário pedindo a criação de um grupo sobre o tema. Era a Mariana Costa, que eu não conhecia, mas criou o grupo junto comigo”, conta Bruno Ruiz, administrador da comunidade desde 2018. 

De pouquinho em pouquinho o grupo foi crescendo, acompanhando a popularidade do podcast (que passou dos 4 milhões de downloads). É aí que a parada fica interessante. 

O administrador do grupo percebeu não só que Beatriz tinha Twitter, como que ela respondia todo mundo. Mandou uma DM e passaram a madrugada toda trocando mensagens. Se convenceu da inocência. “Eu falei da existência do grupo e que ali as coisas talvez não seriam boas pra ela, mas que eu ia tentar ajudar pra tentar convencer os outros. Ela entrou mesmo assim", conta. 


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“No início houve uma discussão enormeeee sobre minha presença!”, me contou - por mensagem, ali mesmo, no Face - Beatriz Abagge. “Muitos não se sentiam confortáveis de questionar, pois eu certamente rebateria. É o que eu venho fazendo há quase três décadas”.

Os sete acusados

Nos últimos anos, principalmente por conta do podcast (e agora com a belíssima série do Globoplay), a percepção popular sobre o caso tomou outros rumos. 

Evidências recentes provaram que confissões, fundamentais para a condenação, haviam sido obtidas por meio de tortura.


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De vilões, os sete principais acusados do caso (que têm Beatriz e sua mãe entre eles) passaram a ser reconhecidos como vítimas de uma violência policial injustificável. 

E, a internet é o lugar perfeito para que essas pessoas pudessem impulsionar suas vozes. 

Isso fez com que não fosse só Beatriz que estrasse no grupo. Sua mãe (Celina Abagge), Airton Bardelli, e outros acusados também dão as caras por ali. 

Logo, o lugar se tornou um espaço para ouvi-los. 

“Faço questão de dizer: ninguém da administração é imparcial. Todos acreditamos piamente na inocência, então conduzimos os trabalhos para que as pessoas envolvidas e suas famílias sejam respeitadas”, afirma Bruno.

“Acreditar na culpa é um direito, mas procuramos sempre balancear isso. É uma história real, as linhas das coisas são tênues, os limites são pouco evidentes”, completa.

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O boom

Hoje o grupo conta com mais de 9 mil participantes, mas esse número é recente. Levaram quatro anos para que os primeiros ⅔ dos membros aparecessem. Os últimos 3 mil pipocaram nas últimas semanas. É o poder da TV. 

A série atraiu novos curiosos; antigas questões. 

“Na era pré-série, tivemos discussões muito aprofundadas sobre tudo. O grupo possui peritos, servidores públicos, advogados criminalistas, biólogos. Gente muito boa no que faz.”, conta Bruno. “Agora, é como se voltássemos a estaca zero. Primeiro, porque a série não é tão aprofundada, segundo, o perfil de quem assiste é mais casual. As pessoas vem muito cruas”, completa.

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