'Sob Pressão' é muito melhor que 'Grey's Anatomy' e aqui estão as provas

Dra. Carolina >>> Dra. Meredith.

Séries médicas não são um produto exatamente escasso. Só nesta lista da Wikipedia reuniram 483 delas… ainda assim, os fãs do gênero tendem a se concentrar em algumas poucas produções. De bate pronto? O milenial padrão só consegue falar sobre "Grey's Anatomy", os mais velhos lembram de "E.R.", e um novinho talvez solte um "The Good Doctor". Nenhuma dessas séries, no entanto, chega AOS PÉS do nosso tesouro nacional.

"Sob Pressão" dá um pau em qualquer uma dessas séries. E já passou a hora de aceitarmos isso.

1. A começar pelo hospital.

Divulgação / Globo

"Sob Pressão" não fala sobre hospitais genéricos que parecem ter menos germes do que a maioria dos restaurantes que já comemos. Não. As primeiras quatro temporadas da série se passam em um hospital público carioca.

Na prática, isso significa que as histórias não só servem para entreter, mas para denunciar a precariedade do sistema de saúde brasileiro. 

O hospital te faz pensar e se colocar na pele não só dos médicos, como dos pacientes. Ninguém quer aquela situação, então eles têm que se ajudar para tirar o melhor. Coloca no bolso qualquer cenário de série americana.

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2. A seriedade.

Divulgação / Globo

Eu sei que isso vai deixar muito fã irritado, mas vou escrever as próximas 8 palavras mesmo assim: não dá pra levar "Grey's Anatomy" a sério. Os caras matam médico como se o hospital estivesse na Westeros de "Game of Thrones". É óbvio que há espaço para séries mais leves, mas… caramba, a gente está falando sobre doenças. Pessoas morrem das mesmas coisas que acabam virando quase que piada nesses enlatados gringos. 

Em "Sob Pressão" cada morte importa, cada paciente é doído. O Dr. Evandro, nosso protagonista, fica completamente ensandecido quando alguém falece no plantão dele.  Afinal, são vidas. 

Se você pensar nisso, dá para terminar o episódio sendo uma pessoa melhor do que era antes de assisti-lo. Isso é absolutamente raro no mundo da TV.

3. A gambiarra.

Divulgação / Globo

Tão brasileira quanto a série é a capacidade do nosso povo de improvisar. No hospital sem equipamentos e suprimentos necessários, a equipe de Evandro precisa se virar para salvar as vidas que aparecem na sua frente. O protagonista não deve absolutamente nada pro Macgyver. 

"Pô, e a tal seriedade que você acabou de falar?". Essa é a melhor parte: as gambiarras nunca têm uma pegada cômica. Pelo contrário. O uso de bolinhas de pingue pongue, ou mangueiras - em plena cirurgia - é sempre acompanhado de desespero e revolta. Os médicos são bons apesar dos improvisos, e não por causa deles. Isso faz toda a diferença. 

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4. Problemas reais.

Divulgação / Globo

Puts, se sua mãe é uma cirurgiã respeitada e você vem de uma família riquíssima, ME DESCULPE, mas vai demorar bem mais para eu me solidarizar contigo. Olha a nossa vida, bicho. A gente rala pra conseguir pagar o botijão que custa R$130!!! 

"Sob Pressão" entrega dilemas reais não só para os brasileiros, como para todos os países que não vivem os dilemas da classe média americana. Não à toa, a série é um sucesso na Argentina e no Equador. 

5. Temas delicados abordados com maestria. 

Divulgação / Globo

Vou dar meu braço a torcer. Sempre me emociono com a cena da paciente vítima de agressão, passando por um corredor só com mulheres. "Grey's" é muito bom nisso também. A série brasileira, no entanto, consegue fazer isso com ainda mais elegância. Temas como abandono familiar, elitismo, vício e HIV são abordados não em uma, mas em uma constância de cenas marcantes que acabam até enfraquecendo umas às outras, de tão comuns que acabam sendo.

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6. Atuações.

Divulgação / Globo

Estou aqui falando que as interpretações de "Grey's" são ruins? Longe de mim. Sandra Oh precisa ralar muito para ser criticada por moi. Agora, tô dizendo que as de "Sob Pressão" são melhores? Sim. Eu estou com certeza dizendo isso. 

As performances de Julio Andrade e Marjorie Estiano nesta série estão fácil, fácil nas melhores atuações que você verá em algum tempo. O elenco parece que lê o script pelo fígado de tão visceral que é o resultado.

Por esse trabalho, inclusive, Marjorie foi indicada ao Emmy Internacional em 2019. Não levou, mas deveria.

7. Os capítulos sobre a Covid.

Reprodução / Globo.

Não teve neste planeta uma produção audiovisual que abordou tão bem o dilema médico da Covid quanto os dois capítulos especiais sobre a pandemia, lançados em 2020. Não teve. 

É essa a hora em que você revira os olhos, pensa que os meus argumentos não valem muito porque eu sou Mundinho Sob Pressão. Pois bem, mas eu estou falando a mais absoluta verdade.  

O frame que encerra o primeiro capítulo, que é esta fotona que você vê aí em cima, resume como poucas coisas o cansaço dos médicos, e do brasileiro médio, frente à pandemia. 

Mas os episódios são muito mais do que isso. Tanto os coadjuvantes quanto os protagonistas - mas em especial a trama - entregam nuances, dores e felicidades que nenhuma série gringa conseguiu até agora. 

É uma obra de arte que registra esse momento obscuro que estamos vivendo. 

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8. O 10º episódio da 3ª temporada. 

Reprodução / Globo

Antes da pandemia, no entanto, a série já havia conseguido marcar seu nome na história do audiovisual. 

Co-dirigido pela estrela do programa, Julio Andrade, o décimo episódio da terceira temporada é gravado em um plano sequência espetacular. 

Veja bem, não é gravada como se fosse em plano sequência. É, de fato, um plano-sequência. 

Para quem não está familiarizado com o termo, isto significa que o capítulo foi filmado sem cortes. Numa tomada só.

Por ser exibido na TV, o episódio teve que fazer três planos: um até a abertura, e outros dois que foram interrompidos pelos intervalos.

Nem Hollywood se atreve a fazer esse tipo de coisa. Filmes como "1917", ou "Birdman", por exemplo, simulam esse tipo de filmagem - mas estão repletos de cortes escondidos em cenas escuras. "Sob Pressão" fez pra valer. 

Não só a dificuldade técnica absurda do episódio é um destaque, como o roteiro que define o rumo de praticamente todos os personagens dali em diante. É um trabalho primoroso, que devia ser mostrado em faculdades de cinema do mundo todo.

9. É do Brasil!

Divulgação / Globo

Mais do que a união dos povos, a Olimpíada despertou essa competitividade quase bélica entre nações. E não sou eu que vou desprezar isso. 

O Brasil é um país gigante em todos os sentidos. Repleto de histórias pra contar, e com profissionais que fazem milagres tanto na frente quanto por trás das câmeras. 

É impossível não levar isso em conta na hora de uma análise. Mesmo com um conglomerado onipotente como a Globo, nós não temos bala pra gastar R$ 104 milhões em um único episódio, como rolava em "Grey's Anatomy". A gente faz bonito com muito menos. 

Ao mesmo tempo, nossas produções são chave para combater estereótipos e preconceitos que produtos gringos adoram reforçar. 

Eles são maiores, mas a gente é bom. E "Sob Pressão" tá aí pra provar isso.

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