Doc sobre Karol Conka levanta questão: quanto sofrimento é necessário para haver perdão?

"A Vida Depois do Tombo" acompanhou a cantora após o "BBB" e mostra o quanto a rejeição a deixou frágil

Divulgação

Depois de ser eliminada com 99,17% dos votos do "BBB 21", Karol Conka se deparou com um mundo bem diferente do que deixou quando entrou na casa mais vigiada do país.

Antes símbolo de empoderamento, a cantora estava cancelada por boa parte do país.

Por causa disso, depois de cumprir a agenda obrigatória e ter pedido desculpas nos programas "Mais Você", "A Eliminação", "Domingão do Faustão" e "Fantástico", a rapper deu um tempo das redes sociais, iniciou terapia e procurou entender o estrago feito em sua carreira por causa de 30 dias em um reality show.

Agora, ela volta aos holofotes com o documentário "A Vida Depois do Tombo", do Globoplay. Para uns, trata-se de uma maneira de limpar a barra de Karol. Para outros, é uma exposição desnecessária em tempos de ânimos exaltados.

A coluna assistiu. Vamos falar sobre ele? Importante: haverá spoilers.

O cancelamento e a falta de amigos.

Reprodução/Globo

O primeiro episódio começa exatamente dois dias após a saída do "BBB" e mostra o baque de Karol. Há depoimentos de gente afirmando que antigos amigos entraram na onda de atacá-la para ganhar seguidores e até mesmo barcas de sushi ou roupas de outlet.

Em dado momento do documentário, ela entende que o aconteceu foi muito maior que o programa. Um produtor diz que foi nível "ódio ao presidente", um movimento nacional contra ela.

Firme, Karol questiona porque funcionários foram dispensados e critica o modo como suas redes sociais foram administradas durante seu confinamento.

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Alguns ex-BBBs se recusaram a reencontrar a cantora. Lumena, corajosa, é exceção.

Divulgação/Globo

Entre os que declinaram convites para o documentário estão Arcrebiano e Carla Diaz. Corajosa, Lumena fugiu à regra. Sentou com Karol e reconheceu: "A gente errou muito".

Os ataques passaram do ponto.

Ao longo da série em quatro episódios, fica claro que houve uma espécie de "catarse do ódio" contra Karol Conka. E a crítica passou do ponto. Virou violência, virou racismo.

Nas redes sociais, pessoas ameaçando lhe atacar com tijolos ou a diagnosticando como psicopata. No dia de sua eliminação, filmagens mostrando a vizinhança comemorando com xingamentos racistas. Há vídeo de "humor" com o diabo a convocando ao inferno.

Sua mãe e seu filho receberam ameaças.

De tanto medo após o linchamento virtual, Karol voltou para São Paulo de van para evitar ofensas no aeroporto. Em alguns momentos, fica claro: ela estava completamente amedrontada e temia a todo momento ser reconhecida e atacada.

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Pela primeira vez, vemos grande fragilidade de Karol.

Reprodução/BBB

Ao longo dos dois meses seguintes à sua participação no "BBB", não há dúvidas: Karol está em frangalhos. Chora muito, mas passa a vida a limpo. E a figura sempre forte do reality e dos shows ganha contornos frágeis, demasiadamente humanos. A cantora não teve vida fácil. Sofreu racismo no colégio. Perdeu o pai cedo. E traçou paralelos entre ele e Lucas Penteado, por causa dos efeitos do álcool.

E é ao abordar o que ocorreu com o ator que ela desmorona. Karol se coloca no lugar da mãe de Lucas, pensa em seu próprio filho. Ele desiste de encontrá-la pessoalmente, mas manda um recado em vídeo.

Karol está triste. Parece presa em um único período da própria vida.

Ao mesmo tempo, há que se perguntar: quanto de sofrimento é suficiente para que a rapper seja deixada em paz?

Na TV, Karol pediu perdão em todos os programas dos quais participou. Foi acusada de briefing pela Globo ou assessores. Quando chorou foi chamada de atriz. Quando surgiu séria e segura foi tratada como uma pessoa fria.

Quanto de arrependimento é suficiente para que Karol siga sua vida livre do ódio direcionado a ela?

É preciso haver uma autoimolação em rede nacional?

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Uma pausa para reconhecer que mulher importante é Eliane Dias.

Empresária do Racionais, esposa de Mano Brown, ela dá um depoimento cheio de compaixão sobre Karol e sua carreira. E não hesita ao dizer que a chamaria para um show, sem medo. "Estando ela certa ou errada, só consegui ver o ódio que as pessoas têm das pretas que resolveram colocar seu cabelo pra cima, o ódio que essas pessoas têm das mulheres que exigiram seu lugar de fala. E resolveram colocar tudo em cima da Karol", afirma.

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Para encerrar esse post, o documentário mostra shows e músicas de Karol Conka e nos lembra: ela é uma artista muito talentosa.

Getty

E tem todo o direito de seguir com a carreira. As dezenas de milhares de pessoas que lotaram seu show no Rock In Rio, em 2019, certamente concordam.

Karol, assim como qualquer outro ex-BBB, é maior que o programa. Por uma simples razão: todos têm vida antes e depois dele. Ninguém pode ser definido apenas por dias ou meses. E não só podem como devem evoluir com os erros apontados durante um reality na TV.

Que Karol encontre a paz. Que sua arte a salve do ódio. E que a vida siga livre de ameaças.

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