Opinião: A morte de Marcelo Arruda lembra o assassinato de um diplomata nos tempos da ditadura

O José Jobim do Paraná.

José Pinheiro Jobim foi um economista e diplomata brasileiro, morto político da ditadura militar brasileira, cujo inquérito sobre a morte foi marcado pelo imenso esforço das forças policiais para esconder o caráter político de seu assassinato. Jobin foi morto por saber de um escândalo de corrupção do governo militar em Itaipu. Diferente de Jobin, o caso do assassinato do militante petista, Marcelo Arruda, não foi orquestrado pelas forças de segurança, embora as forças policiais também estejam em um notório esforço para negar o caráter político do crime.

Reprodução/Internet

A conclusão da delegada Camila Cecconello é digna de outros inquéritos e investigações infames da história de crimes políticos do Brasil.

Por exemplo: o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, antes mesmo do inquérito concluído, a Polícia Federal negou que existisse qualquer mandante para crime, isso com apenas algumas horas de investigação! 

Semanas depois, prenderam o mandante do crime. Mandante este, que segundo a PF, numa conclusão apressada, não existia. Uma decisão cínica e apressada assim como foi com José Jobim.

Mas voltando ao caso de Foz do Iguaçu...

O homicida foi ao local da festa por motivo político ao descobrir que a festa tinha como ema o ex-presidente Lula e o Partido dos trabalhadores, discutiu com o aniversariante e convidados por motivo político e entrou atirando e gritando o nome de Jair Bolsonaro!

A briga começa por um motivo político e na hora do homicídio, DO NADA, a motivação política desaparece na hora dos disparos? É isso mesmo?

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Pode-se sim questionar se foi ou não um crime político, mas não que há uma estridente motivação política por trás do crime! São conclusões como essas que justificam o autoexílio de políticos e militantes de esquerda nos últimos anos já que a perseguição política e crimes com motivações políticas podem ser minorados como crimes passionais.

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Em uma campanha política onde os atos de campanha do principal candidato e opositor do presidente Jair Bolsonaro é alvo de seguidos ataques, sejam com bombas ou produtos químicos é extremamente grave que o assassinato de um apoiador do ex-presidente Lula seja tratado desta maneira.

É muito vergonhoso ver Brasil, após 30 anos de redemocratização regredir de forma tão atroz e mais uma vez assistirmos as forças politicais, que assim como José Jobim, negarem o caráter político de um crime que só ocorreu por motivações políticas.

Ao mesmo tempo que generais ameaçam e atuam de maneira acintosa contra o processo eleitoral brasileiro.

Tudo sob a batuta de um presidente que estimula a violência com suas retóricas e que já deu todos os sinais possíveis de que irá tumultuar a República caso as urnas lhe desagradem.

Se até então a democracia brasileira respirava (mesmo que sob aparelhos), hoje, após a conclusão da delegada Camila, sofre com uma parada cardiorrespiratória.

Eu que até então me negava a dizer isso, admito: a nossa democracia está em risco. 

É necessário que a sociedade civil esteja mobilizada e pronta contra qualquer intentona ou escaramuça contra o Estado Democrático de Direito e a ordem democrática.

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