14 provas de que o Axé tinha mais conteúdo do que você pensa

Em "Faraó divindade do Egito", o Olodum traça um panorama da mitologia egípcia que deu origem à humanidade e claro, ao Pelourinho.

"Divindade infinita do universo
Predominante
Esquema Mitológico
A ênfase do espírito original
Shu!
Formará no Éden um novo cósmico

A Emersão!
Nem Osíris sabe como aconteceu
A Emersão!
Nem Osíris sabe
Como aconteceu."

Em "Vermelho", Márcia Freire conseguiu unir ideologia política bolchevique e folclore brasileiro do Amazonas em uma letra maravilhosa.

"O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha cor (vermelho)."

"De vermelho vive o coração
Tudo é garantido após a rosa avermelhar
Tudo é garantido após o sol vermelhecer."

Na música "Madagascar Olodum", a banda conta através de uma letra bastante densa, que beira ligeiramente a confusão, a história da ilha da Madagascar.

Fala de seus reinos e reinantes, como a Rainha Ranavalona. Curiosamente a letra escrita pelo compositor Rey Zulu (sim!) canta detalhes e conceitos históricos aprofundados de como a formação de Madagascar se relacionou com o Brasil e porque não, com o axé.

A Banda Reflexus não escondia a forte influência africana em seu trabalho e muitas de suas letras tratavam de algum ponto do continente. Em "Canto para o Senegal", a banda fala da geografia onde o país está localizado e algumas características marcantes para quem pretende saber mais sobre o país.

"Os sere ê ê ê, a tribo primeira que simbolizava
Salum, Gâmbia, Casamance, seus rios a desembocar
Mandigno, Tukuler, Uolof, são os povos negros
E uma das capitais mais lindas hoje se chama Dakar, Ilê"

O grande hit d'As Meninas além de ser uma bela música para dançar, tem uma letra que escancara as camadas sociais e as gritantes diferenças entre ricos e pobres em nosso país.

"Onde o rico cada vez
Fica mais rico
E o pobre cada vez
Fica mais pobre
E o motivo todo mundo
Já conhece
É que o de cima sobe
E o de baixo desce."

Um clássico do músico tem como tema a história de uma moça, sob o ponto de vista de um candidato a namorado, um irmão super protetor e seu pai que faz marcação cerrada. E ainda assim, ela não está nem aí e só quer ser feliz com sua(s) namorada(s).

"O broto do seu lado
Já teve um namorado
E teme um compromisso
Gavião
Há sempre um do seu lado
Se diz gato malhado
Mas não é nada disso..."

Na letra de "Cabelo Raspadinho", o Chiclete manda um papo reto sobre você ser quem você é e deixar os outros serem também, através do seu visual de cabelo.

"Cabelo Raspadinho, estilo Ronaldinho
Cabelo pintado ou V-O
Cabelo embaraçado, encaracolado,
Rastafari, Rock'n Roll"

O importante é você ser da paz.

Em "O Canto da cidade", Daniela apresenta metaforicamente uma explicação sobre o porquê você precisa se orgulhar do seu lar e de seu povo.

Algumas vezes achamos tudo ruim e mal cuidado, mas não tem explicação. Ela é bonita.

"Não diga que não me quer
Não diga que não quer mais
Eu sou o silêncio da noite
O sol da manhã"

Você pode até querer romper com quem você realmente é, mas isso passa. Acredite em Daniela.

Em um de seus hits Netinho aborda a moradia e fala sobre barracos.

Através da música, mostra que condições adversas de moradia são sim algo para que os governantes se preocupem:

"Esse barraco vai cair
Eu não me canso de avisar
Ele não tem alvenaria
Não tem coluna pra apoiar

Ai eu não quero ver o dia
Dessa zorra desabar."

Disfarçada de reflexão sobre o Criador, essa letra do Terrasamba faz uma crítica à pobreza que diariamente consome milhões de brasileiros:

"Ônibus lotado
Povo apertado
Será que na vida
Tudo é passageiro
Um calor danado
Povo sem dinheiro
Tenho lá minhas dúvidas
Se Deus é brasileiro..."

E no final, ele arremata as críticas e dúvidas com Deus perguntando como o brasileiro consegue ainda com tudo isso, ser feliz:

"Não leve a mal
Tudo bem ô, rapaz!
Ei você ai de cima!
Entre outras coisas
Que eu quero saber
Por favor me ensina
Como esse povo que sofre
Com fome, que passa mal
Vai batucar na panela vazia
E fazer carnaval..."

Em 1988, o publicitário Nizan Guanaes fez uma música para ajudar as obras de Irmã Dulce com a participação de vários artistas de destaque da música baiana - alguns ficariam conhecidos nacionalmente anos depois: Daniela Mercury, Ricardo Chaves, Margareth Menezes e Durval Lelys (do Asa de Águia). É o "We Are the World of Carnaval"

Através de figuras de linguagem em uma belíssima letra, a banda Cheiro de Amor cantou as raízes da cultura africana inseridas no contexto do Axé da Bahia.

"Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar meu bem querer

Sei que o mar da história é agitado
E o Olodum a onda que virá
Em forma de dilúvio vem me despertar, amor
Em forma de dilúvio vem exterminar."

Faz todo sentido se você ler o mar como a história toda do negro na sociedade brasileira e a jangada como a luta diária nesse mar agitado.

"Se Deus quiser
Quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer."

Nessa outra parte, a esperança de que um dia a jangada conquiste o mar e traga vitórias e mais vitórias para a casa.

Poucas músicas tiveram o viés sexual tão acentuado quanto "A Roda" de Sarajane.

Fica bastante clara a intenção de falar sobre sexo anal de uma maneira contagiante e dançante, o que é uma quebra de tabu.

"Essa dança apareceu, minha neguinha
Foi tirada de uma ave, de uma galinha
Deslizando pra frente e pra trás
Abre a rodinha, meu amor
Abre a rodinha, por favor"

"Segure o tchan
Amarre o tchan
Segure o tchan tchan tchan"

Aqui é onde o Gerasamba (na época) começa a fazer o alerta: Vai pra festa, mas SEGURA O TCHAN.

"Tudo que é perfeito
A gente pega pelo braço
Joga ela no meio
Mete em cima
Mete em baixo"

Ou seja, na hora é tudo tão gostoso que ninguém pensa nas consequências.