Está na hora de dar crédito às mulheres negras da moda que inspiraram os looks de Billie Eilish

Mulheres negras já arrasavam usando streetwear folgado e extravagante muito antes de Billie nascer.

Você provavelmente já ouviu falar de Billie Eilish. A cantora de 17 anos e nova fenômeno do pop chegou ao topo das paradas do mundo inteiro com seu álbum de estreia, "When We Fall Asleep, Where Do We Go?".

Rich Fury / Getty Images

Ela também venceu todos os prêmios importantes ao qual foi indicada no Grammy 2020, incluindo Melhor Artista Revelação.

Deixando de lado sua impressionante carreira musical, Billie também foi coroada como ícone do estilo por milhares de publicações, várias delas elogiando o pioneirismo da estrela ao usar chamativas peças de streetwear que desafiam as normas de gênero da moda.

Marc Piasecki / GC Images, Kevin Winter / Getty Images,

E quando falo de streetwear estou me referindo a roupas largas, peças que não se preocupam com a silhueta, roupas esportivas que são tendência, camisetas estampadas, muito brim e, obviamente, os tênis mais bombados do momento (como os Air Force 1, Chunky FILA, etc.).

Publicidade

Mas não vim aqui hoje para falar do estilo de Billie. Vim aqui para dar o devido crédito aos ícones fashion da música que foram pioneiras no streetwear feminino, muuuito antes de Billie nascer. Porque, como a maioria das modas inovadoras e indiscutíveis e tendências de beleza, essa onda teve início com as mulheres negras.

Rich Fury / Getty Images

A propósito, eu sei que Billie já falou sobre o porquê de utilizar roupas largas – para evitar a objetificação e a hipersexualização – e como ela se identifica com o uso da moda como um "mecanismo de defesa" de Rihanna. Ainda assim, nada disso elimina o fato de que as grandes contribuições destas mulheres e a influência delas na moda e cultura globais estão sendo deixadas de lado nos debates sobre o estilo de Billie.

1. O SWV nos deu a oitava maravilha do mundo, "Weak", e outras músicas atemporais como "Right Here (Human Nature Remix)" and "You're the One", por isso o grupo de R&B poderia subir ao palco vestindo sacos de batata que ainda teria milhares de fãs ardorosos.

Nbc / Getty Images

Publicidade

Mas Leanne "Lelee" Lyons, Cheryl "Coko" Gamble e Tamara "Taj" Johnson constantemente arrasavam em seus looks, provando que cantoras e streetwear "masculino" podiam andar juntos.

Tim Mosenfelder / Getty Images

2. O Xscape foi outro grupo de R&B de grande sucesso nos anos 90 que cantava vestindo roupas urbanas.

Al Pereira / Getty Images

Publicidade

O quarteto norte-americano lançou sua bem-sucedida carreira no R&B dos anos 90 com a música "Understanding" e o hit de platina "Just Kickin' It". Nos clipes dessas músicas, Kandi Burruss, Tameka "Tiny" Harris, LaTocha Scott e Tamika Scott apareciam com as roupas mais largas e descoladas da época.

3. E não é possível* falar sobre ícones musicais do streetwear SEM mencionar Aaliyah Dana Haughton. Aposto o meu próximo contracheque que só aquele look clássico dela da Tommy Hilfiger gerou centenas de milhões em vendas à marca.

Time & Life Pictures / The LIFE Picture Collection via

*Aparentemente, é possível SIM. Por isso estou escrevendo esta lista...

Publicidade

A Babygirl levou sua estética irredutível ao cenário predominantemente branco das princesas do pop, ampliando e diversificando a tendência do streetwear em uma escala global.

Fred Duval / FilmMagic, Jeffrey Mayer / WireImage

E se você ousar discutir isso, eu terei de desafiá-lo para um desafio dançante ao som de "Are You That Somebody?".

4. O senso fashion e a beleza de Da Brat são incomparáveis, assim como o pioneirismo dessa garota.

Time & Life Pictures / The LIFE Picture Collection via

Publicidade

O seu álbum de estreia, "Funkdafied", lançado em 1994, tornou-se o primeiro álbum de uma cantora solo de rap a ganhar a certificação de platina. E seu estilo contagiante e cheio de swing a tornou uma figurinha carimbada do cenário, frequentemente colaborando com superestrelas como Brandy, Destiny's Child, e Mariah Carey.

Time & Life Pictures / The LIFE Picture Collection via , Time & Life Pictures / The LIFE Picture Collection via

5. Tenho três letras para você: T-L-C.

Ron Galella / Ron Galella Collection via Getty

Caso você não saiba, Rozonda "Chilli" Thomas, Tionne "T-boz" Watkins e Lisa "Left Eye" Lopes ainda detêm o título de grupo feminino mais vendido dos Estados Unidos, ficando apenas atrás das Spice Girls em vendas no mundo todo. Elas venderam mais de 85 milhões de discos, e seus álbuns e músicas que alcançaram o topo das paradas de sucesso – como "Creep", "Waterfalls", "No Scrubs" e "Unpretty" – podem ser encontrados em qualquer lista (bem feita) de melhores de todos os tempos.

