Como a nova montagem brasileira de "Wicked" trouxe mais diversidade e representatividade ao musical

Conversamos com o elenco e produção para entender este novo momento do teatro.

Quando a nova montagem de "Wicked" foi anunciada, muito se especulou sobre o elenco. A peça, original da Broadway e feita no Brasil em 2016, trouxe rostos já conhecidos e outros novos, criando uma das versões mais diversas já produzidas no mundo.

Myra Ruiz e Fabi Bang retornaram aos papéis de Elphaba e Glinda, respectivamente. Tiago Barbosa interpreta Fiyero; Marcelo Médici é o Mágico de Oz; Diva Menner faz Madame Morrible; Dante Paccola vive Boq, Nayara Venancio dá vida a Nessarose, e Cleto Baccic é Dr. Dillamond.

Para quem não conhece, "Wicked" é a história de uma amizade improvável entre Glinda e Elphaba, duas bruxas com personalidades opostas e com diferentes pontos de vista. Entre elas, há certa rivalidade por conta de um interesse amoroso em comum. Unidas, elas lutam contra o governo corrupto do Mágico de Oz, que resulta na conversão de Elphaba em vilã da história.

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O BuzzFeed Brasil visitou os bastidores do musical, e o elenco falou sobre a importância da diversidade na escolha dos artistas, a representatividade que é agregada e como o público da peça se identifica com isso.

O reconhecimento e a identificação do público são peças muito importantes para Tiago Barbosa, que assumiu o papel principal masculino nesta montagem. Sua entrega está muito além da arte e firma um compromisso social ao se tornar um príncipe negro.

Divulgação/João Caldas

"Ao fazer um príncipe, você sempre leva para esse estereótipo do belo, do homem branco, dos olhos claros ou do cara atlético. Dificilmente você consegue olhar esse estereótipo dentro de um corpo negro. E aqui no Brasil é o lugar onde mais me faz falta esse tipo de quebra de paradigma. Ou talvez seja mais entender realmente qual é a raiz cultural que nós temos no Brasil. Então, acho que o meu primeiro ponto em fazer esse personagem foi esse. Tiveram várias vezes, mas uma vez em especifico, em que eu estava saindo do teatro e vi uma criança, um pretinho, tirando uma foto em frente à minha foto, fazendo a mesma pose que eu estava fazendo. Aquilo mexeu comigo. Eu acho que muito mais que ser ator, muito mais do que pelo dinheiro que a gente encontra fazendo qualquer coisa, é o compromisso social que você também carrega em transformar uma geração."

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Com uma larga experiência em produções nacionais e internacionais, desta vez Tiago trouxe uma malícia a mais ao personagem, e flerta com diversos gêneros no palco.

Divulgação/Jairo Goldflus

"Além de trazer o peso desse cara, desse Fiyero, eu tentei emprestar algumas coisas minhas, sabe? Umas cores diferentes, porque é difícil você fazer um príncipe, porque senão você entra num lugar muito clichê do galã, o cara que fala, o cara que canta, o cara que é belo. Mas quais são as outras camadas que você pode dar pra esse cara? Então, é um lugar muito difícil para cavar, senão você fica num lugar de superficialidade muito grande, né?"

Diva Menner é uma mulher trans, a primeira a participar do "The Voice Brasil". Sua passagem pelo musical tem tocado muita gente.

Divulgação/Jairo Goldflus

"Às vezes, é muito cansativo fazer a peça, mas é prazeroso, porque a gente vê no olhar das pessoas. Tem gente que chora quando me vê, falando que é fã, e que me conheceu a partir de 'Wicked'".

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A competência, disciplina e carisma de Diva a colocaram neste papel, que pareceu ter sido feito para ela. Anos de carreira a permitiram entender a personagem e agregar ainda mais nesta montagem.

Divulgação/João Caldas

"É uma oportunidade única. Eu fui fazer o teste e não me arrependi. Amo fazer a Madame Morrible, eu acho que é uma personagem icônica nessa história. Ela é a antagonista, tem uma presença muito grande e fiz questão de trazer elementos meus, da minha vivência, enquanto mulher trans, da exuberância, do exagero, não porque eu seja muito exagerada, eu não sou, mas o teatro permite isso, né? E a produção me deixou muito livre pra criar e trazer elementos". 

Cleto Baccic, além de interpretar Dr. Dillamond, um personagem bastante importante para a trama, é produtor da peça e encabeça o Atelier de Cultura, empresa responsável pela montagem. Para ele, ter um elenco bastante diverso foi um desafio, mas o momento foi oportuno.

Divulgação/Jairo Goldflus

"A gente vê esse momento que é delicioso de perceber. A gente sai do estigma. Do que é o príncipe, desse estereótipo do príncipe que a gente aprendeu desde criança, minha geração, sobretudo. Que isso é o príncipe, que a princesa é daquele jeito e o castelo tem que ser assim, e não é nada disso, né?"

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Baccic exalta a escalação do elenco, mas pede por ainda mais diversidade.

Reprodução

"A gente vive esse momento hoje e eu acho importantíssimo a inclusão. Graças a esse movimento todo de observar mais o outro, a gente consegue ter um público que aceita mais. Antes, era muito mais difícil. É importante que as pessoas corram atrás e se inscrevam para os testes, eu quero ter mais orientais no meu grupo de elenco, por exemplo. Esse lugar que a gente está hoje de igualdade, ou buscando essa igualdade de oportunidades, está difícil ainda, temos que comer bastante arroz com feijão, mas a gente chega lá um dia."

Myra Ruiz interpreta Elphaba, a Bruxa Má do Oeste. Uma mulher de pele cor verde-esmeralda, incompreendida, inteligente e de personalidade forte. Na história, piadas sobre sua cor são recorrentes e ao vermos estas cenas sentimos muita empatia. A atriz enfatiza o fato das pessoas se verem na personagem e entenderem suas dores.

Divulgação/João Caldas

"Eu acho que tem a ver com o underdog (sentimento de ser um perdedor), de ser diferente. Eu sinto que é isso que faz com as pessoas terem aquela catarse quando ela voa em 'Defying Gravity'. É muito catártico porque muitas pessoas se sentem assim e se identificam. Quando a Elphaba está voando, o público está relembrando do momento na vida em que eles, todos nós na verdade, tivemos essa emancipação na vida. Porque a gente passa por processo de emancipação, eu, como mulher, passei por isso, ainda passo, na verdade. Nesse processo de ganhar força na vida, a gente vê a Elphaba ganhar a dela em cena. Acho que isso emociona muito, porque as pessoas lembram dos momentos delas de crescimento e as que, talvez, ainda não viveram isso, se sentem inspiradas a viver, então é muito forte."

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Para quem quiser ver a peça, as informações necessárias estão abaixo:

Divulgação/João Caldas

Sessões:

Quinta e sexta-feira: 19h30

Sábado e domingo: 15h00 e 19h30

Local: Teatro Santander (Shopping JK Iguatemi – Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041)

Classificação etária: Livre. Menores de 12 anos acompanhados de responsável.

Duração: 150 minutos e 15 minutos de intervalo

Ingressos: de R$ 50,00 a R$ 400,00, que você pode comprar AQUI.

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