Conversamos com Tiago Barbosa, que está deixando todos perplexos com sua interpretação de Milton Nascimento no teatro

Nessa entrevista exclusiva com o BuzzFeed Brasil, ele falou sobre sua formação, volta ao Brasil e seu maior desafio atual: interpretar Milton Nascimento no musical "Clube da Esquina - Os Sonhos Não Envelhecem", em cartaz em São Paulo.

"Tudo começou em 2019 quando a Vanessa Veiga (produtora de elenco) me mandou uma mensagem perguntando o que eu achava do Milton Nascimento. Eu estava vivendo um momento diferente na Espanha, estava como protagonista de um espetáculo, concorrendo a uma premiação e, de verdade, eu estava muito bem. Aquele bichinho me tocou assim, me picou sobre voltar ao Brasil pra poder fazer o Milton Nascimento."

"Chegou um momento na Espanha em que parei de consumir qualquer tipo de informação do Brasil para me lançar nessa carreira internacional. Isso foi bom e ruim ao mesmo.

Então eu pensava 'caramba, eu espero ter tempo pra poder voltar a ter esse contato que eu não tive, pra poder conversar, pra poder estudar ele. Então a Vanessa me mandou várias entrevistas, algumas delas o Dennis Carvalho (diretor da peça) queria assistir comigo, mas fora isso foi um processo que o próprio Denis me deixou muito a vontade de buscar, pesquisar, investigar e futucar, para poder montar o meu Milton Nascimento no palco. Eu cortei um pouco mais do meu cabelo pra ficar como em um determinado momento da vida dele, que era com cerca de dezenove anos."

"Eu encontrei outro Brasil, que é difícil fazer compras, eu encontrei um país não empático em todos os sentidos. Isso me gera muita tristeza saber que retrocedemos muita coisa, sabe? Eu fico triste, é lógico que ao mesmo tempo também tem uma juventude muito mais questionadora. Eu vejo um poderio do meu povo negro muito maior, sabe? Eu vejo nas ruas coisas que eu não via antes, mais negras com black power, crianças com black power amando estar com aquele cabelo que há oito anos atrás não existia. Pude ver um espetáculo como 'Marrom, o Musical' , onde de vinte e três atores, vinte e dois são negros. Sete anos atrás falava-se que era difícil ter uma produção com negros porque não tinha preparo, não tinha talento, e ver uma galera dançando pra caramba, atuando pra caramba e cantando de uma maneira tão incrível, aquilo ali foi pra mim um choque, um bálsamo."

"O reconhecimento de um corpo negro é sempre muito difícil. As pessoas podem ver alguém fazer sucesso, mas chegar pra você e te dizer "poxa, que legal, você estava competindo como melhor ator de teatro com o Antonio Banderas', isso não acontece e é tudo muito silencioso. Mas eu tenho certeza de que é da minha jornada e do meu chamado. Eu sei que abri portas para muita gente tanto no exterior quanto mesmo no Brasil."