Thelminha lança livro, fala sobre educação, racismo e carreira como apresentadora

Em entrevista exclusiva, vencedora do "BBB 20" diz que ainda tem muito a aprender.

BuzzShe

Thelma Regina Maria dos Santos Assis, mais conhecida como Thelminha, é uma médica anestesiologista, influenciadora digital, bailarina, passista de escola de samba, apresentadora de televisão e youtuber, que viu sua vida virar de ponta cabeça ao vencer o BBB 20. Mas para ela, apenas 3 meses de programa não foram suficientes para contar seu legado. Com a ajuda de Bianca Caballero, ela traçou um paralelo de histórias fora da casa com o período em que ficou confinada e colocou num livro. "Querer, Poder, Vencer.", traz lições, memórias e muito incentivo para os leitores em 248 páginas.

Reviver o passado nunca foi fácil, ainda mais quando há feridas abertas. Para contar um pouco de sua vida, Thelma emergiu em lembranças nada boas, mas muito importantes para sua trajetória. 

Foto: Thiago Bruno

"Foi um processo até por certas vezes doloroso porque eu tive que ir em pontos da minha vida que foram dolorosos, mas que já tinha ali a cicatriz. Estava ali, quietinho, a página virada, mas se em prol do livro, fiz questão de abrir essa caixinha, de mexer nessa cicatriz porque eu tenho certeza eu tenho uma grande expectativa de que essas dores podem servir de incentivo para muitas pessoas, mulheres brasileiras que às vezes também passaram ou estão por coisas que eu vivi né?", conta a aspirante a autora, que vê muita expectativa nessa nova jornada.


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A anestesiologista sempre frisa a importância da educação em sua vida. Durante o ensino fundamental e médio ela intercalou seus estudos entre escolas públicas e privadas, em ambas sempre era cobrada a tirar notas baixas, abaixo de 8 era inadmissível. Essa cobrança foi importante para que ela trilhasse o foco no futuro.

Foto: Thiago Bruno

"Que o quanto a educação é importante nas nossas vidas né? E o quanto a educação mudou a minha vida. Então no livro eu relato exatamente isso. Que houveram momentos da minha vida em que eu não tive uma educação de qualidade, coisa que deveria ser oferecida para todos os estudantes. Em alguns momentos eu fiquei meio que intercalando isso e lutando. Remando contra a maré pra poder sobreviver mesmo, pra fugir ali das estatísticas de me puxar por um destino que eu não queria seguir. Eu almejava coisas muito grandes pra minha vida, eu tinha desejos que se fosse olhar do meu ponto de partida pareciam ser impossíveis, mas que hoje, depois que eu vivi tudo e que eu vejo que eu consegui me empoderaram ainda mais pra conseguir ir atrás de de novos sonhos, de novos desejos e é isso que eu quero que as pessoas façam também."


Sobre a experiência de estar confinada e conviver com personalidades diferentes da sua, ela diz que o processo de amadurecimento do programa e o momento atual em que vivemos foram essenciais para a grande repercussão de sua edição.

"Os realities shows pegam pessoas que representam várias personalidades da sociedade e colocam lá dentro. Então a gente vive numa sociedade machista que vai eventualmente vai cair uns machista lá dentro. A gente vive numa sociedade racista, eventualmente vai cair um racista lá dentro. Pode não falar, verbalizar, mas durante tantos dias de confinamento não consegue esconder, a máscara cai, não consegue sustentar. E o que acontece? Eu acho que ao longo desses vinte e um anos de programa as pessoas foram caminhando mais para esse lado da identificação. E aí é lá dentro vai ter gente que vai se identificar com você aqui fora ou não. Uma coisa que eu acho muito legal é quando a gente se mostra humano lá dentro e erra. O impacto que traz pro público. De falar: "ah mas será que eu também não agiria dessa forma? Será que já não fiz isso uma vez na vida?". Jogue a primeira pedra quem nunca fez isso. Gera uma reflexão, uma pulguinha atrás da orelha de todo mundo"

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Sobre as conversas geradas, ela se diz orgulhosa, que são mais que necessárias e vê isso como um saldo positivo de sua participação.

