Precisamos parar de romantizar o termo “mulher guerreira”

"Guerreira é a Xena. Eu sou sobrecarregada mesmo."

O termo “mulher guerreira” é frequentemente usado para elogiar mulheres que se desdobram entre diferentes rotinas.

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"Guerreira é a Xena. Eu sou sobrecarregada mesmo."

Franciele Kuhnen, 29 anos, cantora, Bonito/MS

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E com razão! Será que não idealizamos demais isso de “ser guerreira”? Será que todas nós precisamos ser guerreiras sempre? Carregar esse peso nos faz bem?

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“Eu sempre trabalhei fora e tive que cuidar da casa, dos filhos, do marido e de uma mãe doente. No começo eu me sentia forte e muito bem, mas com o tempo foi vindo o cansaço e as dores. Um dia eu estava numa festa em família e ouvi de longe: 'olha sua vó, ela sim é guerreira, siga o exemplo dela'. E tudo que eu conseguia pensar na naquele momento era que eu só queria ter tido mais ajuda, assim eu não precisaria ser guerreira sozinha. Ser guerreira dói muito.”

Jalva Lemos, 67 anos, aposentada, São Paulo/SP

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Toda visão romântica da realidade pode acabar atrapalhando análise profundas de alguns contextos sociais. A romantização nos faz esquecer, por exemplo, que os pais devem participar das funções do lar e dos cuidados com os filhos, ou que não é normal mulheres em jornadas triplas tendo que chegar em casa prontas para satisfazer desejos de maridos.

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"Por trás de qualquer mulher guerreira existe um homem que está negligenciando sua família".

Marina Alves, 28 anos, engenheira de dados, São Paulo/SP

A romantização também nos impede, muitas vezes, de enxergar a realidade de mulheres pobres ou mães solo.

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"Acho triste. Se existe uma mulher guerreira é porque alguém não está fazendo sua parte, no geral o companheiro. Lógico que tem a ideia de guerreira que corre atrás do que quer, sendo solteira, casada, com filhos ou sem, mas geralmente é na mulher que é mãe, pai, estuda e trabalha que pensamos quando usamos este termo. Ao menos eu penso. Fora que existe aquela ideia de que a mulher guerreira é imbatível e inabalável e ninguém se importa em amparar ela, afinal de contas, ela sempre dá um jeito, não é mesmo?"

Fabíola Cristovão, 26 anos, advogada, Indaial/SC

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Nosso maior desafio é fazer com que a romantização não embace nossa visão sobre a realidade, e atentar para sempre interseccionalizar os recortes de raça e classe para o centro do debate.

"Acho que é uma romantização do sofrimento e às vezes da pobreza também. Ela precisa se desdobrar em mil para trabalhar, cuidar dos filhos, ser sociável e inteligente, nunca ficar doente e não reclamar. Ah, e ainda precisa 'se dar o respeito' e estar sempre arrumada e cheirando a flores do campo."

Vanessa Massola, 22 anos, estudante, Rondonópolis/MT

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"É engraçado como sempre acabam me parabenizando por ser forte, resistir, aguentar tudo. Quase nunca me oferecem ajuda, talvez porque já estabelecemos esse imaginário da mulher que suporta tudo. Acho que podemos começar a parar de distribuir confetes e exercitarmos mais empatia."

Andrea Mendes, 37 anos, vendedora, São Paulo/SP

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Por fim: quando se sentir aflita, não hesite em se abrir e conversar com alguém. O peso do dia a dia pode não estar te ajudando.

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"Minha maior alegria em todos esses anos foi perceber que tá tudo bem não dar conta de tudo e permitir que o cansaço venha. Quando você percebe que ser mulher guerreira é um rótulo dispensável, criado dentro do patriarcado para também gerar competitividade entre nós, sua vida fica muito mais leve."

Ivonete Martins, 48 anos, professora, São Paulo/SP

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