Uma pequena vira-latinha é aposta da Zâmbia contra caça de elefantes

Fury é a primeira Canis africanis a ser treinada para farejar caçadores ilegais, e está se saindo muito bem.

Fury, de três meses, foi tirada das ruas de um vilarejo da Zâmbia e hoje tem destino promissor.

Invictus K9

Ela é a primeira Canis africanis — ou vira-lata de vilarejo africana — a ser treinada para combater a caça ilegal.

      

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Fury irá se juntar à primeira unidade canina do Parque Nacional de Lower Zambezi, na Zâmbia, que já conta com dois pastores alemães. Sua tarefa será farejar caçadores ilegais e traficantes de animais.

Os cachorros estão sendo treinados para farejar marfim, armas, pangolins — um dos mamíferos mais traficados da Terra — e pegadas humanas.

Trabalhos como esse são normalmente feitos por cães com pedigree, como pastores alemães ou pastores belgas. Por isso, há muita expectativa em torno de Fury.

"Cem por cento dos treinadores profissionais que conheci na África me disseram que o Canis africanis não podia ser treinado", disse ao BuzzFeed News Jay Crafter, cofundador da Invictus K9, que está organizando a unidade de operações especiais caninas.

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Mas Crafter, que é do Zimbábue, conhecia casos de cães locais que foram usados informalmente. "Se um caçador ilegal pode andar com um cachorro como este por 50 quilômetros no meio do mato sem lhe dar comida e água, por que ele não poderia ser treinado por nós?"

Crafter andou por vilarejos da região procurando filhotes para o trabalho. "Não vou mentir, as pessoas acharam que estávamos malucos", disse.

Cães de vilarejos são comuns em qualquer lugar na África. Alguns são usados como cães de guarda, mas raramente eles são considerados animais de estimação, levando vidas miseráveis como carniceiros.

Crafter selecionou 33 filhotes, que passaram por uma série de testes para ver se tinham o temperamento necessário para o trabalho. Eventualmente, Fury e outro cachorrinho que ganhou apelido de Olhos Azuis se destacaram. Então, finalmente, Fury foi selecionada para a tarefa.

"Para um filhote de 14 semanas, ela é excepcional. Estamos muito orgulhosos e surpresos pelo quanto ela está aprendendo e tem vontade de aprender", disse Crafter.

Em um dia particularmente impressionante, a guardinha não se intimidou quando um elefante apareceu no meio de seu treinamento.

O objetivo da equipe é ajudar a salvar os quase 450 mil elefantes selvagens que restam na África.

Chris Jek / AFP / Getty Images

Devido à demanda dos Estados Unidos e da Ásia Oriental por marfim, 80% da população de elefantes africanos foi morta desde os anos 1970. Hoje, a espécie está rumo à extinção.

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Como as unidades caninas ainda são raras na Zâmbia, muitos dos guardas florestais não têm experiência em trabalhar com animais. No entanto, o companheirismo aumenta a cada dia.

"Definitivamente existe uma conexão. Os guardas veem o quanto os cães são inteligentes e competentes, e a empatia e o respeito vêm naturalmente. Eles levariam um tiro pelos seus cachorros."

Não é apenas uma figura de linguagem, mas um risco real. É sabido que os caçadores ilegais matam guardas florestais na Zâmbia.

Além disso, os guardas florestais lidam com altas temperaturas e terrenos hostis — outra razão pela qual os cães locais, com treinamento adequado, podem trazer uma vantagem.

Crafter destacou que é muito caro importar cachorros e depois cuidar de sua saúde. "Os filhotes locais são mais tolerantes ao calor, às doenças locais. Seus corpos foram feitos para trabalhar neste ambiente."

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O sucesso com Fury fez Crafter ter a esperança de um dia montar uma "Academia Canina da Mata", gerenciada pela comunidade local e formada por cães nativos para proteger os elefantes selvagens.

Crafter diz que é impossível prever se o treinamento de Fury dará certo. "Mas minha intuição diz que ela estará pronta em 9 ou 12 meses", disse.

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