Wesley Safadão mostra que a cultura da erotização infantil está cada vez mais viva em nossa sociedade
Cantor foi denunciado por suposta erotização da filha em vídeo da música "Macetando", composta e produzida por DJ Ivis, que no ano passado foi preso por agredir a esposa.
O cantor Wesley Safadão foi denunciado na última segunda-feira (25) na Ouvidoria do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos pela deputada federal Eliza Virginia (PP-PB) por suposta erotização infantil de sua filha Ysis, de 8 anos.


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A reação da parlamentar veio após a participação da menina em um vídeo em que pai e filha aparecem cantando e fazendo a coreografia da música "Macetando", interpretada pelo cantor, mas comporta e produzida por ninguém menos que DJ Ivis.


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Menos de ano após ser preso por agredir a esposa, Ivis voltou ao mercado musical, onde tem emplacado trabalhos com nomes como Gusttavo Lima.


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Além da cultura da erotização, a passação de pano para homem agressor também está mais viva do que nunca.
No vídeo, publicado por Safadão no último dia 17, ele e Ysis dançam um trecho da música que diz: "Red de melancia pra novinha, com gin que tu vai ver / Putaria (vai bebê) / Chama as amiguinha, o baile vai ferver / Só quem é gostosa levanta a mão aê / Sentando, sentando, sentando, sentando, novinha sentando, sentando, sentando / Ma-macetando".


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Só no Instagram, Safadão tem mais 37 milhões seguidores. Entre comentários elogiosos ao cantor, o video recebeu mensagens como "putaria", "Baixo! Suj0!" e "Pai o que é put4ria ? 🤡".
Temos no vídeo uma criança de 8 anos cantando e dançando ao som de "novinha", "gostosa", "sentando", "sentando", "sentando"... Isso em um país em que meninas de 10 anos são vítimas de estupro, em que os índices de gravidez na adolescência são altíssimos, em que milhares de crianças são alvos de pedófilos e que mulheres, com cada vez menos idade, são vítimas de assédio sexual.


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Relacionar a imagem de uma criança com termos como "gostosa", "sentando" e macetando" parece só piorar esse cenário.
Segundo a Childhood Brasil, a erotização infantil é considerada uma das principais causas da violência sexual contra crianças.


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Segundo a organização, a erotização infantil, potencializada na atualidade pelo alcance e força das redes sociais, "reforça uma cultura machista e estigmatiza o sexo feminino como objeto, desde a infância".
Além disso, ao sexualizar e erotizar uma criança – que aos 8 anos de idade certamente vai achar divertido gravar uma coreografia ao lado do pai – você cria nela e na sociedade uma mudança de olhar em relação àquele corpo, que deixa de ser o de uma criança para ser visto como objeto de desejo, atrelado à palavras como "novinha", "gostosa" e "macetando", por exemplo.


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O fato de Safadão publicar um vídeo como esse, no qual expõe a própria filha, reforça o quanto, em um país machista como o Brasil, a cultura da erotização infantil está viva e banalizada entre nós, já que o cantor achou, por exemplo, que o conteúdo do vídeo era aceitável e apenas mais uma forma de promover a sua música.
Se crianças dançando "Na Boquinha da Garrafa" nos anos 1990 era problemático, expor para milhões de pessoas alguém de 8 anos cantando e dançando ao som de "Macetando" é pior ainda.


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Naquela época, todos tínhamos menos informação. O Estatuto da Criança e do Adolescente, por exemplo, era novidade. Hoje, o ECA já tem mais de 30 anos. Por meio dele, nós temos mais informação sobre a proteção à infância. E pais deveriam conhecer os limites da exposição de seus filhos.
Procurada, a assessoria do cantor Wesley Safadão não respondeu ao contato do BuzzFeed Brasil até a publicação da matéria. O espaço segue aberto.
Em nota, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirmou que "a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH) não divulga os nomes dos envolvidos para preservar a integridade e confiabilidade do mecanismo de denúncia. A ONDH tem por obrigação receber, examinar, encaminhar e acompanhar as providências relativas a denúncias e reclamações sobre violações de direitos humanos e da família, sempre assegurando o anonimato."