Três terapeutas explicam como a terapia funciona

E respondem a dúvidas como: "mas o que ele(a) está escrevendo neste bloquinho?".

Recentemente, perguntamos às pessoas do BuzzFeed Community o que elas gostariam de saber sobre a terapia.

Então, organizamos as dúvidas em perguntas-chaves e as levamos a três profissionais de saúde mental para obter respostas. Conversamos com:

Ryan Howes, PhD, psicólogo clínico e professor na Faculdade de Psicologia Fuller, nos EUA.

Loren Soeiro, PhD, psicólogo clínico nos EUA.

• Barbara Nosal, diretora clínica na Newport Academy e em centros de tratamento para adolescentes que lutam com problemas de saúde mental, transtornos alimentares e abuso de substâncias.

No entanto, tenha em mente que, ainda que as informações abaixo venham de terapeutas com vasta experiência, elas não podem falar por todos os terapeutas.

1. A terapia é como nos filmes?

Miramax FIlms / Via turkeyglue.tumblr.com, Miramax FIlms / Via turkeyglue.tumblr.com

"Não é sua culpa."

Soeiro: "Hum... Você quer dizer se os terapeutas são gênios, bobões de suéter ou mestres na manipulação? Não. Se são só duas pessoas conversando em particular em um ambiente confortável, silencioso e confidencial? Sim."

Howes: "Há pouquíssimos filmes que retratam os terapeutas de forma correta, sendo um deles 'Gente como a Gente'. Em sua maioria, filmes e programas de TV estão lá pelo entretenimento. O terapeuta muitas vezes é mostrado como um pateta ou um sádico, ou até mesmo como um objeto de amor e desejo, o que dá uma excelente história, mas não reflete a realidade. A terapia é bem menos dramática e maluca do que você vê na tela."

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2. O que o(a) terapeuta está escrevendo sobre mim?! Sempre quis saber o que ele(a) está escondendo!

Lionsgate / Via giphy.com


Howes:
“Devo dizer que nem todos os terapeutas fazem anotações durante a sessão. Eu nunca fiz, e nunca farei, porque não quero essa pergunta na mente dos meus clientes e não quero que isso interfira no que estamos fazendo. Mas, se o terapeuta faz algumas anotações, ele está escrevendo pequenos detalhes da sessão que o ajudará a escrever suas notas de caso após a sessão.

Soeiro:Eu faço anotações para lembrar o que foi dito na sessão e, às vezes, anoto ideias que me ajudam a formular o caso. Essas ideias podem ser algo do tipo: 'Sente-se distante de amigos e colegas, mas a ansiedade o impede de tomar a iniciativa de se aproximar', ou 'Traços de personalidade obsessivo-compulsiva vs. TOC?’ Em geral, sempre explico o que estou pensando ao paciente.

3. Como é uma típica primeira sessão?

STARZ / Via giphy.com

Soeiro: “Todos os terapeutas são diferentes uns dos outros, e isso também se aplica às primeiras sessões. Às vezes, o terapeuta faz perguntas; às vezes, você preenche um formulário. Às vezes, você pode simplesmente começar a falar o que estiver em sua mente. E às vezes haverá uma estrutura e um plano definidos para a sessão. Depende de que tipo de terapeuta você está falando. Os terapeutas psicodinâmicos (ou psicanalíticos) são mais propensos a conversar de maneira aberta ou a simplesmente ouvi-lo; os terapeutas cognitivo-comportamentais muitas vezes regulam de perto a sessão.”

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4. O que um terapeuta pode fazer em relação à ansiedade? Como ele poderia me livrar do meu medo das pessoas?

Anna Borges / Via buzzfeed.com

"Vezes em que você quer ser sociável x Vezes em que sua ansiedade te dá tempo suficiente para ser sociável."

