Sete mulheres contam o que descobriram com o processo de transição capilar

Aprender a amar seu cabelo é uma forma de empoderamento.

@modices

Acervo pessoal

"Minha relação com meu cabelo foi péssima durante a maior parte da vida. Fui ensinada assim. Algumas das primeiras lembranças de infância são os comentários a respeito do meu cabelo, sobre como eu nasci com o cabelo 'ruim', que meu cabelo deveria ser consertado. Isso me acompanhou da infância até idade adulta.

Meu processo de transição foi rápido, em pouco mais de um ano consegui me livrar de todos os resíduos de química do meu cabelo. Mas deu medinho! Quando cortei o cabelo e fiz o 'big chop', o cabeleireiro finalizou com babyliss. Foi só em casa, ao lavar lavei o cabelo, que me deparei com meu cabelo. Quando meu cabelo secou, ele cacheou. E de repente aquela raiz que sempre denunciava minhas origens tava lá linda, livre, leve e solta. Alta. O volume que eu sempre condenei passou a fazer sentido, a textura harmonizava perfeitamente com as minhas feições.

Mas por mais que eu estivesse deslumbrada por essa minha nova imagem, ainda tava com medinho. Aquela insegurança de não ser aceita, de perder jobs... o vício da aprovação social. E quando publiquei a minha primeira foto com cabelos naturais fui acolhida de um jeito mágico. Foi uma torrente de amor que se seguiu nos dias, meses e anos depois que assumi meus cabelos cacheados.

Ver que minha libertação capilar impactou positivamente outras mulheres me fez mais forte. Quando aceitei minha beleza, consegui investir minha energia em outras questões mais importantes. Foi quando comecei a falar mais de feminismo, passei a questionar mais e inspirar mulheres a se conhecerem, pararem de tentar se adequar, praticarem a aceitação e descobrirem seu amor-próprio".

Carla Lemos – @modices

"Entendi que preciso cuidar mas não preciso ficar enlouquecida buscando perfeição, sabe?"

Acervo pessoal,

"Eu não passei por uma transição consciente. Na verdade, decidi raspar o cabelo porque não tinha mais dinheiro para mantê-lo liso. Fui estudar e morar em Ouro Preto e vivia fazendo escova e prancha no cabelo, passava a maior parte do tempo com ele preso. Uma hora comecei a trabalhar em um canil, não aguentei mais e cortei porque não tinha tempo e saúde pra ficar alisando cabelo longo.

Não deu muito tempo e cortei dos lados. Em 2012 eu já não aguentava aquele cabelo sem forma e acabei optando por raspar logo. Fiquei insegura porque não imaginava como seria meu cabelo, meu problema era como as pessoas iriam me enxergar, se eu iria ficar bonita.

Hoje minha relação com o cabelo é muito tranquila no sentido de entender que às vezes ele está com um formato que eu não gosto, mas em outros momentos ele fica do jeito que eu quero. Entendi que preciso cuidar mas também não preciso ficar enlouquecida buscando alguma perfeição, sabe? Tem cabelo, já tá ótimo!"

Jéssica Ipólito – @jeszzipolito

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"Me apaixonei pelo meu cabelo e por mim mesma".

Acervo pessoal / Via Acervo pessoal

"O começo da transição foi difícil. Muita gente dizia que eu não ficaria bem com o cabelo natural, que eu deveria desistir, que não saberia cuidar dele. Ver o crespo crescendo enquanto as pontas ainda estavam lisas dava agonia, todos os dias eu tinha que prender ou fazer alguma 'texturização', que é quando você cacheia a parte lisa para ficar com o cabelo uniforme.

Minha autoestima ficou BEM abalada, mas confiei no processo. Depois de um ano inteiro na transição, decidi cortar o que restava de química.

Fiz o corte logo após passar no vestibular e pra mim foi como um rito de passagem muito libertador. Demorou um tempo até que eu me acostumasse, principalmente por nunca ter tido cabelo curto e por ter vivido tanto tempo com química, mas valeu muito a pena! Me apaixonei pelo meu cabelo e por mim mesma".

Erika Paixão – @erikitty_

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@apessoadadeisy

Acervo pessoal

"Eu tinha uma uma relação de amor e ódio com o meu cabelo, gostava e ainda gosto dele liso. Mas quando crescia a raiz e eu não tinha a grana pra refazer o processo, ficava me escondendo com chapinha e outros penteados pra disfarçar. Queria muito pintar, fazer coisas novas, mas a cabeleireira dizia que eu não podia por causa do alisante, que já enfraquecia meus fios.

