"Cara e Coragem" é comandada por mulheres, tem núcleo preto poderoso e perrengues de dublês

"Não acontece todo dia a autoria e a direção de uma novela serem de mulheres. Quando entrei, durante muito tempo fui a única redatora. Mas cresci assistindo Janete Clair, é um trabalho de formiguinha mudar essas estruturas", diz Claudia Souto, que trabalha em parceria com a diretora Natalia Grimberg. 

A encarregada de comandar as gravações diz ter assistido a muitos filmes de Tarantino, e a franquia "Missão Impossível", para se inspirar nas cenas de ação. "Queremos sustos e emoção. E o desafio é mostrar os dublês, que sempre escondemos. Espero que a novela emocione, porque ação sem emoção não é nada", resume. "Tinha tudo para ser uma novela masculina, mas tem um olhar que vai além, de afeto, humor."

A matriarca da família, que tem uma siderúrgica, é Martha Gusmão, interpretada por Claudia Di Moura. "Nesse núcleo preto poderoso, ela é rica de nascença, e isso parece inverossímil porque o audiovisual cristalizou o preto em um lugar de pobreza, e essa personagem não conhece isso. Fiz cenas no jatinho particular dela, foi bem difícil", diz a atriz. "A família Gusmão é um aperitivo do que nos foi negado. É a encarnação de uma justiça social que estávamos esperando. Estamos vivendo um novo tempo. Martha não está a serviço de ninguém. É uma mulher livre, que sai para tomar um vinho, namora. É uma família que vive sem aflição e sem culpa, e esse é o sonho de todos nós. É um caso raro de protagonismo, e eles dormem o sono dos justos porque sua fortuna não vem da escravidão".

O ex-BBB, que é sírio e naturalizado brasileiro, estreou como ator em "Órfãos da Terra" e diz ter interpretado "bandidos, terroristas e traficantes" desde então, mas revela que o novo personagem é bem diferente dos anteriores. "Agora faço um idiota sem talento, que não sabe fazer nada", e se diverte ao contar que fez muitos testes para conseguir o papel do dublê Kaká, tremeu quando contracenou com Paolla Oliveira pela primeira vez, e ficou "umas duas horas deprimido" por ter que tirar a barba para a caracterização do personagem. "Ele se joga nas cenas", Paolla o elogia, e ele diz, sobre as cenas, "ter coragem de ir com medo mesmo. Eu vou e a coragem me encontra no caminho". 

"Não somos mais um casal. Faço a ex-mulher dele, então temos novos sentimentos, novas camadas", esclarece Mariana, que interpreta Rebeca. Sobre a torcida do público para vê-los juntos outra vez, ela mantém as esperanças: "A gente vai desenhando e construindo a história junto com quem assiste". Claudia, a autora, faz mistério: ''É como se fosse uma continuação da história deles, porque as coisas não se apagam na cabeça do público. É um easter egg". 

A atriz vai interpretar Regina,uma mulher manipuladora e ambiciosa, parça de Leonardo (Ícaro Silva). Revelada na Globo em 2001, quando estrelou "Presença de Anita", Mel estava longe da emissora desde 2007, quando fez "Sete Pecados". Nos anos seguintes trabalhou na Record, fez cinema e séries como "Coisa Mais Linda", da Netflix.