Reaprendendo a ler: uma coluna pra te ajudar a voltar para os livros
Se os seus hábitos de leitura estão piores que o governo Bolsonaro, não se preocupe.
Se você nunca mais soube o que é sentar a bunda no sofá, largar o celular e abrir um livro, esta coluna é pra você. Mas se você tem obsessão por livros e não vive sem eles, esta coluna também é pra você.
Divulgação
Estreamos hoje a coluna semanal Reaprendendo a ler, assinada pela nossa diretora de conteúdo Gaía Passarelli e pela redatora Débora Lopes. Aqui, você vai conhecer livros incríveis com o olharzinho esperto, sarcástico & safado típico do BuzzFeed que você tanto ama. E se os seus hábitos de leitura estão piores que o governo Bolsonaro, não se preocupe. Toda semana a Gaía e a Débora vão trazer uma dica certeira® pra você conseguir largar o celular e ler mais.
Dica para reaprender a ler: a "técnica pomodoro"
Carol Yepes / Getty Images
Na real essa é uma dica de produtividade que serve meio que pra tudo: chama Pomodoro Technique e consiste em dividir o tempo em espaços de 25 minutos com intervalos de cinco. É muito simples e a ideia aqui é não apavorar, fazer uma coisa por vez e se recompensar a cada meta alcançada. Sendo bem sincera comigo mesma, eu não consigo desligar o celular e passar três horas seguidas lendo (alguém consegue?!) e inclusive a tarefa me apavora. Mas eu consigo ler por quase meia horinha, levantar pra beber água, dar uma passada no Twitter/Instragram se for o caso, e voltar pra ler mais um pouco, e segue a vida. Nessa de recompensar a concentração com respiros, eu acabo conseguindo ler por várias horas sem sofrer com ansiedade. Você pode usar o timer do seu celular ou instalar uma das dezenas de apps pra isso. Procure por "pomodoro". De nada. - Gaía Passarelli
Dica de livro: "Recordações da Minha Inexistência", Rebecca Solnit (Companhia das Letras, 2021)
Cia das Letras
"Ser uma jovem mulher significa enfrentar a sua própria aniquilação de maneiras inumeráveis" — a frase está no início de "Recordações da Minha Inexistência", volume de memórias da escritora Rebecca Solnit, lançado há pouco no Brasil pela Companhia das Letras. O título poético dá o tom do livro, que mistura lembranças da juventude da autora na Califórnia nos anos 1980-90 com reflexões sobre questões sobre ser ou se tornar mulher. A leitura é fácil, sem grandes arroubos acadêmicos e profundamente pessoal, com trechos que vão reverberar para todas que tem a experiência de ser mulher nesse mundo, como esse: “Sou uma mulher que, nos primeiros anos da adolescência, teve que aprender a se esconder, a se esgueirar e desaparecer de vista quando perseguida por homens adultos, pois dizer a eles para me deixarem em paz era, naquela época, inconcebível como algo que eu tivesse o direito de dizer com segurança”. Por tratar muito da formação de Solnit como historiadora e ensaísta, além de ativista, é uma boa forma de ler sobre luta feminista, mesmo que a partir da experiência de uma mulher branca e norte-americana vivendo em São Francisco. A autora é, afinal, responsável por popularizar o termo “mansplainning" (no ótimo "Os homens explicam tudo pra mim”, ensaio de 2014) e escreveu mais quinze obras com temas como história indígena e debates de gênero, como o ótimo “De quem é essa história”, de 2020.
E vale lembrar: a editora tem outros títulos publicados que conversam com o Mês Internacional da Mulher:
"Será que sou feminista", Alma Guillermoprieto
"Por um feminismo afro-latino-americano", Lelia Gonzales
"Quem tem medo do feminismo negro", Djamila Ribeiro
"As 29 poetas hoje", várias autoras e organização de Heloísa Buarque de Hollanda
Dica de livro: "O Útero é do Tamanho de um Punho", Angélica de Freitas (Companhia das Letras, 2012)
Cia das Letras
Existem boas doses de humor e raiva nos poemas que compõem este que é o segundo livro da gaúcha Angélica de Freitas. Com ironia e sem nenhum resquício de romance, "O Útero é do Tamanho de um Punho" faz uma leitura interessante sobre a construção do estereótipo da mulher na sociedade. "Uma mulher gorda incomoda muita gente / Uma mulher gorda e bêbada incomoda muito mais", traz um dos poemas. Ao longo das quase cem páginas, a autora desenrola sentimentos de culpa, angústia, mas também de resistência contra tanta coisa que faz mal para a nossa autoimagem: "Comecei regime porque me sentia mal / Eu me sinto mal eu me sinto tão mal / Troquei os biscoitos por brócolis queijo cottage e aipo / Coragem eu não tenho de fazer uma lipo / Eu me sinto tão mal por tudo que comi esse tempo todo / Tão mal e tem tanta gente passando fome no mundo."
Mas "Um Punho é do Tamanho de um Útero" não é um pedido de socorro, é um atestado de que por mais que o feminismo consiga combater certos males e que nós, mulheres, possamos ter mais consciência do que acontece ao nosso redor, essa luta também tem seus momentos inglórios. E é com isso que a autora flerta a todo momento: com as nossas pequenas derrotas, com o que nos faz mais humanas, mas também fortes. Em dado momento, ela escreve: "Um útero é do tamanho de um punho / não pode dar soco".
Como estão os seus hábitos de leitura durante a pandemia?
Não tenho lido
Leio pouco
Estou lendo bem
Tenho lido mais do que antes