Howes: “Há algumas coisas. A terapia funciona como um tipo de laboratório. Se você tem ansiedade no consultório, ou tem uma ansiedade social, bem, a relação com o terapeuta é uma relação social. Talvez você comece a lidar com ela lá mesmo — como é estar aqui neste lugar comigo? Talvez possamos fazer algum tipo de relaxamento e descobrir as raízes dessa ansiedade, e então começamos a tirar isso do consutório e dizemos: 'aos poucos, vamos mudar para outros círculos sociais e novos ambientes — vá à cafeteria e veja como você interage com as pessoas lá, aqui estão algumas ferramentas para ajudá-lo a se sentir calmo e relaxado enquanto você interage com pessoas novas’, e então vai simplesmente se expandindo a partir daí."

5. Como os terapeutas lidam com todas as informações pesadas que ouvem dia após dia?

ABC / Via gfycat.com

"Estou bem. Estou ótima. Estou horrível. Estou devastada... Mas tudo bem."

Howes: “Nós lidamos com isso de algumas maneiras. Primeiro, grande parte do nosso treinamento profissional é para aprender a lidar com problemas. A segunda coisa é que a maioria de nós usa (ou já usou) nossa própria terapia para aprender a lidar com o estresse, ter bons limites e separar o trabalho da vida pessoal. Em terceiro lugar, muitos de nós já frequentaram grupos de consulta ou têm pessoas que podemos consultar. Se eu tenho um dia difícil, ou um caso difícil, eu tenho a quem recorrer para saber como lidar com determinado problema (sem comprometer a confidencialidade). Nós meio que formamos laços e nos ajudamos uns aos outros."

Soeiro: “Não posso falar por outros terapeutas, mas, quanto a mim, não me sinto sobrecarregado. Me sinto privilegiado pelas pessoas confiarem seus segredos e sentimentos a mim. Isso faz com que eu queira ajudar as pessoas e me incentiva a viver à altura da minha responsabilidade, o que eu tento fazer por trabalhar mais duro — ouvindo melhor e suprindo melhor o que meus pacientes precisam de mim e da terapia."

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6. Quanto tempo eu preciso fazer terapia?

Daniela Sherer / Via giphy.com

Soeiro:A terapia pode durar o tempo que você e seu terapeuta acharem necessário. Às vezes, isso significa apenas um curto período de quatro ou seis sessões. Às vezes, a terapia leva anos.”

7. Eu preciso falar o tempo todo? E se eu só quiser chorar?

AMC

Howes:Normalmente, não, a pessoa não precisa falar o tempo todo. Isso é algo que você trabalha com seu terapeuta. Se você quer chorar o tempo todo, isso é algo que você pode falar com seu terapeuta, talvez dizendo: 'sinto que eu preciso de um lugar seguro para ficar triste'.

Soeiro: "Quando você faz terapia, não precisa falar o tempo todo. Você não precisa falar nada, se não estiver preparado para isso. É tudo no seu tempo. E, sim, se você precisar, pode simplesmente chorar ou colocar algo para fora."

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8. Alguém sem uma doença mental ainda pode se beneficiar com a terapia?

"O quanto eu estou próximo de perder as estribeiras."

Howes: “Claro que sim. A cada dia temos mais certeza de que não é preciso ter uma doença mental ou um diagnóstico para fazer terapia. Alguém que vem até mim porque não tem certeza do que quer ser quando crescer — isso não é uma doença mental. Essa pessoa só está tentando encontrar um rumo na vida. Ou alguém que vem até mim porque perdeu recentemente um ente querido — o sofrimento não é uma doença mental. Então, sim, as pessoas fazem isso o tempo todo. Mesmo que tenham acontecido coisas ruins com elas no passado, e elas estejam tentando descobrir o impacto disso, isso não significa necessariamente que tenham estresse pós-traumático ou doença mental; elas só querem descobrir 'quem eu sou, como eu sou?’”

Soeiro: “Sim. A terapia pode ajudar as pessoas a se entenderem melhor, a relacionarem o passado com o presente, a tomarem decisões importantes ou a enfrentarem momentos difíceis.

9. Como a pessoa pode saber se deve começar a se consultar com um terapeuta? Existem sinais claros que indiquem que seria uma boa ideia fazer terapia?

"Existe uma fina linha entre 'eu deveria fazer uma atualização no meu status sobre isso' e 'eu deveria falar com um terapeuta sobre isso'."