Publicidade

Durante sua ilustre carreira de mais de uma década, o TLC experimentou com trajes avant-garde, ditou tendências inovadoras e demonstrou o poder e o impacto ilimitados do charme da garota negra através da música e da moda. E por isso, eu serei sempre grata a elas!

Jim Smeal / Ron Galella Collection via Getty, Steve Eichner / WireImage, Tim Roney / Getty Images

6. E temos ainda a inigualável rapper/cantora/compositora/produtora Missy Misdemeanor Elliot.

Ron Galella / WireImage

Publicidade

Por onde eu começo? O catálogo de streetwear dessa diva é incomparável, independentemente de gênero.

Kevin Mazur / Getty Images, Jeff Kravitz / FilmMagic, Inc

Entre roupas utilizadas em clipes e em aparições no tapete vermelho, Missy criou alguns dos estilos mais visualmente deslumbrantes da história da música, incluindo esta lendária roupa de "mulher Michelin" – criada pela estilista June Ambrose. Chamá-la de gênio criativo seria um enorme eufemismo.

Steve Eichner / Getty Images

Se você nunca assistiu ao clipe de "The Rain (Supa Dupa Fly)", provavelmente clipes não são sua praia. Em 2017, Missy falou à revista Elle sobre sua inspiração para os looks chamativos: "Para mim, a roupa era uma maneira de esconder minha timidez por trás de todo o caos do visual. Apesar de ser tímida, nunca tive medo de ser uma mulher provocadora. A roupa era um símbolo de poder. Eu adorei a ideia de parecer uma mulher Michelin do hip-hop. Eu sabia que mesmo usando uma roupa inflável, as pessoas ainda falariam de mim. Era algo ousado e diferente. Eu sempre me vi como uma pessoa inovadora e criativa, diferente de todas as outras."

Publicidade

7. Rihanna? Bem, ela é a ícone mais influente do streetwear viva. E PONTO FINAL.

Josiah Kamau / Getty Images

Sempre que a bad girl sai com uma roupa que desafia as normas de gênero ou uma enorme jaqueta que mais parece um saco de dormir, todas as publicações de moda – da Vogue e GQ ao site Fashion Bomb Daily – correm para analisar seu visual. E há um bom motivo para isso.

Jamie Mccarthy, Stephane Cardinale - Corbis / Getty Images

Esses looks garantem cliques porque o senso de estilo imprevisível da cantora é uma lufada de ar fresco e revigorante no mundo da moda.

Publicidade

E o mais interessante é que Rihanna difere de suas já mencionadas colegas porque não iniciou sua carreira como ícone do streetwear, só alcançando esse status com o passar do tempo. Quanto mais Rih não dava a mínima para a opinião alheia, mais aumentava sua predileção por roupas "urbanas" direcionadas para o mercado masculino e de comunidades "urbanas" (leia-se, negras).

Gotham / GC Images

O streetwear tornou-se global nos anos 90, impulsionado principalmente pelas culturas punk e hip-hop. Esse último gênero era seguramente mais popular e generalizado do que o primeiro, como o eram as mulheres no rap e as cantoras no R&B, ambas geralmente colaborando com artistas de hip-hop homens.

Contudo, ao longo do final dos anos 90 e até o presente momento, vivenciamos um ressurgimento das mulheres no hip-hop e no R&B promovendo-se claramente como femininas, sexuais e hipersexuais. E não estou dizendo que essas características não sejam tão estilosas, expressivas ou empoderadoras quanto o streetwear – porque elas realmente podem ser –, mas a reduzida representação de mulheres negras poderosas e bem-sucedidas, arrasando com roupas "masculinas" largas parece indicar a presença de algo nocivo e misógino.

O amor de Rihanna pelo streetwear e seu desprezo por rótulos como "streetwear masculino" e "streetwear feminino" desencadeou, quase que por si só, um retorno aos looks que suas predecessoras imortalizaram (o mesmo efeito que Beyoncé teve sobre os collants), abrindo caminho para Billie e todas as outras novatas no mundo da música.

Gotham / GC Images

Publicidade

E não podemos dizer que Billie é a única mulher no mundo da música que está desafiando as noções de gênero da moda e empoderando o seu público a vestir o que lhe dá mais confiança e é mais confortável. A cantora britânica Ella Mai faz isso, assim como a rapper e cantora norte-americana Leikeli47 já vem fazendo há um tempinho, com suas marcantes máscaras de esqui e roupas que lembram as de Missy Elliot.

Phillip Faraone / Getty Images, Bennett Raglin / Getty Images

Mas atribuir a uma pessoa branca algo considerado inovador sem dar o devido crédito, reconhecer e celebrar da mesma maneira as mulheres negras que abriram o caminho para isso é apagar a história. E eu jamais ficarei calada vendo pioneiras como Missy, SWV e TLC serem ignoradas na própria onda que ajudaram a criar.

OWN / Via giphy.com

Publicidade

Veja também