Passei um dia inteiro com a JoutJout e foi isso que eu aprendi

Um bate papo sobre o dia-a-dia de uma Youtuber, banquetas e manicure.

“Dói?” “É que quando você descreve uma pessoa arrancando sua pele com um alicate, parece que vai doer. Mas não dói nada”. Pra um cara com 25 anos que não tem costume nem de cuidar da barba, essa foi a única preocupação que tive quando topei fazer as unhas com a JoutJout. Apesar disso não ser algo que ela faz diariamente, manicure estava na agenda dela no dia em que fui acompanhar sua rotina, e como o nome de um de seus vídeos visto por 500 mil pessoas sugere: faz parte.

Thinkstock

Julia Tolezano, para quem não sabe é uma vlogger carioca que, com a ajuda de seu namorado, Caio, apresenta suas ideias e opiniões em seu canal JoutJout Prazer. Ela já falou sobre assédios, coletor menstrual e fez um funk sobre a polêmica Bixxcoito X Bolacha. E se nada disso parece grande coisa pra você, saiba que 900 mil pessoas discordam e já clicaram no botãozinho para assinar seu canal. Ou seja, Prazer, JoutJout.

Não preciso nem entrar no mérito de discutir o quão importante e relevantes são os vídeos de Julia. Os próprios comentários em seu canal já comprovam o empoderamento que suas palavras carregam. Seu vídeo mais famoso, e talvez o mais importante, possui mais de 2 milhões de visualizações. Em oito minutos e meio, deixa bem claro que nenhuma pessoa deveria aceitar um relacionamento em que é diminuída e controlada o tempo todo. Um vídeo que foi publicado em fevereiro de 2015 e se mostra cada vez mais relevante para os dias de hoje.

Em outras palavras, parece até desnecessário apresentar o canal JoutJout hoje em dia. Não concorda? Vou contar uma história então. Começa com essa ligação:


Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil

Quando comecei meu dia com Julia, o assunto era a altura de uma banqueta que eles tinham acabado de comprar. Para ela, a banqueta tinha a altura perfeita. Para Caio, estava um pouco alta. Caio gosta de cruzar as pernas enquanto está sentado. Não que esse seja um segredo íntimo do casal, apenas que, por causa disso, a banqueta em questão estava um pouco alta e ele não se sentia confortável. Julia também não tinha certeza se era a melhor banqueta do mundo: “É bonita, mas sei lá…”.

Fomos então atrás da banqueta para testar na mesa. Irene, a moça da loja que atendeu Julia, estava lá esperando a gente. Logo de cara quando entramos na loja as pessoas já olharam um pouco desconfiadas (eu também carregava uma câmera e tentava tirar umas fotos. Um pouco paloso). Julia achou sua banqueta e perguntou se podia levar pra casa para testar. “Claro! Deixa eu só ligar para o gerente,” disse Irene. A conversa seguiu assim:

“Alô! Viu, a menina da banqueta tá aqui…”

“Sim! Já peguei o RG dela, ela disse que mora aqui do lado e traz de volta hoje mesmo.”

“Tudo sim! A menina já apareceu no Serginho Groisman, tá tranquilo”

Se você, como eu, sempre quis saber quais são as facilidades que uma pessoa famosa tem na vida, essa é uma delas: você pode usar o Serginho Groisman como seu fiador. Banqueta liberada, voltamos pra casa.

Nicolas Vendramini / BuzzFeed Brasil, Nicolas Vendramini / BuzzFeed Brasil, Nicolas Vendramini / BuzzFeed Brasil

No caminho de volta passamos por uma loja vazia, Julia então abriu seu coração para planos futuros. “Queria abrir uma loja de pijamas e roupas de cama. Esse é meu sonho. Iria se chamar: JoutJout Lazer. Esse espaço seria maravilhoso pra isso”. O espaço em questão, caso alguém queira patrocinar esse sonho, fica em uma rua famosa por suas lojas de móveis em São Paulo. Aliás, essa é uma coisa nova em sua vida: Julia saiu de Niterói e acabou de se mudar para São Paulo onde está morando com seu namorado Caio.

