Dono da Friboi não é o filho de Lula, mas é uma mãe para políticos

Lava Jato realizou buscas na casa de Joesley Batista, "campeão nacional" em empréstimos do BNDES e em doações para campanhas.

Em 27 de outubro do ano passado, Joesley Batista, o dono da JBS-Friboi e um dos homens mais ricos do Brasil, subiu em um palco montado no salão de convenções do hotel Grand Hyatt, um dos mais luxuosos de São Paulo, para falar em um seminário sobre política e economia brasileira.

A primeira pergunta dirigida a Joesley começou com uma provocação: "Muitas pessoas apelidaram a JBS de JBNDES..."

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Herdeiro de um modesto negócio familiar, o goiano de 43 anos chamava a atenção internacional por tê-lo transformado em um conglomerado global com mais de 230 mil empregados pelo mundo.

A J&F, holding presidida por Joesley, controla a JBS, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, famosa no Brasil pela marca Friboi, a Eldorado Celulose, o Banco Original, a indústria de cosméticos Flora, o laticínio Vigor e vários outros negócios.

O empresário manteve a calma mas não escondeu a irritação com a sugestão que sua empresa só cresceu com a ajuda do banco estatal sob a bênção dos governos do PT.

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Joesley disse que a provocação era injusta porque suas empresas receberam exatamente as mesmas condições de outros tomadores de empréstimos do BNDES e pagavam os compromissos rigorosamente em dia.

No primeiro governo de Dilma Rousseff (2011-2014), o BNDES despejou R$ 2,8 bilhões, com juros abaixo dos praticados no mercado, nas empresas do grupo.

Divulgação/BNDES

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O dinheiro do BNDES tornou Joesley um dos rostos mais conhecidos da política petista de bombar os "campeões nacionais". No Brasil, ele comprou a Seara. Nos Estados Unidos, o grupo se tornou dono do famoso frigorífico Swift.

Divulgação/JBS

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A política de "campeões nacionais" financiava, por meio de bancos públicos, grandes empresas brasileiras de setores considerados "estratégicos" com potencial para se tornarem líderes globais.

Ao mesmo tempo em que o dinheiro do BNDES entrava, as empresas de Joesley se tornaram campeões em outro setor: a de doações para políticos.

Em 2010, as empresas doaram R$ 66 milhões para candidatos e partidos. Quatro anos mais tarde, as doações somaram R$ 391 milhões.

Marcos Santos/USP Imagens / Via Fotos Públicas

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Dentre as doações da JBS durante a campanha de 2014, destacam-se as feitas a Dilma, de R$ 73 milhões...

Mario Tama / Getty Images

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...e ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), de R$ 51 milhões.

Yasuyoshi Chiba / AFP / Getty Images

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Na vida pessoal, Joesley Batista é casado com a apresentadora Ticiana Villas Boas e é uma figurinha carimbada no mundo das celebridades. Nesta foto, o casal tira uma selfie com o ator Sean Penn.

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Mas nesta sexta (1°), a Lava Jato bateu à porta da casa e de uma empresa de Joesley. Como investiga políticos com foro privilegiado, a operação foi autorizada pelo Supremo tribunal Federal.

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A Polícia Federal realizou buscas nos escritórios na sede do grupo J&F, controlador da JBS. O foco é a empresa Eldorado Brasil Celulose, que recebeu financiamento de outra fonte estatal: o Fundos de Investimentos do FGTS.

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Em 2012, a Eldorado obteve quase R$ 1 bilhão do fundo, que vem da poupança dos trabalhadores, para o projeto desta fábrica em Três Lagoas (MS). Os investigadores acham que houve pagamento de propina em troca da liberação do recurso.

Divulgação/Eldorado Celulose

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O FI-FGTS é um fundo formado com a poupança dos trabalhadores e se tornou foco da Lava Jato depois que o ex-dirigente do fundo, Fábio Cleto, se tornou delator. Fábio Cleto foi indicado para o cargo pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A Lava Jato tem evidências que a liberação de recursos do FI-FGTS ocorria mediante pagamento de "pedágio" para políticos.

O esquema vem sendo revelado pelo ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto. Afilhado político de Eduardo Cunha, ele foi nomeado em 2011, mas exonerado em dezembro do ano passado. Agora, ele virou delator.

Rodrigo Oliveira/Caixa

Fábio Cleto, aliado de Cunha, nomeado vice-presidente da Caixa em 2011 e exonerado em dezembro do ano passado.

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Em uma parte da delação, Fábio Cleto associou a liberação de R$ 3,5 bilhões para o projeto do Porto Maravilha com uma propina para o deputado Eduardo Cunha. O deputado nega ter recebido suborno.

Na operação desta sexta, foi preso o corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, apontado como uma espécie de operador financeiro de Eduardo Cunha.

Câmara dos Deputados

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Funaro é um veterano de escândalos. Ele fechou acordo de delação premiada durante a investigação do mensalão.

No petrolão, quando Cunha passou a ser investigado, os procuradores descobriram que ele transferiu recursos para a empresa que pertence à mulher de Cunha, Cláudia Cordeiro Cruz. O dinheiro entregue por Funaro bancou, por exemplo, a compra de carros de luxo.

A operação também realizou buscas em uma das empresas de Henrique Constantino, integrante da família que controla a Gol Linhas Aéreas.

O que dizem os alvos da Polícia Federal:

  • A Eldorado, empresa do grupo que foi alvo da busca, confirmou que a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão nos seus escritórios em São Paulo. A empresa afirmou que desconhece o objetivo da operação e que "todas as suas atividades são realizadas dentro da legalidade".
  • Já a JBS, outra empresa do grupo, emitiu um comunicado a acionistas em que informou que a indústria de alimentos não foi alvo de buscas.
  • A assessoria de Henrique Constantino informou que a empresa Via Rondon apresentou documentos do empréstimo tomado junto ao Fundo de Investimento do FGTS. A assessoria afirmou que as buscas estavam relacionadas apenas à Via Rondon, e não a outras empresas do grupo, como a Gol.
  • O BuzzFeed Brasil não conseguiu falar com os advogados de defesa de Lúcio Funaro.

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