Travesti não é uma manifestação artística, mas, sim, uma identidade que deve ser respeitada, Fátima!

O 'Encontro com Fátima Bernardes' compartilhou falas equivocadas sobre a vivência trans.

Após o Mês do Orgulho LGBTQIA+ e muitas manifestações de apoio à causa, o programa “Encontro com Fátima Bernardes” apresentou na manhã desta quinta-feira (01/07), um quadro com a participação do Dr. Jairo Bouer para tirar dúvidas sobre o tema.

Reprodução - Globo

Foi durante essa apresentação que algumas pessoas da plateia virtual participaram também do programa, compartilhando com os telespectadores as suas vivências e dificuldades enfrentadas para assumirem sua identidade de gênero ou sexualidade.

Porém, em meio a este momento tão precioso de troca de conhecimentos, o que mais causou revolta em muitos foi o equívoco do médico psiquiatra e especialista em sexualidade, Jairo, ao responder ao vivo qual a diferença entre uma pessoa trans e uma travesti. 

O médico afirmou que transexual é aquela pessoa que não se identifica com seu sexo biológico, definido em seu nascimento. Enquanto travesti são aquelas pessoas que adotam hábitos do sexo oposto: “A travesti é uma pessoa que busca adotar hábitos sociais, roupas, comportamento do sexo oposto, mas não necessariamente se sente aprisionada em um corpo ao qual não se identificar”.

A partir então dessa explicação do Dr Jairo, a apresentadora Fátima o questionou se travesti era também uma manifestação artística e o mesmo respondeu: “Pode ser uma manifestação artística, pode ser um desejo da pessoa naquele momento estar vestida ou estar se sentindo daquele jeito, mas não tem a necessidade de mudar o seu corpo”.

Diante o despreparo do médico ao resumir a identidade travesti a arte, mero desejo de se vestir ou estar, se faz necessário refletirmos o quanto essa desinformação acerca de vivências trans colaboram para a estigmatização dos nossos corpos. 

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Reduzir uma identidade de gênero latino americana e ancestral a uma manifestação artística é ignorar toda atuação da população trans, toda produção intelectual de travestis acerca de suas existências.

Por isso é importante pontuarmos a partir desse grande erro na TV ABERTA, uma tentativa de diálogo, correção e reflexão: Já pensou que esse problema certamente poderia ser evitado caso uma travesti pudesse dizer o que é ser uma travesti?

É cansativo pensar que em pleno 2021 precisamos ainda explicar que não somos Drag Queen, pois assumimos essa identidade durante 24 horas do nosso dia em meio ao país que mais nos assassina no mundo inteiro, mas sabendo do desconhecimento de muitos construímos então narrativas em busca do nosso respeito. Para além de ter de assistir falas vazias pela manhã, nós queremos ser ouvidas, afinal nós possuímos intelecto e propriedade para definir o que é a travestilidade. E certamente sabemos que a definição correta para travesti parte do SER e não do ESTAR. 

Fica a dica:

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