Todo mundo deveria ter um diário

Meus diários da adolescência, sobre chegar em casa de madrugada e a primeira vez que beijei uma garota.

Eu sempre fui uma pessoa um tanto que acumuladora e que junta algumas coisas que pra muitos é lixo. Não daquele tipo que a gente assiste nos programas do Discovey ou no TikTok da Ellen Milgrau, mas desde a adolescência eu coleciono uma caixa de objetos que me acionam memórias às vezes boas, as vezes nem tanto. E no momento em que escrevo esse texto, faz mais ou menos umas 3 horas que eu abri essa caixa e vou te contar algumas coisas que encontrei ali.

Tá, uma pausa aqui. Nessa caixinha você pode achar pulseiras de shows que eu nem lembro mais de quem era, umas tampas de cerveja que no momento em que eu guardei faziam sentido, o colar de um boyzinho que eu pegava que fiquei com dó de jogar fora, uns tickets de cinema apagado que hoje é só um papel branco e é claro... o meu diário

Eu imagino que nem todo mundo que está ou que passou pela adolescência escreveu um diário, até porque aparentemente é algo meio obsoleto. Mas por algum motivo, eu escrevi um durante todos os dias do ano de 2012 quando estava no segundo ano do ensino médio e aqui vão algumas pérolas e problemas.

2012 foi o melhor ano do pop e isso é inegável. Eu como uma boa gayzinha recheei meu diário com trechos de Lady Gaga, Nicki Minaj e algumas frases de Charles Chaplin (???????) não sei por qual motivo, mas acredito que foi na semana que eu estava vendo Tempos Modernos na escola. Todo mundo que passou pelo Ensino Médio viu esse filme.

No dia 1 de Janeiro eu escrevi: “Comecei o ano de forma deslumbrante. Cheguei em casa tarde, beijei uma garota e não foi bom”. Desculpa te decepcionar, Katy Perry.

Nada de muito interessante acontecia, mas a forma que escrevia parecia que eu tinha acabado de sair de um episódio descartado de Glee. Logo no começo do ano, estava no dilema de como contar sobre minha sexualidade para meus amigos, e meu maior medo era perder alguns deles – o que de fato aconteceu. E aqui quero confessar que não li tudo que escrevi nessa semana pois não era a melhor das sensações de se reviver.

Entre narrações de como foi um show do Detonautas, das aulas de um professor GATO que eu tinha crush (e acho que ainda tenho), encontrei o que escrevi num dia que estava com dor de garganta e na tentativa de ilustrar como minhas amígdalas estavam... bom..... saiu isso........

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é...

Foto: João Luiz Pedrosa

Como bom tuiteiro tive a ideia de me humilhar um pouquinho mais e jogar isso nas minhas redes. E ai abri uma caixinha de outras pessoas que também desenterram seus diários do fundo da gaveta.

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O sentimento que eu tenho quando abro meus diários é uma mistura de vergonha alheia com saudosismo. É importante pra mim, lembrar todo esse processo que vivi quando era adolescente, dos amigos que se afastaram e dos que chegaram. De lembrar da forma como minha família lidava com tudo e dos dilemas que hoje me dão um quentinho no coração. Todo mundo deveria ter um diário.

Juntar memórias, desabafar em algumas páginas, guardar.. ou jogar fora no fim do ano pra não precisar lembrar mais. Pra mim foi importante a 10 anos atrás no auge da minha descoberta enquanto indivíduo no mundo, expor de alguma forma, algo que por medo em alguns momentos eu não conseguia dizer.

Acho que é isso, agora eu vou reviver os clássicos do pop de 2011/2012 enquanto leio sobre o dia em que fiquei com o menino que gostava, técnicas de matar a aula de educação física e quando decidi largar um curso técnico que fazia. 

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