A história LGBTQIAP+ na música preta

Não dá pra falar de cultura e música contemporânea mundial sem a presença LGBTQIAP+.

Em 1923, Ma Rainey já estava gravando suas músicas. Ela foi uma das primeiras mulheres negras do mundo a entrar num estúdio para fazer gravações.

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Ma Rainey era bissexual e, em 1928 (pasmem! quase 100 anos atrás), já havia lançado uma canção com referências explicitamente lésbicas e sobre usar roupas fora do padrão de gênero, no blues “Prove It On Me”.

A música preta sempre foi visceral e honesta. Embora nem tudo fossem flores, muitos artistas corajosamente caminharam por temas que, até hoje, são tabus sociais.

Na foto, Ma Rainey e sua banda em Chicago.

Em 1954, The Charmer compõe e lança um calypso falando sobre Christine Jorgensen, a primeira mulher trans publicamente conhecida por ter realizado uma cirurgia de redesignação sexual. Nessa mesma época, desponta um dos pioneiros do Rock’n’Roll: Little Richard.

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Ele foi expulso de casa por seus “trejeitos afeminados” e gostar de usar as maquiagens da mãe. Embora só tenha revelado para a imprensa nos anos 1980, Richard nunca escondeu sua sexualidade de quem o conhecia.

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Já por aqui, no berço do samba, nasce Leci Brandão, primeira mulher a integrar a ala de compositores da Mangueira. E, talvez, a primeira desse universo a falar de forma aberta sobre sua sexualidade. Em 1978, a sambista deu uma entrevista ao jornal Lampião da Esquina, em matéria entitulada “Leci Brandão: Mulher, negra e homossexual”. Poucos anos antes, em 1975, o controverso, muitas vezes odiado, mas inegavelmente brilhante cantor Agnaldo Timóteo lançava uma das primeiras canções de temática abertamente homossexual da música popular brasileira: “A Galeria do Amor”. Foi sua primeira composição própria gravada, de valor inestimável à música romântica e à música brega.

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Em 1978, a sambista deu uma entrevista ao jornal Lampião da Esquina, em matéria intitulada “Leci Brandão: Mulher, negra e homossexual”.

Poucos anos antes, em 1975, o controverso e muitas vezes odiado (mas inegavelmente brilhante) cantor Agnaldo Timóteo lançava uma das primeiras canções de temática abertamente homossexual da música popular brasileira: “A Galeria do Amor”. Foi sua primeira composição própria gravada, de valor inestimável à música romântica e à música brega.

Lá pro norte do nosso continente, mais especificamente em Chicago (nos EUA) dos anos 1980, gays e trans pretas e latinas estavam no rolê criando o gênero que balançaria toda a música eletrônica, mantendo sua influência e relevância na cultura popular até os dias de hoje.

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Sim, a House Music é preta! Assim como a Techno, filha do House, com os pioneiros Juan Atkins, Derrick May e Kevin Saunderson. Por que hoje, então, vemos majoritariamente homens brancos, heterossexuais e cisgêneros no mainstream do gênero? Por que são eles que estão comandando festivais e fechando negócios em gravadoras?

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No Rock acontecia exatamente a mesma coisa. Mas, contrariando todas as estatísticas possíveis, a mulher negra e lésbica Tracy Chapman levaria o Grammy Awards da categoria “Melhor Canção de Rock”, em 1997, com “Give Me One Reason”. Mais um para sua coleção de 4 prêmios Grammy.

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De mãe guianesa e pai serra-leonês, o britânico Dev Hynes, mais conhecido por seu projeto Blood Orange, é um cara completamente diferenciado. De 2007 pra cá, Dev tem feito vários álbuns e trilhas sonoras, além de compor e produzir para artistas como Solange, Sky Ferreira, Carly Rae Jepsen, FKA Twigs, Willow, A$AP Rocky… A lista é enorme.

Em seus próprios projetos, uma marca muito forte: muitas referências das subculturas LGBTQIAP+ e reflexões sobre raça, gênero, sexualidade etc.

Na imagem, a capa do disco "Cupid Deluxe" do Blood Orange.

De volta ao Brasil, Liniker sacode a chamada “Nova MPB” com sua voz. Monna Brutal quebra o Hip Hop com seu talento e deixa qualquer homem hétero no chão. Lil Nas foi um dos primeiros a beijar outro homem preto no palco do Bet Awards, na última semana. Frank Ocean mudou os rumos do R&B, assim como Gloria Groove em seu EP “Affair”. MC Dricka ganhando a Times Square. Kaytranada, Clara Lima, Ludmilla… É impossível contar a história da música contemporânea sem a presença LGBTQIAP+.

Rogério Fernandes

A artista Monna Brutal.

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Texto de Jun Alcantara

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