Advogada diz que iG tinha prometido apoio 2 dias antes de demitir repórter assediada

Caso envolve entrevista com cantor MC Biel e gerou campanha de apoio à jornalista. Nem empresa nem ex-executivo responsável pela demissão se pronunciaram ainda.

Advogada da ex-repórter do iG no inquérito que investiga MC Biel, Ana Paula Cortez afirma que a jovem de 21 anos foi vítima duas vezes: a primeira na ocasião na entrevista em que foi assediada pelo cantor e a última, na última sexta (17), quando foi sumariamente demitida pela empresa em que trabalhava.

"Esta demissão realmente a desestruturou. Além do que ela tinha passado, a empresa havia prometido assistência e apoio", contou a advogada ao BuzzFeed Brasil.

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"Na sexta, o Mário Cuesta [dirigente do iG] chamou a repórter e anunciou a demissão dela. Ela saiu chorando. Dois dias antes da demissão, nós nos reunimos com a empresa que prometeu uma série de coisas, como apoio e assistência", afirmou a defensora.

O iG anunciou o desligamento de Cuesta na última segunda.

Na ocasião da demissão da jornalista, a empresa disse que estava passando por uma reestruturação e não mencionou especificamente a demissão da repórter que sofreu o assédio.

A advogada Ana Paula Cortez representa a jovem repórter somente no inquérito aberto contra Biel. Segundo ela, a repórter ainda não decidiu se pretende ou não ingressar com uma ação de indenização de danos morais contra o cantor ou a empresa.

"Não é a prioridade dela. Ela não quer dinheiro, a única questão aqui é sobre uma profissional poder fazer o seu trabalho e ser respeitada", declarou Ana Paula Cortez.

Segundo a criminalista, o inquérito está em curso e deve ser concluído nos próximos dias. Ela disse que o cantor Biel admitiu o assédio em depoimento.

O silêncio da repórter, segundo a advogada, se deve à necessidade de evitar exposição pública.

"A última coisa que ela quer é aparecer. Neste momento, o que consola é o apoio que ela vem tendo de outras pessoas, em especial de mulheres jornalistas que se solidarizaram com ela", afirmou a advogada.

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Na última segunda (20), foi publicado um vídeo nas redes sociais com jornalistas mulheres relatando casos em que foram assediadas enquanto estavam trabalhavam. O vídeo foi uma reação imediata ao caso do assédio e demissão da repórter no iG.

A página da campanha #jornalistascontraoassédio ganhou mais de 14 mil adesões no Facebook. Veja aqui.

UPDATE, 16H45, sexta (24): Uma segunda pessoa ligada ao caso foi demitida pelo iG nesta sexta. A editora-executiva Patrícia Moraes, que assinou a reportagem que denunciou o caso de assédio no dia 3, foi desligada da empresa nesta tarde.

O BuzzFeed Brasil não conseguiu falar com representantes do iG e do cantor MC Biel até o momento da publicação desta reportagem.

O que sabemos sobre o caso até agora:

  1. O assédio aconteceu quando a repórter do portal iG foi entrevistar MC Biel sobre seu novo CD no final de maio.

  2. Durante a entrevista, o músico chamou a repórter de “gostosa” e disse que a “quebraria no meio” se tivessem relações sexuais.

  3. O caso foi revelado pelo próprio iG no dia 3 de junho e causou uma onda de revolta contra o cantor nas redes sociais. Veja aqui.

  4. No dia 6, o programa de TV "Cidade Alerta" (TV Record) divulgou o áudio da entrevista em que Biel diz "se te pego, te quebro no meio".

  5. A Delegacia da Mulher de São Paulo instaurou um inquérito para apurar a denúncia de assédio sexual contra Gabriel Araújo Martins Rodrigues, o nome civil do cantor. Biel pediu desculpas públicas em um vídeo à repórter que “se sentiu ofendida”.

  6. A repórter foi afastada “por tempo indeterminado” pela empresa. Uma editora disse que ela era “superprofissional” e estava “emocionalmente muito abalada”, em entrevista ao site Ego.

  7. Ela retornou ao trabalho nesta semana.

  8. Na sexta (17), ela foi demitida pela empresa. O caso voltou a repercutir fortemente nas redes sociais.

  9. O portal iG disse, por meio de nota no sábado (18), que está em processo de reestruturação, sem mencionar as circunstâncias da demissão nem porque somente a repórter que sofreu assédio foi a única a ser demitida na sexta.

  10. No dia da demissão da repórter, a Polícia Civil de São Paulo informou que ele está sendo investigado por um segundo caso envolvendo outra repórter. Desta vez, a suspeita é de injúria.

  11. No início da semana, o iG anunciou o desligamento de Mario Cuesta, o diretor que demitiu a jornalista.

  12. Patrícia Moraes, editora-executiva que escreveu a primeira reportagem com a denúncia de assédio, foi demitida pelo portal nesta sexta (17).

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