Conheça parte da história de artistas trans que viveram em meio a Ditadura Militar

Você sabia que hoje é o Dia Nacional das Artes?

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Você sabia que hoje é o dia Nacional das Artes? 

Comemorado anualmente durante o dia 12 de agosto, essa data foi criada para celebrar as diversas manifestações artísticas presentes no Brasil. Foi em meio a Ditadura Militar, mais precisamente em 1978, que a profissão de artista foi enfim regulamentada no país através do Decreto de Lei nº 82.385 e da Lei nº 6.533. 

Assim definiram o Dia Nacional das Artes, como um momento único para enaltecermos a nossa cena cultural e sua resistência artística.  

Hoje poucas pessoas têm conhecimento sobre esse período e quando se trata de artistas que viviam em plena Ditadura no Brasil, a maioria só se recorda de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, entre outros grandes mestres da MPB.   Porém, durante a mesma época houve um processo de apagamento histórico das travestis e transformistas que frequentavam essa cena artística. 

Reprodução | Arquivo pessoal. Rogéria, nos anos 70.

A principal travesti em evidência no Brasil durante essa década era a falecida cantora Rogéria, que estreou em 1964 o primeiro espetáculo nacional de transexuais, o Les Girls, dirigido por João Roberto Kelly. Em meio ao início do regime militar, ela e muitos outros artistas brasileiros conviviam com a censura e o medo instaurado da repressão. Ainda assim, Rogéria afirmava nunca ter sido presa e exilada, enquanto  muitas travestis e transformistas eram obrigadas a viver uma rotina dupla entre a noite e o dia para fugir das perseguições. 

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Trabalhando em salões de beleza na parte do dia, se apresentando em boates na parte da noite ou vivendo do trabalho sexual, as travestis que integravam a cena artística se opunham ao conservadorismo da época.

Acervo Instituto Moreira Salles

Elas viveram um dos período mais cruéis da ditadura militar, quando ainda não havia nenhuma possibilidade de reconhecimento jurídico para travestis ou sequer abertura para falar do preconceito que sofriam, como afirma em entrevista à BBC, o Samuel Titan Jr., coordenador executivo do Instituto Moreira Salles (IMS) e um dos curadores da mostra As Metamorfoses, que reuniu imagens de travestis e transformistas que viveram em 1970.

"Elas lutavam com unhas e dentes por visibilidade e legitimação, que na época só era possível na arte. Não havia uma organização política conjunta, elas trilhavam caminhos individuais."

Era através de suas manifestações artísticas que muitas travestis buscavam a legitimação da sua identidade e o respeito, como retratou muito bem uma fotógrafa húngara chamada Madalena Schwartz.

Acervo Instituto Moreira Salles

Conhecida como uma das grandes expoentes da fotografia em São Paulo, ela se dedicou entre 1964 a 1985, a fotografar travestis anônimas e menos conhecidas das noites paulistanas. 

O universo representado por ela é um dos poucos registros que temos das travestis e transexuais que integravam a classe artística durante o regime militar no Brasil.

Schwartz vivenciou uma oportunidade única na época, de criar uma grande intimidade com as frequentadoras dessa cena e suas fotografias carregam um olhar humanizado e verdadeiro sobre como essas “personagens” queriam se ver representadas. 

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Os retratos da artista que estiveram expostos meses atrás na mostra As Metamorfoses no IMS Paulista, em São Paulo, eram realizados numa espécie de estúdio improvisado no seu apartamento.

Acervo Instituto Moreira Salles

O que traduz todo um clima de troca e cumplicidade entre a fotógrafa e as artistas travestis. 

"Uma das questões é porque ela se interessou por esse mundo. Tinha um elemento de contestação nessas travestis e transformistas. Elas adquiriram para a Madalena e para muitas pessoas um caráter simbólico dentro de um período de perseguições. Tudo aquilo virava uma encarnação do conceito de liberdade", diz o curador da mostra no IMS, Samuel Titan Jr.

Hoje, Dia Nacional das Artes, se fez mais que necessário compartilhar com vocês parte dessa história, para tornar viva a memória e a manifestação artística dessas travestis e transformistas.

Agora me conte, quais outras histórias devo compartilhar por aqui? Me chama no Instagram! @transpreta ;)

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