Grag Queen, apresentadora de "Drag Race Brasil", não descarta participar da franquia: "Aguardo o convite"

A drag queen falou sobre como foi dar seu toque brasileiro ao programa que é sucesso no mundo todo.

Há exatos dois anos, entrevistamos Grag Queen, que havia sido anunciada como participante do reality "Queen of The Universe", uma competição musical entre drag queens do mundo todo. Ela venceu, ganhou uma bolada em dinheiro e muita gente passou a reconhecer o potencial da gaúcha.

Desde então muito se falava e especulava sobre ela comandar uma versão brasileira de "RuPaul's Drag Race". O fato foi confirmado, o programa finalmente aconteceu e isto está sendo muito celebrado!

Divulgação/MTV/Paramount+

A apresentadora conversou com o BuzzFeed Brasil e falou sobre este momento, como tem sido a recepção dos brasileiros e gringos, e comentou os toques tupiniquim que tem dado para a franquia.

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Grag destacou a importância da união e apoio mútuo, mesmo diante de desafios e críticas. Ela também ressalta a transformação positiva que está ocorrendo, afastando-se da competitividade em direção a uma atitude mais colaborativa e solidária.

Divulgação/MTV/Paramount Plus

"Eu acho que o fenômeno mais lindo é a união da minha comunidade. Mesmo que seja para julgar ou que seja para nos defender de outros países que falam mal, que seja para falar, enaltecer e dizer: 'Mona, vai devagar. Você não pediu a edição brasileira? Agora você aguenta, não tem que dar pitaco não, você só levou o que pediu'. Mas mesmo assim eu tenho sentido que as pessoas estão se unindo de certa forma. É uma coisa muito difícil de acontecer, porque na união dentro da gente é sempre plantada a competição, a comparação, a frustração, a opinião destrutiva. Então, sinto que tem mudado um pouco, me sinto muito honrada de participar desse processo, desse movimento."

A cantora e apresentadora celebra a visibilidade e o reconhecimento crescentes da comunidade de artistas transgêneros e drag queens, destacando suas realizações e afirmando sua importância na cena cultural e artística.

Reprodução

"Eu acho que tudo é questão de visibilidade, de oportunidade, de botar luz. Há uma coisa muito foda que já estava acontecendo, só que ninguém via. Nós somos incríveis, revolucionárias e capazes há muito tempo. Temos Márcia Pantera, Silvetty Montilla, Alexia Twister, Ikaro Kadoshi que sempre fizeram o seu trabalho impecavelmente, mas as pessoas faziam questão de não ver, de bloquear, de invisibilizar, e a gente se tornou inegável. A gente se tornou sirene. Como quem grita e diz assim: 'Amor, você pode olhar, mas você não vai achar uma falha. Você não vai poder me julgar pela minha arte'. Sou muito feliz por estar dentro dessa plataforma onde a gente gira os olhos das pessoas para uma coisa muito incrível que sempre aconteceu. Sempre fomos as maiores, só estava precisando vocês assistirem um pouco, olhar um pouco, e o que acontece? Tudo muda. Estamos hoje no The Town, estamos no Rock in Rio, estamos nas redes de televisão, estamos aqui dando uma entrevista para o BuzzFeed. Então somos chiques demais, né?"

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Recentemente Grag foi uma das atrações do The Town, festival que aconteceu em São Paulo. Apesar de não seu show não ter sido transmitido na TV, a apresentação trouxe um nível bastante alto de qualidade. Celebrando a excelência artística da comunidade LGBTQ+ , ela destaca a importância da representatividade genuína em todos os setores, para que eles possam continuar a demonstrar seu talento e capacidade de forma plena e igualitária.

Maicon Douglas

"Acho que serviu para provar o quão excelente nós somos, né? Show da Urias, da Pabllo, com participação da Jup e da Liniker, show da Gloria Groove, show da Lia. Os shows foram extremamente impecáveis, incríveis de assistir e com muita excelência, não só drag, como excelência artística no geral. E é isso que eu digo, a gente sempre foi muito foda. A gente só precisa de oportunidade. Eu reforço a importância da representatividade, de a gente não ocupar lugares, porque eles sempre foram nossos, mas sim tomar posse do que é nosso de verdade. E ainda acho pouco quatro drags e uma travesti. Acho que tem que ter muito mais. Eu falo isso porque eu sou chata, Eu sou artista, muito grata e bem feliz de a gente ter tido essa oportunidade de mostrar o que que a gente é capaz."