Por que a mudança? Bom, ela responde:

Esse era o último vídeo publicado em seu canal enquanto esse post estava sendo escrito. E foi esse vídeo que eu acompanhei sendo feito. As cenas a seguir são exclusivas e nunca antes vistas sobre o canal de JoutJout. A verdade sobre os bastidores de um canal de YouTube:

Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil

SIM!

É assim mesmo que a mágica acontece. Para qualquer pessoa que já trabalhou na indústria do entretenimento, produção de vídeos ou criação de conteúdo, isso pode parecer um absurdo. Cadê a luz? Maquiagem? O cara do áudio? Da trilha? Cadê o roteiro gente?

Julia e Caio não contam com nada disso. Basta sua câmera, opiniões sem clichês e uma caixa de panela pra segurar tudo. Ai você pensa: “Ah não, mas tem edição!”.

Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil, Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil, Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil

“É bem simples, só preciso tirar as respiradas. De vez em quando tem uma treta de emendar uma palavra na outra mas é só,” disse Julia enquanto eu parecia um urubu atrás dela enquanto ela trabalhava. Como fã e profissional acostumado a 20 versões de roteiro, meses de pré-produção e uma quantidade obscena de horas de ligações de alinhamento para um vídeo de 30 segundos, esse processo de Julia me deixou vidrado. Ela resume assim:

“Você fica imaginando que você vai ser um adulto e você vai ter aqueles horários e aquelas coisas. Você vai ter aquele emprego e as coisas que a gente já sabe que vai ser. E aí depois você opta por uma outra coisa que é uma grande bagunça e é maravilhoso. Você não é obrigado a fazer nada, faz por vontade própria mesmo”

E não é só ela que trabalha desse jeito. Os novos YouTubers aparecem em uma curva exponencial. Jovens que criam canais onde falam sobre fatos cotidianos, criam músicas, fazem receitas, escrevem livros e acumulam uma audiência digna de Copa do Mundo. Se você não entende como uma coisa dessa pode dar certo, talvez você esteja com uma cabeça muito fechada. E, se você entende, desculpa ser repetitivo.

Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil, Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil, Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil

Quando terminaram de editar eu descobri que eles ainda não tinham Wi-Fi na casa, então iam subir o vídeo um café ali do lado. “Isso foi vacilo mesmo, mudar pra cá sem colocar a internet.” disse Caio. Mas antes disso, Julia queria fazer as unhas. Eu ainda queria fazer umas últimas perguntas e então resolvi acompanhar ela na manicure.

Chegamos no salão. Enquanto eu aprendia sobre os segredos da cutícula, e como é muito melhor pagar antes de começar a fazer a unha, fizemos uma entrevista bate-bola jogo rápido:

Uma alegria:
Julia: Mantas quentinhas no frio.

Um filme:
Julia: Distante nós vamos (2009).

Última busca no Google:
Julia: Cacto e o coletivo de Cactus.

Uma mulher:
Júlia: Todas.

Pior sentimento do mundo:
Julia: Culpa e ódio. Um mix dos dois.

Um mês:
Julia: Dezembro com natal.

Um medo:
Julia: Estupro.

Purê no cachorro quente:
Julia: Acho que nunca vivi essa emoção (claramente recém chegada em São Paulo).

Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil, Nicolas Vendramini / Buzzfeed Brasil

Quando saímos do salão, Julia foi parada mais uma vez para tirar uma foto. “Eu só espero nunca me acostumar com isso. Porque, quando você se acostuma, é quando para de tratar todo mundo com carinho”. Eu e toda família JoutJout também esperamos que não. Muito obrigado pelo dia. Foi um grande prazer Julia.

Ps. Gostaria de aproveitar o espaço para fazer um apelo: Julia, esqueci meu carregador do celular na sua casa e essas coisas são caras. Eu sei que você e o Caio são pessoas do bem (eu te vi até no Serginho Groisman) e vão se sensibilizar com minha causa. Posso passar aí e pegar de volta?

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