7 falas muito importantes de Glória Maria no "Roda Viva"
Jornalista morreu nesta quinta-feira (2), no Rio.
Victor Calazans
Há um ano
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Em março de 2022, pela primeira vez, o programa "Roda Viva" recebeu a jornalista Glória Maria, morta nesta quinta-feira (2), aos 73 anos. A edição celebrava o Dia Internacional das Mulheres. Não faltaram falas muito importantes da veterana do jornalismo, na sabatina comandada por Vera Magalhães.
Em 2019, Glória travou uma batalha contra um tumor bem sério e mostrou muita sensatez para lidar com o assunto.
"Não pensei no fim nem por um segundo. Eu estava viva, com um tumor no cérebro terrível que se eu não tivesse descoberto, ele me mataria em 15 dias. Esse tumor formou um edema em volta e inflamou, me fez ter uma convulsão. Eu tinha a possibilidade de 30% ou 40% de sobreviver e só 20% de não ter sequelas. O ser humano quer viver no mundinho cor de rosa, céu azul, mas a vida não é assim. A vida é feita de nuvens rosas e cinzas e eu aprendi a conviver".
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Sobre ser uma mulher preta, ela foi enfática quando o assunto foi racismo.
"Nada blinda preto de racismo, ainda mais a mulher preta. Nós somos mais abandonadas, discriminadas. O homem preto não quer a mulher preta. Você tem que aprender a se blindar da dor. Se você for esperar o blindamento universal, você está perdida".
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Se tem uma coisa que não abala a Glória é a opinião alheia.
"Eu sou uma pessoa que quero estar comigo. Sabe por quê? Eu vou morrer. Ninguém vai morrer por mim. Que vai me julgar hoje, não vai deitar no caixão no meu lugar. O que você quer que eu faça? Que eu vá viver segundo a opinião das pessoas? Não tem como! Eu vou viver do meu jeito."
Nem as filhas dela escaparam de comentários maldosos sobre a cor de sua pele.
“Uma vez a Laura chegou em casa dizendo que um amigo havia dito que a cor dela era feia. Ela chegou em casa muito tocada, e a gente sentou e conversou. Eu usei o grupo de mães para contar o que tinha acontecido e que elas orientassem os filhos. Mas isso não vem da criança, isso vem da família. O racismo começa quando a criança vê os subalternos, em situação inferior, e são sempre pretos”, contou.
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Saber ouvir é uma dádiva e Glória é rainha nisso!
"Se eu não ouvisse muito bem não saberia o que escrever, o que falar. Esse dom de ouvir é uma coisa que sempre tive. Mas não dá para ouvir o que não te faz crescer. Aprendi a selecionar o que escuto. Não dá pra ficar ouvindo aquilo que não vai te levar a lugar nenhum. Não perder tempo ouvindo o que não vale a pena e o que não interessa. A vida te ensina, te mostra. As lições que aprendi da minha avó me fizeram conhecer o que vale a pena e o que não vale. Ouvir para mim é a coisa mais importante da vida. Perder tempo não dá."
Glória é precursora em muitas coisas e deixa muito claro que sua vida é um eterno posicionamento em relação ao racismo.
"Cobrada a me posicionar? Uma coisa que venho fazendo a minha vida inteira? Só sendo o que eu sou, não tem posicionamento maior que esse. Eu fui a primeira e única pessoa neste país a usar uma lei que existe contra o racismo, que era a Lei Afonso Arinos [primeira norma do país que considerava a discriminação racial contravenção penal, criada na década de 1950]. Quando ninguém sabia que essa lei existia. Quem não tem história, não tem cultura, não pode perguntar nada, não pode falar. Primeiro tem que se informar, tem que saber. Se muita gente hoje está realmente conseguindo se manifestar com relação ao racismo é porque a titia Glória está aqui."
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Para ver mais dessa aula, assista ao programa na íntegra:
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