Com apenas quatro episódios, pudemos ver muito da cultura brasileira em "Drag Race Brasil". Seja por uma capivara, um muro com vidros ou até memes, como este eternizado por Leona Vingativa.

Reprodução/MTV/Paramount Plus

"Como é que explica isso para um gringo? No último episódio eu falei: 'Apertada como uma bacia'. Aí você imagina a bicha lá da Polônia vendo isso. Vai entender esse negócio. Por isso que eu fiz questão de primeiro a gente fazer a Drag Race Brasil pro Brasil. Depois a gente se importa em exportar, mas é pra gente, a gente que pediu, a gente que teve, a gente que levou."

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Uma das adaptações que Grag fez acontece no final do programa, onde, no original, se pede um "amém" para alguma frase de efeito. A apresentadora trouxe muito de sua ancestralidade ao trocar a expressão por "axé", emanando a força sagrada de cada orixá.

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"Esse 'amém' é uma coisa que nos foi imposta, nos foi colonizada, posta goela abaixo e a gente acaba dentro do nosso próprio país tendo muito preconceito e intolerância religiosa contra essas religiões de matriz africana, contra pessoas que preferem emanar axé do que amém. E foi mesmo para que as pessoas pesquisem de onde vem, para que as pessoas queiram saber. Por que mudou? Por que é diferente? Como assim ela mudou o amém? Quem mudou o amém? Vem cá conhecer nossa cultura, vem cá conhecer de onde a gente vem, nossas referências, as nossas raízes de verdade, né? E é isso, Axé!"

Em 15 minutos de conversa com o BuzzFeed Brasil, Grag pareceu disposta a manter seu senso de humor como parte fundamental de sua identidade e expressão artística. Demonstrou ser uma pessoa confiante e destemida, disposta a usar seu talento para fazer as pessoas sorrirem, independentemente das circunstâncias.

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"Eu sempre fui um viado muito tirano e engraçada, amo fazer minha família rir. Como cantora a gente não tem muito a oportunidade de mostrar o quão palhaça a gente é. Não é só pintar a cara para mostrar que você é palhaça. Eu amo essa oportunidade de ser uma comunicadora e de ter essas aberturas. Nada é roteirizado, essas tiradas de raciocínios rápidos sou eu que vou inventando na hora, com todo a minha coragem de falar e não ter medo de levar processo. A gente vai falando, vai sendo desbocada até quando a gente leva um tapão."

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Mas qual música Grag escolheria para salvar-se de uma eliminação? Ela foi direto numa das mais dramáticas, pois gosta de emoção!

"Como os Nossos Pais", de Elis Regina, com certeza. Visceral, cheio de vida, cheio de história. Eu amo artista que dá pra trabalhar, que gosta do feijão com arroz. Eu sou expansiva, sou drag queen, amo."

Falando em música, Grag lançou na sexta-feira (15) seu mais recente trabalho. "Sirene" traz um pop chiclete e mostra que ela quer atuar em todos os segmentos, sem abrir mão de nada.

"Amo ser cantora, amo lançar algo, amo lançar música. Então, eu estou tentando entender como planejar toda a carreira de cantora, a carreira de apresentadora, a carreira no Brasil, a carreira fora do Brasil. O importante é estar muito feliz e estar monetizando sempre muito tranquila. Eu amo fazer show, eu amo me montar, então com certeza não tem como eu parar de cantar. Assim como não tem como eu parar de apresentar, então eu que me vire, eu que dê meus pulos. Vou usar muito essa voz ainda por esses anos."

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Por último, muito se fala numa edição de "Drag Race" só com as apresentadoras das edições internacionais disputando. Grag diz que toparia o desafio - e se mostrou bastante competitiva.

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"Eu já encarei um monte de doida, você acha que eu vou deitar para as outras? Não vou! Eu amo competir. Pode me chamar pra tudo. Quando eu competi, eu ganhei, né? Então eu acho que sou boa. Aguardando o convite!"

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