Soeiro: “Essa é uma pergunta difícil. Em alguns casos, eu diria que, se você se pega fazendo a mesma coisa toda hora e se frustra por não conseguir mudar, então talvez possa se beneficiar de alguma ajuda. Eu também recomendaria a terapia para pessoas que se sentem isoladas ou que têm uma sensação de confusão interna.

Não existe regra. Se você sente uma espécie de pressão emocional interna que não vai embora e não se sente melhor depois de conversar com seus amigos ou ao cuidar de si mesmo (exercícios, sono, boa alimentação), você pode se beneficiar de consultar um terapeuta."

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10. Como terapeuta, o que você faz para não julgar seus pacientes?

@shitstorm_allie / Via instagram.com

"Bem, isso não funcionou."

Soeiro: “Meu trabalho é expressar empatia pelas pessoas que escolhem conversar comigo. Por sorte, também faz parte da minha constituição. Quando alguém confia seus sentimentos a mim, não tenho dificuldade para sentir empatia; é quase automático. Não preciso me esforçar muito para evitar julgar porque normalmente não é assim que eu penso.”

11. Como saber se um terapeuta é ideal para você?

Fox / Via giphy.com

"Você me entende."

Howes:Um terapeuta é ideal para você se você sentir que conseguirá se abrir e ficar à vontade para compartilhar as coisas mais profundas de sua vida — ou que conseguirá fazer isso com o tempo. Se houver alguma coisa no terapeuta que faz você ficar com o pé atrás, ele talvez não seja ideal para você. Se você fica com o pé atrás com qualquer pessoa, leve isso em consideração. Mas você não quer ficar na defensiva com essa pessoa mais do que com outras pessoas.”

Soeiro:Você deve prestar atenção nos seus sentimentos quando estiver com seu terapeuta. Se você não se sente à vontade, ou se sente julgado, talvez precise encontrar outra pessoa. É claro que geralmente é uma boa ideia mencionar esses sentimentos ao seu terapeuta. Discutir a experiência 'aqui e agora' no consultório pode fornecer informações valiosas sobre a relação entre terapeuta e paciente. Pelo menos, seu terapeuta poderá lhe dizer como ele está reagindo a você, o que talvez elimine seus medos. E falar sobre sentimentos de desconforto também pode ajudar seu terapeuta a se sair melhor em lhe transmitir segurança.”

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12. O terapeuta geralmente fornece perguntas prontas, ou eu preciso saber o que eu quero falar durante a sessão?

Chris Ritter / Via buzzfeed.com

"No que você quer trabalhar?"

Howes: “Eu costumo saber se alguém tem algo sobre o qual quer falar, mas muitas vezes o terapeuta fornece perguntas prontas. Minha pergunta pronta favorita é: ‘O que você notou em você nesta semana?’ Pode ser algo em que a pessoa pode pensar na sala de espera.”

Soeiro: “É difícil dizer, porque cada terapeuta é diferente. Alguns terapeutas (como aqueles que praticam terapia cognitivo-comportamental) preferem examinar seu 'dever de casa' terapêutico, já outros podem trazer à tona uma observação que você fez na última sessão para explorá-la melhor. Se você tiver um assunto que gostaria de discutir, com certeza deverá mencioná-lo no início da sessão. E, se estiver iniciando a terapia, explicar por que você está ali ajuda o terapeuta. De qualquer forma, a maioria dos terapeutas vai lhe perguntar sobre isso.”

13. O que a terapia pode fazer por mim que eu não consiga conversando com amigos e parentes?

Anna Borges / Siphotography / Getty Images

"se anime
um monte de gente está pior
já tentou se exercitar?
vai melhorar"

Soeiro: “É muito importante contar com o apoio de amigos e parentes em momentos assim; dizer isso nunca é o bastante. No entanto, a psicoterapia não é como conversar com amigos. Você nunca vai sobrecarregar seu terapeuta, e seu terapeuta não vai mudar de assunto, ficar sem tempo ou, de repente, começar a falar sobre ele quando você precisar de algo. Você não terá que se preocupar que possa afastar seu terapeuta dizendo o quanto está magoado. Você também pode ver seu terapeuta regularmente — com bastante frequência, até mais do que vê seus amigos. Para problemas como o sofrimento traumático, em que poderosos sentimentos de perda continuam voltando, um psicoterapeuta na verdade pode ser uma pessoa melhor para conversar do que um amigo.”

