Relacionamento aberto ou fechado? Uma escolha para chamar de sua

Nossas relações precisam seguir a mesma normal héterossexual e cisgênera?

Algum dia desses, estava conversando com uma grande amiga, Verônica (ela jamais me permitiria que esconder sua identidade). Verônica, que é uma multiartista, expoente do rock nacional e travesti, estava acompanhada de seu namorado quando passaram o réveillon ao lado de amigos ostentando a felicidade de seu relacionamento monogâmico - com regras que só interessam aos envolvidos. 

Já no rolê, Veronica viu seu relacionamento ser questionado, pra não dizer invalidado, por algumas pessoas: como pode uma travesti ter um relacionamento monogâmico? Como pode um corpo dissidente reproduzir um comportamento cisgênero e heteronormativo? 

Afinal de contas, isso não foi criado para nós. Muito menos criado por qualquer um de nós.

Mas, e se num lapso de consciência e de poder sobre suas próprias decisões, Verônica simplesmente quiser?

Veja bem, por algum tempo minha vida amorosa foi pautada em estabelecer relacionamentos fechados por poucas amarras, que se abriam rapidamente, sem diálogo ou acordo prévio. Uma permissividade não verbalizada, também conhecida como traição. 

Com o tempo, e algumas galhadas na cabeça, acreditei que estava tentando caber em algo que não me pertencia. A baixa autoestima que se desenvolve depois de experiências como essas é capaz de te fazer acreditar que você não é capaz de fazer alguém ainda mais feliz, e como resultado, você cai de cabeça em experiências que você nunca quis vivenciar, mas que naquele momento, soam como a única opção. 

Com isso, me propus a viver dois relacionamentos abertos, um seguido do outro. Lá estava eu, vivendo o modelo mais atual e LGBT+ friendly. Eles podiam beijar e transar com outras pessoas, eu também. Eles não se importavam em saber, já eu não queria nem imaginar. Não era o que eu queria, mas depois de tudo, pra tê-los ali… pra ter ALGUÉM ali, só podia ser a solução. 

Caos.

Quando nem as regras mais básicas não foram respeitadas, eu os reneguei do privilégio que é viver comigo. 

A verdade é que não interessa se sua relação é aberta ou fechada, ela está inevitavelmente fadada ao fracasso se não houver comprometimento, respeito, lealdade e diálogo.

Se você, eu ou Verônica quisermos viver seja lá o que for, temos todo e completo direito de viver seja lá o que for, e a opinião das pessoas nunca importou menos. 

Diversas realizações pessoas, determinadas por pessoas heterossexuais, nos são negadas no decorrer da vida por sermos pessoas LGBT+. A gente transmuta e ressignifica uma por uma. É a nossa forma mais legítima de sobreviver. 

Mas, e se ainda assim você simplesmente quiser?

Publicidade

Porque tem que ser coisa de hétero você querer ter sua família por perto? Ou quem sabe, frequentar a igreja do seu bairro? Casar, ter filhos, escrever um livro e plantar uma árvore? 

Enfim, 

Definitivamente relações abertas ou fechadas, não são promessas de sucesso, nem devem ser uma forma de salvar o que já se perdeu. Relações, abertas ou fechadas, tem muito mais a ver com encontrar pessoas que estão conectadas com uma proposta de vida similar à sua, seus valores e respeitam os acordos pré estabelecidos.

Não existe poder maior do que viver a vida que você quiser.

Publicidade

Veja também