"É uma fábula suburbana", diz Rodrigo França, diretor de "Barba, cabelo e bigode", novo filme da Netflix

Longa brasileiro já está disponível no streaming.

"Barba, cabelo e bigode" poderia ser uma dessas animações estrangeiras que a gente leva os filhos e sobrinhos para ver no cinema. Mas não, trata-se do novo filme brasileiro da Netflix, dirigido por Rodrigo França e roteirizado por Anderson França.

Aqui, a história e os sonhos de um jovem negro do bairro da Penha (RJ) é contada a partir da ótica do diretor de 44 anos (sendo 30 só de carreira), ex-morador do mesmo bairro.

Na última quinta-feira (21), o BuzzFeed Brasil conversou por videochamada com o diretor, que você provavelmente deve conhecer do "BBB 19". Roteirista, ator, escritor e dramaturgo, ele, estreia na direção de um longa-metragem. E a chancela para o posto veio logo da atriz Léa Garcia, que tem 89 anos, além de inúmeros trabalhos na TV, teatro e cinema.

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"Em um momento ela virou para mim, na frente de todo mundo e falou: 'O que o senhor quer que eu faça, meu diretor?' E eu entendo essa fala como uma chancela. A generosidade dela fez cair a minha ficha ali", conta.

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Na entrevista, França definiu "Barba, cabelo e bigode" como uma "fábula suburbana". Nela, Richardsson (Lucas Koka Penteado) tenta encontrar seu caminho dentre da equação que reúne seus sonhos, as expectativas da mãe e as possibilidades que a vida apresenta.

Vantoen Pereira Jr/NETFLIX

"É uma fábula suburbana, por isso das cores e da forma de se relacionar. Porque a gente não vive rindo, tem que ter algum ponto em que você pare e pense. Não de uma maneira panfletária, mas sobre o dia a dia, o cotidiano, sobre o que é ser feliz, o que é sonhar e sobre o que é alguém determinar o que você deve ser, por mais que seja a sua mãe", comenta.

"Acho que o filme traz essas questões de uma forma muito delicada. Richardson é um herói, mas um herói com suas falhas humanas. E isso é delicioso", diz França.

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Além dos atores já citados, o filme tem no (grande) elenco nomes como Juliana Alves, Rebecca, MV Bill, MC Carol, Yuri Marçal, Jeniffer Dias, Sérgio Loroza, Neuza Borges, Luana Xavier, Xando Graça, Nando Cunha, Bruno Jablonski e Leandro Santanna.

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Como você deve ter percebido, França não é o único ex-BBB no projeto. Por coincidência, ele conta com Danrley Ferreira e Gabi Hebling, ambos do "BBB 19". Além, claro, de Lucas Penteado ("BBB 21") e Juliana Alves ("BBB 3").

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"Foi coincidência, embora eu não acredite em coincidências. Tem uma palavra que eu amo que é a ancestralidade. O filme termina com uma frase antes dos créditos 'muitas vezes fazemos aquilo que nunca sonhamos, mas que nossos ancestrais desejaram'. Eu sou muito dessa relação. Não estava relacionado, foi uma feliz coincidência", explica.

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Assim como o protagonista do filme, França também passou a adolescência no bairro da Penha (RJ) e isso deu a ele boa parte da bagagem necessária para estar à frente do longa.

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"No fundo, a gente não larga esse menino suburbano, com sonhos, apaixonado. Porque é preciso ter muita paixão quando se mora no subúrbio, no morro ou em uma favela. Porque a vida é tão dura, que você precisa sonhar, para poder acreditar, sair de casa, trabalhar. Desde sempre eu quis falar sobre família, sobre essa relação de comunidade, em que uma pessoa cuida da outra, interfere positivamente na vida da outra. Acho que o Richardson tem do Rodrigo isso do jovem sonhador, que nunca imaginou chegar a tanto", diz.

E é dessa vivência que vem as principais referências de França na direção de "Barba, Cabelo e Bigode."

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"A vantagem de dirigir um filme do subúrbio tento saído do subúrbio é essa. A gente não ri do outro, a gente ri de si. Então tenho uma referência de vida, de família e muito de beber em fontes como Spike Lee, isso está ali nas cores, na brincadeira sobre si. Muita gente ali é da Penha e isso traz um olhar em que a risada é construída de uma maneira natural, não estereotipada", comenta.

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Neste sentido, o diretor também destaca como a diversidade e o lugar de fala são importantes no audiovisual.

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"O filme se encontra nesse 'pretagonismo' quando você detém a possibilidade de narrar a sua vida não tendo segundos ou terceiros achando que você se comporta ou vive de tal maneira. Ser protagonista da sua vida é ser dono da sua história. E a gente faz essa analogia para reforçar esse contexto de negritude em que a gente precisa cada vez mais contar a nossa história", diz.

Não por acaso, a equipe de produção do filme foi formada por aproximadamente 85% de profissionais negros. "O audiovisual hoje tá muito focado nessa relação de não errar ou errar menos. O que tem a ver com linguagem, com universo, com cultura, pessoas que estão dentro de determinados grupos falarem desses grupos, não pessoas de fora", reflete.

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"Narrativa é poder, e isso é a reflexão dos últimos três, quatro anos da minha vida. Caminhamos muito para entender que precisávamos estar em frente às câmeras. Mas não é o suficiente, porque às vezes isso acontece a partir de uma fala ou de um contexto que não nos cabe. Então queremos ter a oportunidade de a gente também narrar a partir de uma direção, a partir de um figurino, a partir de um roteiro."

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"Barba, cabelo e bigode" entra no catálogo da Netflix nesta quinta-feira (28).

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