Tudo que sabemos até agora sobre o caso do estupro coletivo no Rio

* Separamos o que é fato e o que é boato no caso que chocou o país. * Justiça decreta prisão de 6 suspeitos. Dois deles negaram o estupro. * Investigação teve reviravolta com queda de delegado. * Ao "Fantástico", adolescente diz que deseja que estupradores tenham "filha mulher"

Atualização: 30 de maio de 2016; 14h34.

No final de semana, o caso da adolescente de 16 anos, vítima de estupro coletivo no Rio, teve algumas reviravoltas. A primeira: o delegado Alessandro Thiers foi afastado do caso. A advogada Eloísa Samy pediu o afastamento dele porque considerar que ele estigmatizou a vítima.

“Havia três homens no ambiente e o delegado, ainda por cima, fez a pergunta se ela tinha hábito de fazer sexo em grupo”, afirmou Eloísa Samy, que peticionou para o afastamento do delegado.

A própria advogada da vítima comemorou o afastamento no Facebook ainda na noite de sábado:

      

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As investigações passaram a ser conduzidas pela delegada Cristiana Bento, da delegacia especializada em crimes contra criança e adolescente.

A advogada Eloísa Samy também deixou o caso praticamente junto com o delegado que denunciara. A família desligou-a do caso e a adolescente ingressou em um programa de proteção.

A adolescente deu uma entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, no domingo. Indagada sobre o que deseja para seus estupradores, ela deu uma resposta curta: “Sinceramente? Uma filha mulher”.

TV Globo/Reprodução

A adolescente voltou a contar a história do estupro em entrevista ao "Fantástico".

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Clique aqui para ver o vídeo.

O jornal "Extra" teve acesso a mensagens de WhatsApp do delegado Thiers. Ele vê "fortes indícios" de que a versão do estupro coletivo seja falsa: "Ela teve relação consentida com uma pessoa e não usou drogas ou álcool nesse dia".

Jornal "Extra"

Texto do WhatsApp do delegado Thiers reproduzido pelo jornal "Extra".

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Leia a reportagem do "Extra" aqui.

A substituta de Thiers, delegada Cristiana Bento, disse nesta segunda que "não há dúvidas" de que o estupro aconteceu mesmo. A prova, segundo ela, é o vídeo que mostra a moça sendo tocada quando estava inconsciente. Cristiana pediu a prisão de 6 pessoas. Um suspeito já foi preso.


Tomaz Silva/Agência Brasil / Via Fotos Públicas

A titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima, Cristina Bento, disse que não tem dúvidas de que o estupro aconteceu.

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Segundo ela, a investigação deverá mostrar agora quantos foram efetivamente os participantes do estupro. "Se foram 5, 10 ou 30", disse em entrevista coletiva nesta segunda (30). Leia mais aqui.

O resultado do laudo clínico não constatou a violência sexual. Mas isso não quer dizer necessariamente que ela não tenha sido vítima de violência. Para a delegada, a prova do estupro é o vídeo, não o laudo.

Quanto maior o intervalo entre o fato e o laudo, menor é a eficácia do exame. O laudo da perícia do exame de corpo e delito realizado na adolescente aponta que não foram encontrados indícios de violência. A informação foi divulgada no programa "Bom Dia Rio", da TV Globo, nesta segunda (30).

Na manhã desta segunda, a polícia do Rio deflagrou uma operação para tentar capturar 6 suspeitos do estupro coletivo. Dois que já depuseram negam que tenham atacado sexualmente a vítima. Um deles afirma que teve sexo consensual da vítima, admite ser dono do celular que fez as imagens do estupro coletivo, mas negou ser ter distribuído imagens.

Polícia Civil do Rio/Divulgação

Os procurados, a partir da fileira superios, da esquerda para a direita: Sérgio Luiz da Silva Junior, Marcelo Miranda da Cruz Correa, Raphael Assis Duarte Belo, Michel Brasil da Silva, Lucas Perdomo Duarte Santos e Raí de Souza.

