Gasto extra aprovado no Congresso poderia triplicar metrô de SP

Aumentos para o funcionalismo vão custar R$ 58 bilhões até 2019.

Provavelmente você viu que as contas do país estão no vermelho. Ao assumir o lugar de Dilma Rousseff, Michel Temer prometeu cortar gastos, mas não é isso que está acontecendo.

Valter Campanato/Agência Brasi / Via Fotos Públicas

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente Michel Temer na cerimônia de posse: promessa de ajuste na economia e corte de gastos.

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O país tem déficit quando o governo gasta mais do que arrecada. Dilma dizia que o rombo era de R$ 90 bilhões. Temer mandou refazer as contas e diz que o buraco é de R$ 170 bilhões.

Atual governo diz que PT escondeu tamanho do rombo; PT diz que Temer inflou tamanho do buraco para culpar Dilma.

Alguns analistas afirmam que Temer calculou para cima tamanho do déficit para poder continuar gastando. Com dinheiro para dar aumentos, faz agrados políticos.

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Para gastar mais do que arrecada, o governo federal precisa de autorização do Congresso. Na semana passada, os congressistas deram o aval para que o governo Temer feche o ano com R$ 170 bilhões no cheque especial.

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / Via Fotos Públicas

Congresso aprovou a nova meta fiscal, que permitiu a Temer fechar o ano com R$ 170 bilhões no vermelho.

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Para se financiar, o governo precisa obter mais dinheiro emprestado no mercado financeiro (pagando juros) ou aumentando impostos.

Lucio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados / Via Fotos Públicas

O pato inflável da Fiesp virou um símbolo das manifestações anti-PT e contra a volta da CPMF. O imposto deve ser recriado por Temer.

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Ao invés de economizar, a Câmara dos Deputados aprovou a chamada pauta-bomba, uma coleção de aumentos aos servidores públicos do Executivo, Judiciário e Legislativo. O aumento do funcionalismo vai custar R$ 58 bilhões ao longo de quatro anos.

Junto com os aumentos, sem qualquer alarde, foram criados 14 mil cargos federais, quase quatro vezes mais do que o governo Temer decidiu cortar, informa o jornal "Folha de S.Paulo".

Wilson Dias/Agência Brasil / Via Fotos Públicas

O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), durante a sessão que aprovou os reajustes em massa para servidores.

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O valor dos aumentos para o funcionalismo seria suficiente para construir 130 quilômetros de metrô, com estação e tudo. A extensão atual do metrô de São Paulo é de 74 km.

Digna Imagem/Clóvis Ferreira

Custo do reajuste de servidores até 2019 equivale ao dobro dos investimentos totais da Linha 4 do metrô de São Paulo.

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Com 74,3 km de rede, o metrô de São Paulo tem um terço da extensão do metrô de Paris (211 km) e um quinto do de Londres (415 km). A Cidade do México, que tem 8,8 milhões de habitantes, tem 202 km de metrô.

R$ 58 bilhões seriam suficientes para construir 132 km de metrô, incluindo estações e túneis. O cálculo é baseado nos números de custos informados pelo Metrô de SP para a Linha 4.

A taxa de performance desta obra, aliás, está longe de ser referência em rapidez. Se ficar pronta em 2018, a Linha 4 terá levado 15 anos de construção de 12,8 km de extensão. Ou menos de um quilômetro por ano.

Em termos de gastos com qualidade duvidosa, o dinheiro que a Câmara vai gastar até 2019 poderia custear duas Copas do Mundo com estádios suspeitos de superfaturamento e obras que não saíram do papel.

David Gray / Reuters

O zagueiro David Luiz e o volante Luiz Gustavo (R) esgotados após o pior resultado do Brasil em Copas do Mundo, o 7 a 1 contra a Alemanha. Fora de campo, o país gastou R$ 28 bilhões, parte disso saiu da iniciativa privada com recursos do BNDES.

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Também é o dobro do que custa o Bolsa-Família (R$ 28 bilhões por ano). Ou o triplo do Fies (R$ 18 bilhões por ano), o programa de financiamento de estudantes que cursam universidades privadas.


Site do Fies, o programa de financiamento estudantil, que custa R$ 18,2 bilhões por ano.

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O Fies é um programa financiado com recursos do pagamento de empréstimos dos estudantes beneficiados no passado.

Levantamento da CGU (Controladoria-Geral da União), órgão extinto no governo Temer, mostrou que a inadimplência é alta. Em 2014, 315 mil contratos estavam em fase de amortização -quando a pessoa já concluiu o curso, completou 18 meses de carência e começou a fazer o reembolso.

Neste universo, 47% tinham atraso -ligeiramente mais que em 2013.

Um exemplo do estrago nas contas públicas: no Judiciário, Os salários de ministro do Supremo Tribunal Federal subiram de R$ 33.763 para R$ 39.293. São somente 11 ministros no STF, mas os salários deles são a base para todo o resto do Judiciário.

Carlos Humberto/SCO/STF / Via Fotos Públicas

Há somente 11 ministros no STF, mas o aumento no salário deles cria um efeito-dominó para mais de 16 mil magistrados brasileiros.

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O aumento no STF vai provocar um efeito-dominó e reajustar os contracheques de outros 16.400 juízes e desembargadores de todo o país. O custo deve ser de quase R$ 7 bilhões até 2019.

Marcos Santos / Via Fotos Públicas

R$ 7 bilhões é o custo estimado do reajuste apenas no Judiciário até 2019.

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Para comparar, juntos, o Pronatec (programa federal de ensino técnico) e o Ciência Sem Fronteiras, que manda estudantes brasileiros para o exterior, custam R$ 3,5 bilhões por ano. Mais de 2 milhões de estudantes atendidos.

Mapa de bolsistas do Ciência Sem Fronteiras pelo mundo: programa custa R$ 1,5 bilhão por ano.

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Pronatec oferece em torno de 2 milhões de vagas para cursos técnicos e de qualificação profissional.

Ciência Sem Fronteiras banca bolsas para 22 mil estudantes brasileiros no exterior ou atração de pesquisadores para o país.

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