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14. Como saber se um terapeuta realmente se importa com você?

"Meu terapeuta disse que estava tudo bem: uma história de vida"

Soeiro: "Você pode ou não conseguir sentir que seu terapeuta se importa com você pessoalmente. Mesmo que não tenha certeza sobre isso, você deve ter a sensação de que ele ou ela pode sentir o que você sente e entende como é ser você. Se você não tiver essa sensação de aceitação, talvez queira falar disso com seu terapeuta."

15. Existe uma recuperação total para transtornos alimentares? Sinto que, toda vez que eu faço progresso, tenho uma recaída. E nunca consigo imaginar a vida sem isso.

@girlgotmail / Via instagram.com

"Você vai conseguir superar isso!"

Nosal: "Sim, é possível ter uma recuperação completa de um transtorno alimentar. Existem várias abordagens para tratar transtornos alimentares. Talvez você só não tenha encontrado o método correto ou um terapeuta que possa ajudá-lo(a) a enfrentar as causas que estão levando a esse comportamento. Se você abordar apenas os comportamentos de um transtorno alimentar, sem examinar os problemas principais subjacentes e os traumas relacionados, você estará lidando com os sintomas, não com a causa, e continuará a ter recaídas.

Com os transtornos alimentares, assim como com toda recuperação, não é incomum dar vários passos para a frente e depois dar um passo para trás. Pode parecer impossível no momento se imaginar sem o transtorno alimentar. Eu prometo que, com esforço e o apoio de profissionais, você vai conseguir encontrar o caminho de volta para uma versão mais feliz, saudável e completa de você mesmo(a)."

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16. Se eu der uma de louco (puxar os cabelos, bater a cabeça na parede e andar pra lá e pra cá) na frente do terapeuta, eu posso acabar internado involuntariamente?

@darcyhamilton7 / Via instagram.com

"Seus sentimentos são válidos."

Soeiro: "Apenas se você apresentar um perigo real para você mesmo (ou para outros) nesse momento específico. Se você bater sua cabeça na minha frente, vou querer que você pare o mais rápido possível e receba atendimento adequado — mas eu não necessariamente vou ligar para a emergência."

Nosal: "A principal preocupação de seu terapeuta é com a sua segurança. Se os sintomas que você mencionou continuarem, eles poderão exigir contenção e estabilização. Dependendo da gravidade dos sintomas e de seu estado emocional, seu terapeuta talvez determine que você é uma ameaça para você ou para outros e peça que você vá ao hospital para ser avaliado por um psiquiatra. Se você se recusar a ir ao hospital, o terapeuta, ou a polícia local, nos EUA, podem colocar você no que se chama de 'retenção involuntária' para levá-lo ao hospital local. Isso não quer dizer que você será 'jogado em um hospital'; no entanto, se o psiquiatra que atendê-lo achar que você está em risco, ele poderá interná-lo para observação e estabilização por até 72 horas. Após esse período, se você continuar em risco com base em suas avaliações, eles poderão prolongar sua internação. Por outro lado, se você estiver melhor, o psiquiatra talvez conclua que não é necessário mantê-lo internado."

17. Tá bom, mas a terapia realmente vai ajudar?

HBO / Via giphy.com

Howes: "Sim, bastante! As pesquisas mostram que a terapia é eficaz para a maioria das pessoas. Depende do que você está tratando e de seu grau de envolvimento. O quanto ajudará está relacionado a muitas coisas: você recebe proporcionalmente ao esforço que faz, e a adaptação entre você e o terapeuta também é importante.”


Soeiro:
“As pesquisas dizem que a terapia geralmente ajuda e que não importa a modalidade que você escolhe. O fator mais importante é a relação com seu terapeuta, então é muito importante encontrar alguém em quem você possa confiar e contar tudo, que faça você se sentir seguro o suficiente para melhorar.

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As respostas enviadas foram editadas por questões de espaço e clareza. Este post foi traduzido do inglês.

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