Agora, minha relação com o cabelo é de descobrimento. Me sinto livre pra usá-lo pintado, trançado, com turbante, com coque... Parei de esconder a raiz que cresce e aprendi que posso brincar com as arrumações.

Ainda é frustrante ver que meu cabelo é mais seco do que o das modelos de cacho, mas todo dia é um aprendizado. Me recuso a ser refém de rituais diários de molhar e passar cremes pra que ele fique do jeito 'ideal'. Quero lidar com ele do jeito que ele é. Que os cuidados sejam em prol da saúde do cabelo, e não de estética apenas".

Deisy Pessoa – @apessoadadeisy

"Quanto mais eu me informava, mais eu me conhecia — ou melhor, me reconhecia, me afirmava e me aceitava. A sensação de liberdade que o fim da transição proporciona é única".

Acervo pessoal, Acervo pessoal

"Ver a raiz crescer enquanto a química ainda estava no cabelo era angustiante e me fez querer desistir, principalmente em momento de festas, entrevistas de trabalho e eventos sociais. Nessas horas você não sabe como agir, se alisa novamente e começa do zero ou se adequa a situação, porque a gente sabe que a textura do cabelo está diferente, que o cabelo ainda não tem uma identidade.

O 'durante' gerou muitos momentos tristes e questionamentos, porque a minha transição durou dois anos. Além da cultura do cabelo liso estar presente, tinha a cultura do cabelo longo, então o comprimento do cabelo foi um tabu, porque cabelo longo é sinônimo de sensualidade e feminilidade.

Eu demorei pra fazer o corte por ter medo de perder algo que me foi construído socialmente, então passar pela transição capilar foi uma desconstrução constante. Quanto mais eu me informava, mais eu me conhecia — ou melhor, me reconhecia, me afirmava e me aceitava. A sensação de liberdade que o fim da transição proporciona é única".

Beatriz Duarte – @BeatrizXDuarte

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"Agora posso dizer que aprendi a cuidar do meu cabelo independente da forma dele"

Acervo pessoal

"Foi algo natural: apenas parei de alisar um dia e ele foi crescendo, quando vi já estava natural de novo. Acho que o empoderamento está em gostar de mim mesma com os dois estilos de cabelo, aceitar qualquer um, porque tenho essa natureza flexível.

Aprendi a cuidar do cabelo após a transição porque as necessidades do cabelo são diferentes. Aprendi a fazer muitas coisas como umectação e nutrição, cronograma capilar, texturização, muitas coisas que antes eu não dava muita importância. E agora posso dizer que aprendi a cuidar do meu cabelo independente da forma dele. É algo que precisa de cuidado tanto quanto o corpo, raramente a gente esquece de tomar pelo menos um copo d'água, mas muitas vezes esquecemos de hidratar o cabelo, por exemplo.

Acho que é importante prestar atenção nesses outros aspectos do nosso bem-estar. Mesmo tendo alisado o cabelo novamente, hoje em dia ele é muito mais saudável e presto muito mais atenção na procedência dos produtos que utilizo".

Priscila Mendes – @pritchm

"Me libertei quando minha irmã cortou meu cabelo em casa, um black power real. Deixei de ser refém dos cremes".

Arquivo pessoa/ Naira Valente

"O mais importante na transição foi minha autoestima. Ao longo da minha vida estive refém de processos capilares dolorosos e que demandavam dedicação. O primeiro processo era nunca soltar o cabelo. Ele era bem crespo, tinha um comprimento muito longo e era um sofrimento para pentear. Até então eu tinha essa ideia de que era preciso pentear o cabelo todos os dias.

No meu aniversário de 15 anos fiz escova progressiva, um processo muito longo e dolorido. Dois meses depois meu cabelo começou a embaraçar demais, eu não tinha grana pra manter a progressiva e tive que deixar ele sozinho fazendo a transição.

Anos depois entrei na moda de relaxar os cabelos crespos para deixar cacheado, 'domar' os cachos. Era preciso passar mil cremes nos cabelos, hidratar de dois em dois dias, cuidados específicos que me cansavam. Então com o tempo comecei a abandonar os cremes.

Só me libertei quando minha irmã cortou meu cabelo em casa, um black power real. Precisei acertar no salão, mas me reconheci. Deixei de ser refém dos cremes e de pentear o cabelo freneticamente: acordo maravilhosa, com o cabelo do jeito que quero".

Lorraine Paixão – @lorrrrraine

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