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A partir do canto superior esquerdo: Sérgio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa, é apontado como o chefe do tráfico no Morro da Barão, na Praça Seca.

Os outros são Marcelo Miranda da Cruz Correa, Raphael Assis Duarte Belo e Michel Brasil da Silva, cujas suspeitas ainda não foram esclarecidas pela polícia.

Abaixo, a foto do meio é do jogador de futebol Lucas Perdomo Duarte Santos, que teve um relacionamento com a adolescente.

O último à direita, no canto inferior, é Raí de Souza, dono do celular que fez o vídeo que foi distribuído nas redes sociais.

Lucas negou ser namorado da vítima. Tanto ele quanto Raí contaram que saíram de um baile funk na madrugada de sábado e foram com a adolescente e uma amiga, de 18 anos, para uma casa abandonada da comunidade.

Lá, segundo os dois, Lucas fez sexo com a amiga, e Raí com a vítima. Na versão dos dois, tudo foi consensual e ninguém teria consumido drogas. A versão contraria a da vítima, que diz ter sido presa e abusada por 33 pessoas.

Segundo o advogado de Raí disse ao jornal "Extra", o celular que fez as imagens era dele, mas não foi ele que distribuiu as imagens.

Delegada que assumiu o caso disse que não tem dúvidas de que o estupro aconteceu mesmo. Um suspeito já foi preso.

O que já publicamos sobre este caso:

O caso do estupro coletivo da adolescente de 16 anos no Rio chocou o país. Ela saiu de casa para encontrar o namorado. E contou ter acordado numa casa que não conhecia dois dias depois. O vídeo começou a circular na última terça (24).

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Em entrevista a "O Globo", ela contou que, ao acordar, estava nua e cercada por um monte de gente. Enquanto tentava sair, homens que a xingavam de piranha e de safada. "Me senti um lixo", disse ela.

Reprodução O Globo

Em entrevista ao jornal "O Globo", a adolescente disse que acordou em uma casa estranha com vários homens: "me senti um lixo".

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Clique aqui para assistir o vídeo da adolescente em entrevista a "O Globo".

A avó da menina contou que ela apareceu apenas na terça-feira em casa da mãe, usando roupas de homem rasgadas. Segundo a avó, algumas horas depois, ela voltou ao local do estupro dizendo que ia recuperar o celular que fora roubado.

Reprodução TV Record.

Na terça, a adolescente chegou na casa dos pais com as roupas rasgadas e, à tarde, ela voltou para o local onde teria ocorrido a agressão.

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Segundo a avó, a adolescente disse que iria pegar de volta o telefone celular que fora roubado pelos agressores. Ela saiu de casa na tarde de terça. Veja o vídeo da entrevista da avó.

A adolescente reapareceu em casa na noite de terça, acompanhada de alguém que disse que a teria resgatado.

No Facebook, a adolescente se manifestou sobre o caso: "não doi o útero e sim a alma".

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A família havia sido instruída por ativistas de direitos humanos (depois que o vídeo estava circulando) a acionar a polícia.

A advogada Eloisa Samy ajudou na localização da adolescente vai acompanhar o caso ao lado da família da garota.

Eloísa foi chamada por um grupo feminista depois que o vídeo foi divulgado, com cenas da garota sangrando.

A advogada disse ao BuzzFeed Brasil que a jovem mora em Jacarepaguá, próximo ao Morro do Barão, onde fica a Praça Seca, onde teria ocorrido o crime, na zona oeste do Rio.

Os relatos da jovem ainda são bastante confusos e ela deve prestar novo depoimento. Nesta sexta-feira (27), a menina recebeu tratamento psicológico. Sua família relatou que ela teve febre e dores.

