Alice Marcone e Pedro Vinícius falam sobre personagem trans em nova série da Netflix

E sobre a importância de fugir dos clichês ao retratar pessoas LGBTQIA+.

Representatividade importa na nova produção da Netflix Brasil. Protagonizada por Maísa, a série 'De Volta aos 15' traz as atrizes Alice Marcone e Pedro Vinícius no elenco para dar vida a personagem trans Camila.

As atrizes Pedro Vinícius e Alice Marcone, também roteirista da série. Foto: Divulgação/Netflix

As gravações da série começaram em fevereiro, mas foram interrompidas pela pandemia. Agora, de volta ao set, as duas atrizes que interpretam a mesma personagem toparam dar uma pausa no trabalho para bater um papo exclusivo com o BuzzFeed.

'De Volta aos 15', que estreia em 2022, tem duas fases e conta a história de Anita (interpretada por Maisa na fase da adolescência e depois por Camila Queiroz quando adulta). Aos 30 anos, Anita tem a chance de voltar ao passado e reviver situações. Camila (Pedro/Alice) é sua melhor amiga.

Na primeira fase, Camila ainda é César, um homem cisgênero interpretado por Pedro Vinícius (na foto, de roupa clara), atriz não-binária nascida em João Pessoa, Paraíba. Pedro, que prefere ser chamada pelo pronome feminino, ficou conhecida pelo papel de Michael em 'Malhação: Vidas Brasileiras', de 2018. Para ela, é importante humanizarmos cada vez mais personagens transexuais. "Acho que a grande questão de como trazer essas pautas pro audiovisual e sensibilizar as pessoas é mostrar que nós somos iguais", diz. "Nós sentimos emoções e nos colocamos no mundo de forma igual."

O retrato da personagem Camila na série se sobrepõe ao clichê e não se resume apenas a identidade de gênero, porque para além da transição, das roupas ou dos hormônios, Camila é uma pessoa. E como todas as outras, sejam cisgênero ou transgênero, vive infinitas emoções e situações.

Fabiano Battaglin/Gshow

Pedro cita a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que aborda o conceito de história única. "Do mesmo jeito que nós podemos cair no perigo da história única – que são os estereótipos –, as personagens também podem cair nesse lugar", fala.

"Podemos esperar da Camila conflitos e arcos dramáticos que não têm, necessariamente, nada a ver com a identidade de gênero dela", reforça Alice.

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"Acho que geramos empatia ao emocionar o outro com emoções que ele também sente", conta Alice Marcone, que, além de atuar, criou a personagem e é uma das roteiristas da série.

A atriz, roteirista e cantora Alice Marcone. Foto: Daniel Weber

"Sou uma mulher trans e isso está dado. Ao criar personagens LGBTQIA+, priorizo muito tudo aquilo que seja uma emoção universal, que as pessoas possam acessar."

Alice tem um currículo extenso. Ela também é cantora, compositora e apresentadora de TV. Entre seus trabalhos recentes, apresentou o 'Born to Fashion', reality show de modelos trans exibido pelo E!, e foi co-roteirista de 'Manhãs de Setembro', nova série da Amazon Prime estrelada pela atriz e cantora Liniker.

"Temos uma tradição muito grande no audiovisual de criar histórias e narrativas que são muito em cima do processo da transição, das violências sociais e dos traumas", menciona. "Quando criamos narrativas com conflitos que possam ser universais, geramos essa empatia. Essa é a minha estratégia."

Perguntamos para Alice e Pedro qual é a importância de levar suas vivências para uma personagem tão importante em um Brasil que retrocede cada vez mais nas pautas relacionadas à comunidade LGBTQIA+. "Sobreviver a esse momento enquanto pessoa do audiovisual, artista e mulher trans é uma dupla jornada", justifica Alice. "Porque não só temos que lidar com esses discursos de ódio como com o desmonte da cultura."

Para ela, uma palavra que tem ressoado nos últimos tempos é "esperança". "É construir positividade, construir um mundo melhor. E isso vai vir por amor, por afeto e vai atravessar, portanto, as obras em que estou trabalhando e produzindo."

Pedro lamenta o cenário e diz que "desde 2018 estamos vivendo o pior". "A forma com a qual tenho me dedicado a esse projeto tem muito a ver com o contexto político", expõe a atriz. "O projeto traz lideranças trans jovens, e isso, no contexto que estamos vivendo é, de verdade, muito arriscado. E esses riscos precisam ser vividos", finaliza.

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E, enquanto não dá pra assistir a série, que estreia só em 2022, dá um check no que a Maisa pode adiantar pra você:

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