TV brasileira deve a Jô Soares o sucesso dos talk shows

Humorista, jornalista, diretor, músico e escritor popularizou formato ao estrear programa de entrevistas no SBT.

Jô Sores posa no cenário do programa que comandava no SBT
Jô Sores posa no cenário do programa que comandava no SBT

Reprodução / Internet

Jô Soares posa no estúdio do "Jô Soares 11 e Meia", do SBT: um dos mais queridos apresentadores do país, ele fez os programas de entrevistas caírem no gosto do público brasileiro.

No dia 17 de agosto de 1988, o SBT levou ao ar a primeira edição do "Jô Soares 11h30". Hoje, não é exagero dizer que a data representa um divisor de águas na história da televisão brasileira. Há décadas acostumado a ver Jô em humorísticos, o público conheceu uma faceta diferente do Gordo - assim mesmo, com G maiúsculo - e logo o país inteiro passou a não ir mais pra cama sem ele.


O sucesso, é preciso que se diga, é mérito da insistência de Jô, que há tempos queria lançar um talk show no Brasil. Na Globo, onde àquela altura já era estrela, não conseguiu. Silvio Santos criou as condições para a estreia do formato ao tirar o artista da emissora carioca e abriu caminhos para fazer Jô e os telespectadores mais felizes no fim de noite.


Não demorou para que o "Jô Onze e Meia" virasse um hit. Numa época em que "viralizar" não era uma meta - sequer uma expressão conhecida - as entrevistas concedidas ao programa pautavam as conversas no dia seguinte. Fazendo galhofa ou falando sério, recebendo famosos ou anônimos, Jô ditava o assunto do dia seguinte. Aliás, era um caso raro em que a qualidade do programa nem sempre estava atrelada à notoriedade dos convidados: havia ali, do outro lado do sofá, um entrevistador que, por diversas vezes, brilhava muito mais que os entrevistados.


Jô brilhou ao exibir sua insatisfação com os escândalos do governo Collor e sempre ergueu a voz contra abusos, ciente de que as liberdades consagradas pela Constituição de 1988 deveria ser - como ainda são - objeto de luta permanente.


De volta à Globo, merecidamente consagrado como maior entrevistador da televisão brasileira, brilhou em entrevistas icônicas, como no programa em que recebeu Nair Bello, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues. No auge de escândalos políticos, fez do "Programa do Jô" uma espécie de observatório da vida pública brasileira, com as "Meninas do Jô", e reabilitou o debate político na TV aberta. Com humor, análise, crítica e informação. Mais um golaço de um comunicador que nunca se furtou a dar suas opiniões, como, a despeito de toda a opinião pública, fez questão de se declarar contra o impeachment de Dilma Rousseff e, mais que isso, de ir até o Palácio da Alvorada para entrevistá-la, em abril de 2016.


Em dezembro daquele ano, o "Programa do Jô" chegou ao fim, depois de 16 anos e mais de 14 mil e quatrocentas entrevistas realizadas. Jô se afastou da televisão e vários talk shows brigaram para ocupar o lugar deixado pelo Gordo mais amado do Brasil na TV. Ninguém conseguiu, mas o gênero já estava espalhado pelas emissoras de TV e pela inernet. Mérito dele, que fez a audiência se apaixonar pelo hábito de ver uma boa conversa no fim de noite.


Hoje, com a partida desse gênio, é impossível não reconhecer a influência de Jô nos talk shows que vemos na televisão - e até nos podcasts que se multiplicam na web. Todos parecem buscar a mistura perfeita de entretenimento e informação que ele sabia servir tão bem. Até aqui, cabe dizer que ninguém chegou perto de conseguir repetir a receita. Falta o ingrediente principal, o mais nobre, raro e exclusivo: José Eugênio Soares, o Jô.


Vá em paz, Jô. Nossos fins de noite nunca mais foram os mesmos sem você...




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