Em entrevista ao jornal “Extra”, Eloisa disse que só agora é que “caiu a ficha” do que aconteceu. A garota, que foi violentada inconsciente, só teria sabido do crime quando viu o vídeo.

Os primeiros suspeitos, o jogador de futebol Lucas Perdomo, que teria tido um relacionamento com a vítima, e Raí de Souza, dono do celular, apresentaram-se na sexta espontaneamente para depor. Eles negaram o estupro. O advogado do dono do celular disse que citação a 30 no vídeo é referência a letra de funk.

Reprodução/ Extra

Lucas Perdomo, jogador do Boavista, aparece de boné no canto da foto.

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Ele se apresentou nesta sexta. Teor do depoimento está em sigilo.

A carreira de Lucas no futebol começou após ele ser descoberto pelo holandês Seedorf.

Lucas negou ser namorado da vítima. Tanto ele quanto Raí contaram que saíram de um baile funk na madrugada de sábado e foram com a adolescente e uma amiga, de 18 anos, para uma casa abandonada da comunidade.

Lá, segundo os dois, Lucas fez sexo com a amiga, e Raí com a vítima. Na versão dos dois, tudo foi consensual e ninguém teria consumido drogas. A versão contraria a da vítima, que diz ter sido presa e abusada por 33 pessoas.

Segundo o advogado de Raí disse ao jornal "Extra", o celular que fez as imagens era dele, mas não foi ele que distribuiu as imagens.

A Polícia Civil do Rio ainda não sabe quantas pessoas efetivamente são suspeitas do ataque contra a adolescente. Na coletiva de sexta, delegados disseram que "há indícios veementes", mas que só exames atestarão se houve estupro. Além de conjunção carnal, a lei também considera como estupro a "prática de atos libidinosos".


Tomaz Silva/Agência Brasil / Via Fotos Públicas

Delegado Alessandro Thiers (Crimes Digitais), o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, e delegada Cristina Bento (Criança e Adolescente Ví­tima)

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Em entrevista coletiva nesta sexta (27), o chefe da Polícia Civil do Rio, Fernando Veloso, e os dois delegados que investigam o caso falaram sobre o caso do estupro coletivo de uma adolescente de 16. As imagens foram distribuídas por redes sociais e chocaram o país.

No primeiro depoimento à polícia, ela citou que seriam 33. O delegado Alessandro Thiers, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, disse que surgiram informações que o número de suspeitos poderia ser entre 30 e 36.

"Não podemos nos basear em 'ouvi dizer'. O exame de corpo de delito vai apontar se houve estupro ou não. O laudo pode trazer uma certeza ou uma dúvida", disse Veloso.

Na sexta, a polícia diz que não pediu prisão para não atrapalhar a investigação.

Tomaz Silva/Agência Brasil / Via Fotos Públicas

O delegado Alessandro Thiers disse que prisões ainda não haviam sido pedidas porque poderia prejudicar andamento da investigação.

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O delegado Alessandro Thiers disse que há o clamor público pela prisão, mas que isso poderia comprometer a investigação neste momento. A prioridade é a identificação dos demais suspeitos.

O chefe de polícia, Fernando Veloso, disse que advogados dos suspeitos já procuraram a polícia, mas nenhum deles foi ouvido até agora.

Nesta sexta, a polícia concentrava as buscas para identificar o local onde o vídeo foi gravado. A busca concentra-se no Morro do Barão, zona oeste do Rio.

A polícia disse não ter certeza do local exato do local onde teria começado o ataque, se é o mesmo em que foram captadas as imagens. No seu depoimento, a vítima afirmou que foi encontrar o namorado e acordou no dia seguinte em uma casa que não conhecia.

Outro boato falso que circulou foi que suspeitos do estupro teriam sido mortos por traficantes. Esta informação não foi confirmada pela polícia.

"Há muita informação errada sendo passada pela internet", disse o delegado Alessandro Thiers.

Este post será atualizado quando tivermos novas informações.

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