"Acho que a gente está num momento de BBB e de reality show que a gente tenha que se orgulhar de ter participado, porque a gente tem impactado discussões relevantes na sociedade. Antigamente falava: "Ai que futilidade o BBB, nossa ex-BBB, nossa que vergonha". Tinha todo esse tabu, esse preconceito. Hoje em dia não! Eu tenho muito orgulho de ter feito parte dessa edição, ainda que aconteceu num momento tão sensível, que levantou tantas bandeiras e que acabou respingando na edição desse ano, que acabou tendo uma projeção maior ainda. Então se orgulhe que as edições continuem trazendo isso. Porque a sociedade precisa disso. Refletir e levar essas discussões para internet, que é um espaço onde a gente pode fazer isso de forma construtiva."

Após vencer o BBB, ela se viu numa posição até então inimaginável: a de influenciadora digital. Papel que leva muito a sério e sabe das responsabilidades que carrega. 

Foto: Thiago Bruno


"Me preocupo sempre em me associar com marcas que vão de encontro aos meus princípios, então eu já neguei trabalho com marca, que de repente, comeu uma uma outra bola atrás e não se retratou, porque também tem que ter toda essa consciência de que a marca é formada por várias pessoas, por vários funcionários. Mas é papel da marca se retratar, ter postura antirracista, contratar mulheres, pessoas pretas pra ter um núcleo. O seu quadro de funcionários diversificado, plural como a sociedade é, então eu me preocupo com tudo isso. Eu compartilho muito da minha vida, sempre com muita responsabilidade de qual mensagem eu estou passando por trás daquilo."

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Recentemente ela se aventurou como apresentadora. Comandando um talk show, Thelma abriu espaço para discussões com temas bastante atuais e convidados bastante especiais.

Foto: Dia Estúdio

"Traçando pautas pro "Triangulando", a gente sempre busca temas relevantes na sociedade que precisam ser debatidos. Eu sugeri: "Vamos falar sobre cancelamento? Vamos trazer a pessoa que mais foi cancelada no Brasil! Vamos falar sobre desigualdade social que está ainda mais exacerbada durante essa pandemia, então vamos trazer o ex-presidente Lula que foi um um cara que pautou a gestão dele política em programas sociais né?".

A ida do ex-presidente Lula (PT) à atração gerou um grande impacto na internet e conta com mais de 300 mil visualizações até o momento. O espaço que abriu para esse papo foi pautado em questões sociais e pluralidade. O resultado, para ela, foi mais que positivo.

"Eu sei que eu não sou jornalista, eu não tenho nem a linguagem jornalística para entrevistar um ex-presidente. Mas eu sei que sou uma cidadã, sou uma médica que trabalha dez anos no SUS, que foi pra linha de frente de Manaus durante a pandemia, que gosta de se comunicar, que é influenciadora digital, que recebe milhões de pedidos de cestas básicas no direct todos os dias porque tem gente passando fome. Eu sei de tudo isso, então eu sou essa pessoa que pode sim sentar diante de um ex-presidente e conversar com ele de uma forma inteligente. O Lula chegou com um papel na mão com vários dados, vários números. Estávamos ali conversando como se estivesse ali na sala, só faltou o café. Eu também trouxe uma mulher trans e um homem preto, porque é disso que a gente precisa, de representatividade no cenário político, então fiquei muito feliz com o resultado, de poder dar o passo conforme a perna, ter me preparado pra isso antes e ter gostado do resultado final."


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Sobre uma nova temporada, ela está disposta a falar com quem estiver disposto ao debate. Mesmo que seja o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (Sem Partido).

Foto: Dia Estúdio

"Eu convidaria se estivesse mais disposto ao diálogo. Acho que não sei se ele é essa pessoa que está tão disposta. Não é o que a gente tem visto nos últimos três anos, inclusive com os jornalistas que são as pessoas que trabalham diariamente para trazer informação correta. Mas eu acho que a gente tem que usar esse ambiente de internet para dialogar. A gente não tem que falar sobre política só às vésperas das eleições. A política interfere na minha vida, interfere na sua vida e na de todo mundo. Político tem que dialogar com a com o povo. Então eu convido as várias pessoas do cenário político desde que essas pessoas soubessem dialogar, mas para isso a pessoa tem que saber né? Não sei se nosso presidente está interessado em dialogar com com o povo."

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