Um pequeno guia para lidar com haters na internet
A internet não é terra sem lei e atos virtuais têm consequências.
Como a gente lida com internet diariamente, também estamos expostos a parte ruim dela: os haters e suas interações agressivas. Pode ser desde um reply malicioso até uma perseguição contínua. Mas é importante lembrar que ninguém está sozinho nesta – nem psicologicamente, nem legalmente. O BuzzFeed Brasil conversou com profissionais e pessoas que já sofreram assédio e agressões online para tentar te ajudar a saber o que fazer caso um dia isso aconteça com você.
Haters existem desde sempre.


“A internet não traz nada de novo, ela só dá um alcance maior”, diz a psicóloga Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, em entrevista ao BuzzFeed Brasil.
Mas Luciana ressalta que nem tudo é negativo: o alcance da internet funciona para os dois lados. Quem quer espalhar ódio vai encontrar outros que pensam da mesma forma, e quem precisa de apoio também vai encontrar.
Se você for denunciar os ataques, o primeiro passo é dar um belo printscreen.


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Outra dica importante é copiar a URL grandona – aquela que é uma identificação única do post – e salvar, copiar, imprimir.
Os ataques podem vir tanto de um estranho sem rosto, como de alguém que teve acesso a algumas das suas informações pessoais.


Instagram / Reprodução / Thaís Padilha
A publicitária Thaís Padilha discutiu com um “match” do Happn e logo depois começou a receber dezenas de mensagens de homens solicitando um programa com ela.
Thaís havia dado seu número para o “match”, mas eles nunca tinham se encontrado. “Resolvi perguntar a um deles onde havia visto meu número. Assim descobri que haviam criado um perfil falso de mim como garota de programa, divulgando meus dados.
Além disso, o cara descobriu o número do meu trabalho e tentou me ameaçar se fazendo passar por delegado, só que fez isso usando o próprio número de celular”, conta Thaís, que aí decidiu denunciar formalmente.
Ela primeiro procurou uma Delegacia da Mulher, levando um dossiê com prints de absolutamente tudo, desde as conversas de WhatsApp às mensagens ofensivas que recebeu no Inbox. “A delegada, que encaminhou o caso para a Delegacia de Crimes Virtuais, disse que ter todo esse material à mão facilita muito a investigação do caso”, diz ela.
É importante lembrar que mesmo uma opinião pessoal pode ser criminosa – não só quando incita o ódio ou a violência, mas quando viola a dignidade de todo um grupo de pessoas.


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É o que explica Priscila Schreiner, procuradora da República e membro do Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos.
O mesmo vale para quem acha que é ok postar agressões e mensagens ofensivas: se você não diria isso publicamente, por que acha que está tudo bem dizer na internet? "As consequências para quem é enquadrado podem ser graves. As pessoas não estão mais ficando caladas, elas estão denunciando cada vez mais", diz Priscila.
Lembre-se de que pode ser até mais fácil investigar um caso na internet do que na "vida real". Os criminosos não estão totalmente protegidos.


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"Depois que a pessoa noticia um crime de ódio, contra ela mesma ou contra um grupo de pessoas, ela chega aqui no Ministério Público e a gente já vai analisar sem necessidade de ordem judicial", explica a promotora.
Ela conta que o promotor pode arquivar o caso, se entender que não configura crime, ou dar continuidade no processo, pedindo para o juiz uma autorização judicial para que seja dado o acesso aos dados cadastrais da conta da qual saiu aquela ofensa. "E daí vem a denúncia por crime de ódio e vai a juízo, com interrogatório, perícia técnica e tudo mais", explica a promotora. "Os peritos são muito bons. Tudo deixa rastros na internet”, diz.