Software secreto usado pela Abin pode ter sido usado por outros órgãos do governo

Empresa responsável pelo FirstMile, ferramenta usada para perseguir opositores por governos autoritários e envolvida em escândalos, tem outros contratos no Brasil, inclusive com o Exército.

Publicado por Ady Ferrer e Ananias Oliveira

No início da semana, o jornal O Globo noticiou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria utilizado um software da empresa Cognyte/Verint para monitorar pessoas por meio da geolocalização do celular. Aqui o link para a matéria na íntegra.

Mas o software pode fazer muito mais do que isso - e é utilizado, também, por outras pastas, como o Ministério da Defesa.

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Segundo o site da companhia, a Verint fornece softwares de captura e monitoramento de dados, aumentando a integração entre empresas e consumidores.

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Dos donos da Verint, surgiu a Cognyte, em 2021. A partir daí, as empresas passaram a dividir os focos de atuação: Verint focaria na relação empresa-consumidor e Cognyte avançaria com as atividades cibernéticas e de inteligência artificial.

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 Aqui link para matéria sobre o assunto no site CTech.

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Pelo menos desde 2014, a Verint/Cognyte é acusada de vender ferramentas que monitoram e roubam dados de telefones para governos, inclusive ditaduras.

O jornal The Washington Post publicou, em 2014, um documento vazado da empresa que mostra a venda do sistema SkyLock para governos. O SkyLock é um sistema que permite o rastreamento de celulares.

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Aqui link para matéria na íntegra.

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Em 2018, o jornal Haaretz noticiou que os sistemas da Verint estavam sendo utilizados pelos governos do Azerbaijão e da Indonésia para procurar “tendências sexuais” nas redes sociais e perseguir pessoas LGBTQIA+.

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Aqui link para a matéria na íntegra.

Foi descoberto, em janeiro desse ano, que a Cognyte venceu uma licitação para dispor equipamentos de segurança para o Exército de Mianmar, um mês antes do golpe militar no país, em fevereiro de 2021. A oposição afirma que seus líderes foram vigiados pela empresa. Leia aqui.

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No Brasil, a única representante legal da Verint/Cognyte é a Suntech S.A.

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A Suntech esteve envolvida na Operação Chabu, que prendeu o ex-prefeito de Florianópolis (SC), Gean Loureiro (sem partido), em 2019. O caso envolve vazamento de dados sigilosos de operações policiais em Santa Catarina.

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Aqui link para a matéria na íntegra.

Apontado como principal operador do esquema, o representante da Suntech José Augusto Alves também foi preso.

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Mas essa não foi a última vez que a empresa esteve envolvida em escândalos. Em 2020, a Polícia Federal apreendeu um equipamento de espionagem que seria utilizado pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Aqui link para a matéria na íntegra.

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A Suntech tem outros contratos com alguns Estados brasileiros. Por exemplo, a Secretaria de Segurança Público de São Paulo, tem um contrato para a compra do software WebInt.

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No site, a empresa afirma que o WebInt é capaz de vasculhar até mesmo dados da deep web.

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O WebInt também foi adquirido pelo Ministério da Justiça. A contratação foi feita em 31 de dezembro de 2018, último dia do governo de Michel Temer (MDB).

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Em 2021, a Polícia Rodoviária Federal adquiriu o WebInt e também teria promovido treinamento para uso da plataforma.

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No Ministério da Defesa, o primeiro contrato com a Verint foi assinado em 2012.

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O Ministério só foi atualizar o sistema em 2014 e depois em outros dois momentos em 2015. Todas as compras foram feitas pelo Exército por meio de uma comissão em Washington (EUA).

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É aí que entra um personagem já conhecido na política brasileira: segundo reportagem do UOL, o coronel da reserva Hélcio Bruno de Almeida foi representante da Suntech entre 2017 e 2020. 

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Aqui link para a matéria na íntegra.

Presidente do Instituto Força Brasil, o coronel foi convocado a prestar depoimento na CPI da Covid por suspeitas de irregularidades na compra da vacina da Covaxin. Ele teria intermediado uma reunião entre o governo federal e o lobista Luiz Paulo Domenghetti para a compra da Covaxin via Davati. 

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É a partir de 2018 que os contratos e as dispensas de licitação para atualização dos sistemas da Verint/Cognyte passam a ser mais frequentes no governo.

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Encontramos duas dispensas de licitação, assinadas em 2018, para a aquisição de "serviços e equipamentos para a área de inteligência" com a Suntech.

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Essas duas dispensas são para o uso da Agência Brasileira de Inteligência, que já estava subsidiada ao Gabinete de Segurança Institucional, sob o comando do General Sérgio Etchegoyen.

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Segundo a reportagem do jornal O Globo, o software adquirido em 2018 seria o FirstMile, dentro do Programa de Analise Investigativa da Cognyte.

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As informações encontradas indicam que o FirstMile é vendido em conjunto com o GI2. Segundo documento da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança, o sensor é nativo.

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Segundo o próprio documento da empresa, com o GI2 é possível até editar e redirecionar mensagens e ligações de forma passiva, além de ativar o microfone do celular do alvo de forma remota.

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Link para a página.

Em novembro de 2022, o Exército contratou um sistema de sensoriamento de frequências UHF, para ampliar o sistema da Cognyte, Orbis.

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A licença do uso desses softwares pelo Exército foi renovada em 20 de janeiro de 2023.

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